A VIRTUDE DA ESPERA.
Por Carlos Sena


 
Esperar o namorado chegar de viagem. Esperar o dia de a formatura chegar. Esperar o sol se por para embalar sentimentos. Esperar, enfim, esperar.
A espera, independente do motivo se faz por si mesma. A ansiedade que, muitas vezes, não controlamos, se faz necessária para suportar o trajeto da espera que é deveras massacrante. Mesmo quando se espera o grande amor que vem da viagem dos seus sonhos nos buscar trazendo em sua bagagem promessas de eterno amor, a espera incomoda.
Um dia eu esperei o sol e ele não veio. Em seu lugar veio a chuva e eu saí dançando nela como se ela fosse o meu brinquedo inesperado. Molhei todas as minhas roupas, gripei e, no dia seguinte, que eu precisava de chuva, veio um maravilhoso sol desfilando pela janela do meu quarto... Então eu esperei a chuva e ela nunca mais voltou como naquele dia que eu esperei o sol...
A espera muitas vezes nos desespera e vira virtude. A virtude que se filtra nas agruras da vida e se transmuta em enlevo da alma enquanto a face oculta da vida não reaparece. A espera por uma injustiça ser corrigida custa muito. Pagar por coisas que não fizemos, por fatos que não instigamos por mentiras a nós atribuídas, por calúnias sobre nós levantadas, deixa-nos meio trucidadas, algo como morto em vida. Daí a necessidade do exercício da paciência, associada a resignação e ao exercício da fé. Por isto essa espera vira virtude, porque poucos conseguem suportar essa fase sem revide e esperando o dia incerto e hora, para que algum esclarecimento se estabeleça e a justiça se faça. Essa talvez seja a mais verdadeira de todas as esperas. Porque sem sabedoria não se lhe alcançam os resultados desejados, principalmente sem que se perca a outra virtude que é de permanecer doce e leve com a vida, apesar dos dissabores. Dom Helder costumava dizer que “há homens que são como cana. Por mais trucidados e moídos que sejam só sabem dar doçura”...
Um dia esperei a lua chegar lá no céu. Prometeram-me uma lua cheia, inteira para iluminar minhas ilusões perdidas. A lua inteira não veio. Nem aquela para quem meus sonhos sempre foram de meia. Meia lua não veio, então apaguei a luz e a escuridão se fez por completa sem que precisasse esperar por ela... Melhor assim, melhor assim... Sei não!