CIDADE MARAVILHOSA NÃO, CIDADE HORROROSA!!
NÃO fomos surpreendidos anteontem, quando quatro va-
gabundos arrastaram o corpo do menino João de seis anos,por
sete quilômetros de ruas, sem que se deparassem com qual -
quer tipo de polícia: estadual, federal ou a tal Força Na -
cional ( que veio ao Rio, para botar prá quebrar).
Digo que não fomos surpreendidos, porque afinal so -
mos "gado" e gado não se surpreende. No máximo se horroriza
e esquece, até o próximo horror. Depois nos resignamos a -
poiados pelas lorotas e blá,blá,blá das autoridades.
Porém o fato é que a carnificina é recorrente, so -
bretudo aqui no Rio, acontece a todo momento diante de
nossos olhos e da nulidade que é o Estado Brasileiro.
Nós, o gado, estamos aí para isso mesmo: Sermos sa -
crificados. O tipo de sacrifício é que depende da escolha
de nosso funesto algoz de ocasião. Em nosso país, verdejam
dois tipos de algozes: o algoz público e o algoz privado.
O algoz privado infesta as cidades. Seu fito é nos
tomar à força, o quê o algoz público ainda não nos espoli -
ou por decreto. Por isto, nos sacrificam a tiros nos sinais
de trânsito, nas escolas, em nossas próprias residências.
O algoz público infesta nossas vidas. Possue cartei-
rinha quente, mandado e mandato do Estado. Manuseia enor -
mes quantias do Tesouro, a seu bel-prazer. Seu fito é fazer
negociatas bilionárias e engordar seus vencimentos, com os
imensos tributos que arranca de nosso suor.Comumente nos sacrificam através dos hospitais públicos sem recursos,das
estradas esburacadas, nas filas do INPS, quando não nos
entregam de bandeja aos algozes privados. Por fim, nos man-
têm cada vez mais gado, degradando o ensino público.
O algoz público e privado, guardam certas semelhan-
ças: ambos são vagabundos e covardes. Esperam que voce, ga-
do, tenha um mínimo de dignidade na hora do sacrifício. Ñão
vá aprontar nenhuma presepada na hora que os algozes forem
lhe subtrair as calças ou a sua vida. Isto só daria mais
trabalho aos nossos intrépidos carrascos.
Ando me desgarrando do rebanho. Sou uma rês indigna-
da, chutei o balde da resignação e espero com alguma espe -
rança, que cada cabeça de nossa manada possa mugir forte,
levante os olhos de sua fração de capim e estoure em dispa-
rada com os chifres apontadas para as bundas dos algozes
públicos e privados.
O menino João, não era gado, era um cidadão brasi -
leiro, que o "Estado" transformará num simples número.Mais
um e a soma só cresce, a vergonha também e que vergonha!!
BARCEL FERREIRA.