A Utopia da Verdade

A Utopia da Verdade

Mentir ou criar ilusões? A mentira é só o escape de uma verdade punitiva, dolorosa ou preconceituosa. Aliás, todas estas são amargamente punitivas.

A mentira e a ilusão se medem, assim como a verdade – grandes mentiras, grandes verdades, grandes ilusões.

Embora a comparação entre a mentira e a ilusão seja feita de maneira similar, a ilusão é aceita como uma mentira, vamos dizer, aceitável.

Ter ilusões é um modo de mentir “aceitável”. A ilusão é uma verdade que não aceitamos de imediato. Procastinamos sua aceitação, acreditamos que seria bom se fosse verdade, mas não admitimos por preconceitos ou arrogância ou ignorância. É o sofrimento adiado.

Fazemos testes de simulação com um caso prático para resolver. Ser humano ou desumano. Selecionamos e somos selecionados. Somos escolhidos e escolhemos. Discriminamos e somos discriminados. Somos carne e unha, ou só carne. Nunca só unha. Nosso corpo produz sons, o corpo dos outros não podem – são mal educados.

Acreditamos no que acreditamos, os outros acreditam em outras coisas.

Temos nossos anjos, os outros, outros anjos. Somos os melhores no que sabemos fazer, principalmente quando somos os donos do negócio em questão, ou donos da questão do negócio. E invejamos aqueles que imaginamos ser melhores.

Pensando bem, não mentimos - adiamos nossa credibilidade naquilo que não somos bons – afinal, fomos condicionados desde feto (certeza de vida), a sermos “perfeitos” em todos os sentidos. Crescemos instruídos a infalibilidade. Crescemos, na mentira ou na ilusão – tanto faz -, de sermos perfeitos.

Nas relações, somos apenas animais racionais. Assim como na convivência. Os animais irracionais, só se relacionam com aqueles em que a convivência seja harmônica e vantajosa para ambos. Quando predador e presa se encontram, só vai haver embate se alguém estiver carente – geralmente o predador. E lutam, quando é o caso, sem se entregar, até a capitulação de um ou da desistência de outro. São quadros definidos, sem mentiras, sem simulações.

Os racionais se relacionam com tudo e com todos, entra em embates – lances adversos do destino, segundo o Aurélio – e combates, com objetivos vagos e de que os próprios beligerantes duvidam, mas que é preciso, para se afirmar a que vieram.

É a mentira de uma ilusão. A verdade de uma prerrogativa.

meb

20junho2003