Reflexão Inocente

Na mídia, nessa primeira semana de agosto, os assuntos mais ventilados foram olimpíadas em Londres e o julgamento do “mensalão”, pelo Supremo Tribunal Federal.

As repetidas imagens das togas, consideradas imaculadas por meus avós, transportaram-me às reflexões, que acredito acontecerem com todos nós , quando crianças.

Em casa, nesse tempo da inocência, não existia rádio. Saboreava essa inovação tecnológica, quando ia à casa de meus inesquecíveis avôs.

Naquela época, já refletia e concluía sobre as incoerências daquele objeto fantástico, falante e sem ninguém escondido por detrás do mesmo, que jorravam incoerências sobre as compridas taboas da grande sala do casarão alugado, onde residiam essas duas doces lembranças.

Como é que num determinado momento, aquele misterioso aparelho afirmava ser “Eucalol” o melhor dos sabonetes, em outro momento dizia o mesmo do sabonete “Regina”, e num outro o mesmo do “Vale quanto pesa”? Alguma coisa havia de errado...

Não conseguia entender nem como aquele aparelho falava e muito menos as suas incoerências, que me faziam julgá-lo mentiroso.

Poucos anos depois entendemos como funcionava o telefone e o rádio e, só muito tempo depois chegamos à conclusão de que, não só essas pequenas incoerências, mas outras muito maiores e mais violentas decorriam e continuam decorrendo do arbítrio do semideus chamado “mercado”.

Acredito que doces lembranças nos banham e nos contagiam de inocência.

Da mesma forma, como há quase 70 anos, essa nossa inocência perdida pela erosão do tempo e de arbítrios de semideuses, como o mercado, refletiu, certamente, fez o mesmo no presente, sobre nosso processo judiciário, influenciada pelas repetidas imagens das “togas mensalonas”,.

E, contagiado pelo espírito observador e questionador infantil, enchi-me de perguntas: como podem essas togas reconhecidas como imaculadas por meus avôs e pais, defenderem homens que investidos para defenderem a “coisa pública”, em vez disso a assaltam? Como podem de forma exagerada e até carnavalesca, discursarem com a mesma estratégia, reconhecendo seus clientes, como criminosos, mas de um crime já prescrito pela morosidade do sistema judiciário? Como pode um sistema judiciário não estar voltado à busca da verdade? Como pode um sistema judiciário absolver “gigolôs” da viúva rica e carente de responsáveis, Brasil? Como pode um sistema judiciário renovar o passaporte e permitir a fuga de um médico que, utilizando-se de sua função e de sua bata, transformou-se num estuprador em série?

A ansiedade do adulto interrompe esse rosário de perguntas da inocente criança, para tentar responder-lhe.

Tudo isso ocorre por causa da própria concepção do sistema, que é voltado para a acumulação de poder, lucros, bens, privilégios, oportunidades... Minha inocente criança, para perceberes essa realidade, basta observar que quase 90% dos bens privados do planeta pertencem a, aproximadamente, 250 famílias.

Da mesma forma e não poderia ser diferente, o conjunto de leis está voltado para a realização da concepção do sistema. Mesmo, quando o sistema judiciário propala que está agindo em defesa da lei, tem consciência de que não está buscando nem verdade e nem justiça.

Por outro lado a concepção do sistema é desfigurada por nós, seus executores. Certamente, a concepção do sistema capitalista não contempla os exageros em selvageria de como foi e é implementado. Tudo isso ocorre e é reflexo do nível evolutivo que alcançamos, ou de nosso estado de consciência.

Não foi por acaso, minha inocente criança, que, o Cristo, Jesus, deixou bem claro o novo patamar evolutivo da humanidade: “AMA O PRÓXIMO COMO A TI MESMO”. Também, não foi por acaso, que numa de suas lindas metáforas, deixou claro que deverias continuar acreditando no teu pensar inocente: “VINDE A MIM AS CRIANCINHAS”.

Ao mesmo tempo, que concluía essa reflexão inocente, enchi o coração de esperanças que dias virão em que esse homem criancinha, amante do próximo como a si mesmo, conceberá um novo sistema e o implementará sem desvios. Um sistema voltado para a evolução do homem, para torná-lo sábio, capaz de amar e de viver em harmonia com as leis da natureza.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 14/08/2012
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