Clarice Lispector também falou de moda 
 

 


Certa vez li algumas notas sobre crônicas de Clarice Lispector publicadas em jornal, eram de assuntos femininos. Achei interessante uma pessoa como ela falar de moda, afinal era mulher. Seus conselhos, vindos de alguém elegante, continuam válidos. Ela citava o azul-marinho com enfeites brancos, que é elegante mesmo e esteve na moda durante muito tempo. Falava também da tristeza do cinza, cor de velhos... É que naquela época muitas vovós usavam taieres desta cor. Mas como hoje fazemos combinações com tons vivos, uma peça cinza ajuda, vai bem com quase tudo. Adoro cinza com rosa salmão. Se a pessoa for bem velhinha, uma peça de tonalidade mais viva alegra, tira aquele ar de palidez que os cabelos brancos acentuam. Quando eu passava baton rosado em minha mãe, com oitenta e oito anos, ela mudava de cara. Rejuvenescia.
 
Hoje não tem mais essa história de que não se pode usar determinadas cores. Sou sessentona e adoro o vermelho. Fica bem pra mim, não estou nem aí. Só não esqueço o que meu tio Janjão dizia ao ver alguém usando essa cor: “Aonde vai assim, vestido de coisa ruim?”
 
Lembro de uma colega de trabalho que todos os dias, logo de manhã, soltava coisas engraçadas sobre a roupa dos outros. “Olha ela de azul, branco e vermelho (bleu/blanc/rouge), as cores da França!” Ou então “Vocês viram que o diretor está de terninho alface?”... Um dia fui de saia azul-marinho, pregueada, e ela não perdoou: “Hoje a Bia virou colegial”. E todo mundo riu. Se alguém fosse de botas, ela perguntava logo: “deixou o cavalo lá fora?”...
 
Ao me arrumar eu sempre pensava num jeito de escolher roupas que não chamassem a sua atenção. Então, uma vez fui para a escola vestida de preto da cabeça aos pés. Calça comprida, blusa, malha, sapatos, tudo negro. Imaginava que desse modo não ouviria comentário algum.
 
Mas não deu outra. Assim que entrei na sala ela falou bem alto: Nossa! Chegou o Zorro! Só falta a máscara...