Crise de relacionamento
Estou vivendo uma crise em meu relacionamento.
Não, não é em meu relacionamento com meu marido. Esse vai muito bem, graças a Deus e ao meu esforço diário para ser uma boa esposa.
Estou em crise com meu computador. Tudo nele me aborrece, principalmente o revisor de texto do World.
Há algum tempo houve uma mudança nas regras de ortografia da Língua Portuguesa, mas essa novidade não chegou ao conhecimento de meu equipamento. A culpa não é dele, eu reconheço, pois o coitado é de um modelo antigo, obedece a um sistema operacional defasado, que quase ninguém utiliza mais, portanto, não foi programado para isso. Compreendo e tenho a maior boa vontade em lhe ensinar algumas regrinhas que aprendi. O problema é que ele é teimoso e eu detesto teimosia.
Já cansei de dizer para ele que o trema caiu, mas ele insiste em colocar o sinal nas palavras. Eu repito mil vezes para não colocar, mas ele coloca. Como posso ficar tranqüila? (Olha o trema aí, gente!). Às vezes digito uma página inteirinha, faço a correção toda, clico em ignorar regra e, quando vejo, lá está a palavra de novo sublinhada em vermelho indicando erro. Isso me deixa irritada!
O mesmo acontece em relação ao hífen. Existem algumas palavras que não são mais escritas com hífen como, por exemplo, autossuficiente (ó, já sublinhou aqui outra vez), mas ele não aceita. Em palavras que o hífen deve estar presente, ele não coloca.
Tento trocar uma ideia com ele (sem acento) e explico: “Meu amigo, essa palavra tem um ditongo aberto, não é mais acentuada!”- mas ele não acredita.
Na realidade, acho mesmo que minha paixão acabou. Não tenho mais aquele encantamento dos primeiros anos (e põe anos nisso) e aí, quando a gente perde o encantamento, começa a perceber os defeitos. A aparência dele está horrível! O monitor é “gordo” (quem dera a tela fosse plana e LCD), é de um cinza desbotado (os pretinhos são mais charmosos), sua tela me cansa a vista. Não sinto mais prazer em tocá-lo, não tenho vontade de estar com ele o tempo todo como antigamente. Mas, quando preciso, finjo que estou feliz e satisfaço a necessidade do momento. Depois me odeio, sinto até nojo, e juro que não vou me submeter mais a essa situação.
O clima entre nós está ficando insustentável! Acho que nosso caso não tem mais jeito. Talvez o divórcio seja mesmo a melhor saída. Ainda mais com os preços tentadores que as lojas andam anunciando para os novos equipamentos e com prestações a perder de vista. Modelos lindos, em 3D, com tantos recursos, que é de deixar qualquer um apaixonado. Outro dia, por exemplo, parei em frente a uma loja onde vi um notebook com as seguintes especificações: Intel core i5 2410M (2.30 GHz), Windows 7 Home Premium 64 bits, Memória de 4GB DDR3, HD de 500 GB, Placa Gráfica NVídia Geforce GT520M de 1GB dedicada, Leitor de Cartões, DVD-RW, WiFi e Bluetooth, Webcam. Fiquei enlouquecida! Ele é lindo! Sabe, parecia que ele estava me olhando e dizendo: “me leva pra sua casa, vai!”. Passei o resto do dia com sua imagem em minha cabeça. Mas eu não podia fazer uma coisa dessas, começar um novo relacionamento sem terminar com o outro. Mas fiquei “viajando” na ideia de como seria bom se a gente ficasse junto. Para dizer a verdade, eu nem sei o que é tudo isso que ele tem, mas com o tempo a gente vai se conhecendo melhor.
Eu juro que não queria que fosse assim. Fico muito triste em ter que deixar meu equipamento, afinal, já tivemos muitos momentos felizes juntos, já contamos tantas histórias, construímos tantos textos, fizemos tantas tabelas. Com ele aprendi tanta coisa, eu que era uma “analfabeta digital”. Nossa parceria deu muito certo durante alguns anos, mas não dá mais. Estamos ambos desgastados e cansados um do outro.
Também não posso continuar admitindo que “alguém” com quem eu já tenha tanto tempo de convivência, não reconheça nem o meu nome. Isso é humilhante! Todas as vezes que digito meu nome, ele vem e sublinha com aquela linhazinha vermelha irritante. Chega!
Mas a vida é assim mesmo. Como dizia o poeta: “que seja eterno enquanto dure”. Assim, tanto no relacionamento entre seres humanos como no relacionamento entre o homem e sua máquina, a fila anda. Se o parceiro não está mais fazendo feliz, melhor procurar um novo amor, ou, comprar um novo computador.
Jorgenete Coelho
Valença-RJ, junho/2012.
Estou vivendo uma crise em meu relacionamento.
Não, não é em meu relacionamento com meu marido. Esse vai muito bem, graças a Deus e ao meu esforço diário para ser uma boa esposa.
Estou em crise com meu computador. Tudo nele me aborrece, principalmente o revisor de texto do World.
Há algum tempo houve uma mudança nas regras de ortografia da Língua Portuguesa, mas essa novidade não chegou ao conhecimento de meu equipamento. A culpa não é dele, eu reconheço, pois o coitado é de um modelo antigo, obedece a um sistema operacional defasado, que quase ninguém utiliza mais, portanto, não foi programado para isso. Compreendo e tenho a maior boa vontade em lhe ensinar algumas regrinhas que aprendi. O problema é que ele é teimoso e eu detesto teimosia.
Já cansei de dizer para ele que o trema caiu, mas ele insiste em colocar o sinal nas palavras. Eu repito mil vezes para não colocar, mas ele coloca. Como posso ficar tranqüila? (Olha o trema aí, gente!). Às vezes digito uma página inteirinha, faço a correção toda, clico em ignorar regra e, quando vejo, lá está a palavra de novo sublinhada em vermelho indicando erro. Isso me deixa irritada!
O mesmo acontece em relação ao hífen. Existem algumas palavras que não são mais escritas com hífen como, por exemplo, autossuficiente (ó, já sublinhou aqui outra vez), mas ele não aceita. Em palavras que o hífen deve estar presente, ele não coloca.
Tento trocar uma ideia com ele (sem acento) e explico: “Meu amigo, essa palavra tem um ditongo aberto, não é mais acentuada!”- mas ele não acredita.
Na realidade, acho mesmo que minha paixão acabou. Não tenho mais aquele encantamento dos primeiros anos (e põe anos nisso) e aí, quando a gente perde o encantamento, começa a perceber os defeitos. A aparência dele está horrível! O monitor é “gordo” (quem dera a tela fosse plana e LCD), é de um cinza desbotado (os pretinhos são mais charmosos), sua tela me cansa a vista. Não sinto mais prazer em tocá-lo, não tenho vontade de estar com ele o tempo todo como antigamente. Mas, quando preciso, finjo que estou feliz e satisfaço a necessidade do momento. Depois me odeio, sinto até nojo, e juro que não vou me submeter mais a essa situação.
O clima entre nós está ficando insustentável! Acho que nosso caso não tem mais jeito. Talvez o divórcio seja mesmo a melhor saída. Ainda mais com os preços tentadores que as lojas andam anunciando para os novos equipamentos e com prestações a perder de vista. Modelos lindos, em 3D, com tantos recursos, que é de deixar qualquer um apaixonado. Outro dia, por exemplo, parei em frente a uma loja onde vi um notebook com as seguintes especificações: Intel core i5 2410M (2.30 GHz), Windows 7 Home Premium 64 bits, Memória de 4GB DDR3, HD de 500 GB, Placa Gráfica NVídia Geforce GT520M de 1GB dedicada, Leitor de Cartões, DVD-RW, WiFi e Bluetooth, Webcam. Fiquei enlouquecida! Ele é lindo! Sabe, parecia que ele estava me olhando e dizendo: “me leva pra sua casa, vai!”. Passei o resto do dia com sua imagem em minha cabeça. Mas eu não podia fazer uma coisa dessas, começar um novo relacionamento sem terminar com o outro. Mas fiquei “viajando” na ideia de como seria bom se a gente ficasse junto. Para dizer a verdade, eu nem sei o que é tudo isso que ele tem, mas com o tempo a gente vai se conhecendo melhor.
Eu juro que não queria que fosse assim. Fico muito triste em ter que deixar meu equipamento, afinal, já tivemos muitos momentos felizes juntos, já contamos tantas histórias, construímos tantos textos, fizemos tantas tabelas. Com ele aprendi tanta coisa, eu que era uma “analfabeta digital”. Nossa parceria deu muito certo durante alguns anos, mas não dá mais. Estamos ambos desgastados e cansados um do outro.
Também não posso continuar admitindo que “alguém” com quem eu já tenha tanto tempo de convivência, não reconheça nem o meu nome. Isso é humilhante! Todas as vezes que digito meu nome, ele vem e sublinha com aquela linhazinha vermelha irritante. Chega!
Mas a vida é assim mesmo. Como dizia o poeta: “que seja eterno enquanto dure”. Assim, tanto no relacionamento entre seres humanos como no relacionamento entre o homem e sua máquina, a fila anda. Se o parceiro não está mais fazendo feliz, melhor procurar um novo amor, ou, comprar um novo computador.
Jorgenete Coelho
Valença-RJ, junho/2012.