Sem presente para o meu pai

Como amanhã é Dia dos Pais e eu, às turras com o dinheiro (mero eufemismo para representar o desemprego), certamente não comprarei um presente digno para o meu pai. Então, resolvi escrever um texto para homenageá-lo.

Pensei em escrever sobre como eu o admiro, sobre o quanto eu quero ser como ele. Digno, honesto, trabalhador e muito sábio, apesar de todas as dificuldades que ele enfrenta.

Contudo, essas coisas sempre são ditas no Dia dos Pais. Além do mais, ele já está “careca” de saber de tudo isso. Não tenho barreiras emocionais com as pessoas que amo. Mas acredito que se eu mais uma vez disser tudo isso a ele, é capaz com que ele me saia com essa:

- Tudo bem, meu filho. Você sempre me diz isso. Eu já entendi. Pare com essa idolatria. Ás vezes, eu tenho medo de você.

Bom, é claro que ele não diria isso. Pelo menos, sóbrio.

Acredito que meu pai é um tipo de pai padrão fisicamente. Barriguinha de Chopp, estatura média, calvície acentuada pela idade (56) e uma barbicha cerrada.

Como podem notar não amo meu pai pelo o que ele é fisicamente, ou pelo o que ele se tornou, melhor dizendo, - afinal, o amor é cego, com o perdão do trocadilho infame - mas sim pelo melhor sentimento que ele desperta em mim: a alegria. Mesmo que involuntariamente. E nisso meu pai é expert.

Quando ele toma um pileque, é um show de humor. Bastam umas dez cervejas para ele ficar embriagado. Corre logo pra pegar uma camisa jeans azul claro, calça jeans, também, azul claro, vassoura na mão 45 graus à direita e, claro, colocar no aparelho DVD um CD qualquer do Roberto Carlos. A cantoria rola solta.

Meu pai tem todos os tipos de CDs e DVDs do Rei da Jovem Guarda. “Elas cantam Roberto; Roberto Carlos Emoções Sertanejas; Roberto Carlos em Jerusalém; Roberto Carlos Românticas; Roberto Carlos Flautas”, etc. Costumo dizer que se ele conseguir encontrar um CD “Cachorros latem Roberto”, eu arranjo para ele um encontro com o Rei.

Com exceção do devaneio do pileque, meu pai é um senhor tranquilo. Tranquilo até demais. Quando em casa, só quer saber de dormir. E dormir com a tevê ligada.

Ele pode ficar dormindo durante horas com o televisor ligado. Ah! Mas se alguém aparecer para desligar a tevê... Como um soldado pego dormindo na guarita, ele levanta e prontamente se põe a dizer, na maior cara de pau, que estava assistindo a programação.

Se eu pudesse dar um presenta ao meu pai, daria uma caricatura dele feita por Ziraldo, pois é assim, porém, que eu o vejo. Caricato, alegre, exagerado, o melhor que ele pode ser.

E toda vez que eu a olhasse, abriria um sorriso espontâneo. Dessa forma, eu o levaria comigo, representado com humor. Talvez, como ele queira ser lembrado. E, a partir da alegria do humor, eu o escreveria e reescreveria para todo o sempre.

Paulo Marinho Junior
Enviado por Paulo Marinho Junior em 12/08/2012
Reeditado em 12/08/2012
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