Escolhas


Quando publiquei Uma simples questão de Fé recebi um comentário que me deixou encafifada: minha amiga Ângela dizia que Fé era uma questão de escolha e eu imediatamente não concordei. Pensei: como ela pode dizer isso, que Fé é escolha? Fé para mim era uma certeza inabalável provocada por um conjunto de vivências no decorrer da existência. Mas depois fiquei pensando – por mais Fé que se tenha ainda não foi possível a nenhum ser humano ter certeza absoluta de como é o lado de lá, explicar os mistérios da vida e da morte. Então a gente que sabe com certeza que existe um Poder Criador acaba escolhe o modo como quer acreditar nele. Então Fé sim, é uma questão de escolha.

Nasci católica, mas nunca achei graça em morrer e ir para o Céu, porque purgatório e inferno eu descartei de cara. Nunca haveria de fazer maldades tão grandes que me levassem para lá. Ficar eternamente na Contemplação de Deus também não faz parte de minha natureza. Então escolhi um jeito todo meu de ter Fé. E é esse jeito que faz com que eu não tema a Morte e também consiga agüentar com serenidade a morte das pessoas que amo. Dentro de meu coração eu sei que elas apenas mudaram de Plano.

Hoje morreu uma pessoa muito especial em minha vida. Estou triste? Estou, muito. Mas não sem esperança. Eu sei que o que aconteceu hoje foi apenas a Passagem. Eu sei que quando chegar do lado de lá, ele certamente ficará muito confuso. Ficará assim até se acostumar porque ele amava muito essa vida aqui. Uma vida em que foi Vencedor. Conquistou com sua inteligência e sua tenacidade uma boa vida. Formou uma família harmoniosa que ficou ao seu lado incansavelmente em todos os momentos, nos bons e nos maus. Foi amado, é amado, será sempre amado. E certamente terá muita gente no Plano Superior, esperando para ajudá-lo nessa adaptação. E entre todas essas pessoas vou destacar duas em especial. Nossa Avó e nosso Tio.
 
Vi na internet uma foto que achei linda: um menino e uma menina bem pequenos, estão juntos, em atitude de carinho. O menino diz algo como Amo você. A menina pergunta: como gente grande? O menino responde: Não, de verdade.

Eu amei muitas pessoas assim, em minha vida. De verdade. Amei? Não, de acordo com a Fé que escolhi, eu amo. Não importa em que Plano essas pessoas estejam. Eu as amarei sempre. De verdade.

Minha avó, meu tio e meu primo foram pessoas muito importantes em minha vida, principalmente nos primeiros anos dela. Eu costumo dizer que não tive amigas de infância, tive amigos: meu tio e meu primo. Minha avó foi a primeira a fazer a Passagem e eu ainda sem a Fé escolhida tentei ignorar a sua ida para o Plano Superior. Ela não deixou – visitava-me continuamente na calada da noite. Uma vez, sentou-se ao meu lado, no sofá. Outra vez, acordei com ela assentada em minha cama, olhando para mim. Em várias casas que morei eu a percebia parada junto à quina da mesa da sala de jantar. Às vezes, eu não tenho notícias dela por muito tempo, mas faz pouco tempo que ela esteve aqui em minha casa, uma sombra amiga e serena. Ficou por dias, mas de repente, não estava mais. Depois, meu tio de cabelos de fogo, também fez a Passagem. E aqui é preciso que eu diga a verdade – Fiquei dois anos agoniados, sentindo sua presença e não era uma presença boa. Ele foi de repente deixando para trás uma família em formação. Ele se sentia desesperado e sozinho e não conseguia aceitar a nova situação. Tive que buscar ajuda para nós e ainda bem que conseguimos. Agora já consigo vê-lo rindo, coisa que não acontecia antes. E hoje, foi meu primo que fez a Passagem e eu nem fui lhe dizer adeus. Não é preciso. Foi apenas uma pequena mudança de Plano. E agora é esperar a minha vez de partir. Sem temor. Pra que ter medo se tenho tanta gente boa de lá a minha espera?