Vazia

- Bom seria mesmo se eu fosse vazia!

-Vazia?- Indaguei, surpresa pelo comentário.

- É não sentir nada...

- Que? Isso não existe

- Eu sei, mas a vida seria mais fácil, não acha?

Ela passou a mão no cabelo e olhou para mim, percebi seus olhos pesados e tristes, algo a perturbava.

- Não, não é só dele que me refiro.

-Não pensei nisso!- e realmente não tinha pensado.

-... Ele é só parte disso... É que às vezes tudo, mas tudo mesmo fica pesado.

- Acho que entendo.

- Não consigo exteriorizar. Ontem sai com o pessoal, e não foi mais a mesma coisa... Não me divertir, as coisas pareciam não ter mais sentido.

- hã? Como não se divertiu? Você adora sair com eles

- Superficial demais, quero dizer, foi divertido, mas não como antes... Não me saciou ainda me sentia desanimada...

-Ah. É porque ele não estava lá... Você anda toda apaixonadinha !!

Disse enquanto ria e piscava o olho para ela só que minha tentativa de alegra-la e fazer melhorar o assunto não deu certo .

-ELE, ELE ,ELE ... Já não basta ele estar na minha cabeça dia e noite e você ainda me vem falar dele...

- Calma só disse por que pensei que ele te deixasse bem...

- Ultimamente tenho sentido mais medo do que tudo...

- Medo?

- É tenho medo dele, do poder que tem sobre mim, qualquer coisa que ele fizer pode acabar com tudo.

- Ora que exagero, que drama.

- Não... Eu te digo é fácil pra você pensar assim, “draminha e exagero seu”, mas se fosse com você, se visse as coisas como eu vejo, se sentisse da forma que eu sinto...

- Como você sente?– retruquei de maneira irônica.

- Intensamente – ela soltou o ar – tudo de maneira tão profunda e pesada, que às vezes temo ir além... Além do que posso aguentar.

Cada palavra daquilo que ela ia dizendo, escorregava da sua boca e cai em meus ouvidos e trazia um pouco do sentimento que a perturbava. Senti um arrepio. Se aquele pouco que as palavras traziam já causava esse efeito, imagine sentir tudo aquilo.

Ela começou a chorar.

Lagrimas caiam, rolavam pelo o rosto, mas sua mão rapidamente enxugando para impedir.

- O que houve?

- Nada além do normal... Mas às vezes há um conflito dentro de mim. É difícil. Às vezes está tudo bem, às vezes não. Essas mudanças, penso que devem me causar esse mal.

- Existir é difícil eu sei, mas não deve se desesperar dessa forma.

- Sou descontrolada.

- Não , não é . Só está assustada. As coisas estão mudando, eu também estou sentindo.

- O pesar?

- Não, as mudanças.

- ah...

- Por quê? O pesar?

- ah eu não quero ser a única a se sentir dessa forma, ter uma intensidade tão grande no peito.

- Calma.

Eu a abracei. Queria poder fazer algo. Era da idade aquela confusão toda, não tinha o que fazer. Porém quando a abracei, me surpreendi.

Ao segura-la percebi, algo pulsava dentro dela

Ela pulsava intensamente.

Deveria ser muito difícil aguentar, carregar... Conviver com aquilo.

E eu não podia fazer nada... E ela pulsava e chorava em meus braços.

Mariana Lopes
Enviado por Mariana Lopes em 05/08/2012
Código do texto: T3815667
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