UM HOMEM COM HISTÓRIA

Até há uns dois minutos eu andava preocupado com a protuberância da minha íntima e nativa barriga. Protuberância gradativa é verdade, mas adquirida com meu total consentimento. Aos poucos as camisas foram ficando arredondadas, os retrovisores dos carros foram diminuindo e substituídos pelas vitrines das lojas para “aquela” olhadinha de perfil.

Fui percebendo que, com a idade, a gente começa a crescer para frente e para os lados. É inevitável isso. Talvez esteja ocorrendo um fenômeno “demográfico” com as cadeiras, elas estão por todos os lugares e a gente acaba passando grande parte do dia sentados; as escadas rolantes estão por toda a parte. Alguém imaginar, há algumas décadas, que até nas estações da antiga “RFFSA” haveria escadas rolantes, seria o mesmo que acreditar em Chat, MSN e Educação à Distância.

Mas o fato é que a barriga continua querendo aparecer mais do que os diálogos quando começo a filosofar sobre a existência. Se bem que ando filosofando muito ultimamente e, quase sempre, na companhia de um copo e dos amigos. Se o perímetro abdominal fosse referência no estudo da filosofia, haveria disciplina cursada dentro do botequim.

Eu disse que estava preocupado com o evolução da barriga, mas já não estou, porque ouvi meus vizinhos discutindo sobre imposto de renda. Se eu fosse pagar imposto pela aquisição de barriga, estava ferrado e o governo saltitante. O contador teria que incluir a barriga como bem “imóvel”? E como seria minha barriga caindo na malha fina? Minha barriga, portanto, é indeclarável, quer dizer, era até a dois minutos.

Pois é, filosofando vou construindo a minha pedra “filosofal” e , aos poucos, vou entendendo que um homem sem barriga é um homem culturalmente vazio, sem história.

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 02/08/2012
Código do texto: T3809526
Classificação de conteúdo: seguro