Guaragi: histórias de Dona Rosinha - 2ª parte
Por que não aprendi ler
Quando menina sempre desejei ir para a escola. Estive na escola por alguns dias. Certa vez procurei meu pai, um gaúcho bravo que migrou de Passo Fundo (RS) para o Paraná quando estourou a Revolução de Gumercindo Saraiva no Rio Grande do Sul. Quase apanhei com um pedaço de pau, costume comum naquela época. Meu pai me mandou calar a boca, dizendo que minha escola seria a roça, carpindo, roçando e plantando. Não havia jeito. Ou deixava a escola e teria um lar ou estudava e seria expulsa e daí não sei o que seria de mim. Fiquei em casa e me dediquei ao trabalho da lavoura. Fui proibida de estudar e até hoje, com meus noventa anos, sinto falta da escola. Já adulta e mãe tentei estudar, mas nos projetos de educação de adultos que participei, eles não tiveram continuidade. No primeiro, as aulas eram nas salas de uma escola de ensino fundamental e a Diretora implicava com todas as professoras da educação de jovens e adultos. Todas estas professoras desistiram, não suportaram as perseguições. As melhores aulas, já consequia escrever alguma coisa no quadro, foram as que o Padre Roque Zimmerman ministrava na UEPG. Ele ensinava bem e tinha paciência com os adultos. De repente, sua mãe faleceu e ele precisou voltar ao Rio Grande do Sul cuidar dos bens dela e as aulas deixaram de acontecer.
(Depoimento de Rosa Alves da Cruz)