Em busca da liberdade
É interessante como o ser humano vive sua vida inteira em busca de liberdade. Desde sempre, quer ser livre. Desimpedido. Busca incessantemente o seu direito de ir e vir e poder fazer o que bem entender. Mas, nem sempre consegue. Pra falar a verdade quase nunca.
Vejamos:
Desde muito jovem, ainda criança de colo, o ser humano sonha em ser livre. No colo da mãe, ao ver os meninos maiores correndo pela casa, sonha, em um dia poder se livrar daqueles braços, afetuosos claro, e se jogar no chão. Correr por entre os cômodos. Explorar a casa toda com seus brinquedos. Esconder da mamãe. Puxar os pelos do preguiçoso do gato. Enfim, sonha em ser livre para fazer o que quiser.
Os dias vão passando, e logo, ele esta ali, andando para cima e para baixo. Espalhando seus brinquedos pela casa. Quebrando alguns objetos do papai. Enfim o grande dia chegou e ele, agora, pode fazer o que quiser. É quando percebe que, aquele mundo em que vive é muito pequeno e as crianças que outrora corriam pela casa, agora, correm na rua. Andam de bicicleta. Jogam futebol. Sobem nas arvores. Tem uma gama de atividades, muito mais legais do que aquela de ficar o tempo todo dentro de casa sendo policiado pelos adultos.
Decepcionado com suas limitações, ele passa a sonhar com o dia em que poderá fazer como as outras crianças, e poder brincar sozinho na rua. Poder brincar de bola, de pique esconde, pega-pega...
O tempo urge, e, passa. Logo lá está ele correndo pelas ruas do bairro. Jogando futebol no campinho. Soltando pipa. Realizando, enfim, o seu sonho de liberdade. Não precisa mais ser policiado o tempo todo pelos pais ou irmãos mais velhos. Agora, ele sai de casa de bicicleta, sozinho, e percorre todo o bairro. Brinca com os amigos e até paquera.
Mas, a tão esperada liberdade, mais uma vez o decepciona, mostrando-se, mais uma vez limitada. Ele quer sair à noite. Ir ao shopping. Ao cinema. Namorar. Não quer mais assistir as matines. Ou ser levado para as festas pelos pais. Ele quer sua liberdade definitiva.
Na adolescência sente um pouco da liberdade que tanto anseia. Pode sair de dia ou de noite. Não precisa mais assistir as matinês. Vai às festas sozinho. Mas, mesmo assim, tem sua liberdade vigiada. Têm horários para cumprir, ou o castigo é severo. Tem que comunicar aonde vai e com quem vai. E, nem sempre é atendido.
Mas, como quem espera sempre alcança, felizmente, chega a idade adulta. E com isso, a tão sonhada liberdade. Sai quando quer. Volta quando quer. Vive em festas. Bailes. Danceterias. Curte a vida.
De repente, percebe que falta algo. Percebe que, para conseguir tudo o que anseia e ser definitivamente livre ele precisa se formar. Precisa de um bom trabalho. Um bom salário. Afinal, querendo ou não, esta liberdade é cara. Precisa de um carrão. Potente. Equipado. Precisa de uma casa só para si. Só assim, será totalmente liberto. Só assim, será feliz. Definitivamente feliz.
Então, ele estuda e se qualifica. Arruma um bom emprego. Logo, compra um carrão. Da uma boa entrada para comprar sua casa.
Agora, está livre.
Agora, está feliz.
Agora, tem tudo o que sempre sonhou.
Então...
Então ele se apaixona.
E...
E tudo volta a estaca zero.
Marc Souz
Escritor