A História dos Sete .
A origem dos vampiros está diretamente ligada ao mito judaico-cristão de Caim e Abel. Diz-se que Caim, após a morte de Abel, foi amaldiçoado por Deus. A maldição não veio diretamente de Deus (pelo menos não ela toda) mas sim dos anjos que vieram a Caim exigir que ele pedisse perdão a Deus. Orgulhoso, e certo de suas convicções, Caim preferiu sofrer as punições conferidas pelos anjos à prostar-se perante Ele.
O resultado disso foram as maldições que toda vampiro carrega: horror ao fogo, à luz, vida eterna e a solidão que vem com ela. Diferente do que podia se esperar, Caim sobreviveu a tudo isso, graças em parte à Lilith, conhecida como a "primeira mulher" (expulsa do paraíso por não se subjugar aos desígnios de Deus). Ela lhe ensinou aquilo que ficou conhecido como Disciplinas vampíricas e lhe deu conforto e amor(discute-se ainda se Lilith na verdade não apenas apresentou Caim aos seus verdadeiros dons mágicos, ou seja, às esferas de magia). Após isso, Caim se rebelou contra Lilith, por não querer mais obedecê-la, e foi viver sozinho. Conta-se que nesse meio tempo ele teria conhecido outros seres mágicos, tais como Licantropos, Fadas, Demônios, etc, até encontrar seu primeiro amor, Zillah.
Nesta época ele encontrou também Crone, pessoa que o colocou sob um Laço de Sangue e ensinou-lhe o Abraço. Caim permaneceu sobre tal Laço por um ano e um dia, até atravessar Crone com uma estaca de madeira (ela foi deixada na esperança de que o Sol a dizimasse). Só então aconteceu a criação da cidade de Enoque, lugar onde foram també criados por Caim Irad e Enoque. Deles surgiram os Antediluvianos (13 no total) que numa paródia às famílias mortais criaram os Clãs.
E assim a cidade permaneceu, até que os vampiros de terceira geração se revoltassem e começassem à caçar os vampiros de segunda geração, matando-os um a um. Nesta mesma época conta-se que Caim se retira definitivamente da socidade humana-vampírica a espera do fim dos tempos, conhecido como Gehenna.
A primeira cidade
O que se sabe sobre a Primeira cidade vem de uma pequena seleção de fragmentos encontrados durante o tempo. A Primeira Cidade foi única no que se refere à sua natureza vampírica. Lá, duas gerações de Crianças de Caim (segunda e terceira geração) criaram para si mesmos uma socidade a qual se adaptou aos costumes, necessidades e poderes vampíricos.
Do que não está sobre a terra, sabe-se que os Vampiros da Primeira Cidade eram o ápice da hierarquia, com Caim, claro, sendo o Líder máximo. Embora as três crianças de Caim (Enoque, Zillar e Irad) fossem supostamente os seus inferiores diretos, muitos da Terceira Geração, Netos de Caim, ganharam status especial (notavelmente Saulot, que sempre estava ao lado de Caim, especialmente nos "últimos dias") igual aos membros de Segunda Geração.
Abaixo de todos os Vampiros estavam as Crianças de Sete, que eram ditos humanos, a não ser por um indivíduo. Ele era o Servidor, chamado Jabal em alguns mitos. Jabal era em igual com os Netos de Caim já que ele era muito próximo de Caim. Havia muito pouco do sangue original de Jabal em seu corpo, sendo o resto quase o todo o sangue de Caim. Aqueles-que-serviam, chamados depois de carniçais, eram entre os humanos e os Cainitas. De resto, os partores, fazendeiros eram os últimos na hierarquia.
Mesmo assim não se deve subestimar os Vampiros daquele tempo. Eles faziam o que seu pai, Caim, dizia-lhes para fazer. Caim realmente se sentia como um tio para essas crianças novas e, ele via como seu dever protejê-los e guiá-los. Algumas lendas falam de Caim como aquele que dava as leis como um tigre, um lobo e um gavião, atacando os inimigos do seu "povo". Elas mostram-no sentado num Trono de Marfim durante um jugamento no centro de uma grande Corte (aparentemente os poderes do Auspicios naquela época eram considerados o suficiente para olhar dentro do coração de um homem e perceber se o que ele fez era certo ou errado).
Caim também era apto para ver quando algum dos poderes das suas Crianças haviam sido utilizados sobre um humano. Ele também era apto para cancelar os efeitos de qualquer Disciplina utilizada. Ele era mestre de todas as Disciplinas que o mantinha no poder. Embora ele fosse o Rei de direito e um juiz honesto, seu poderio era o que mantinha suas crias na linha. Caim tinha a habilidade de criar novas Disciplinas apenas com o seu desejo. Sabe-se que ele de alguma forma teve uma forma diferente de Taumaturgia e Caminhos Taumatúrgicos (diferente mesmo).
Pensa-se que os escravos de Enoch foram nativos capturados da nação de Sete, a tribo que eventualmente dirigiu Noé e aqueles do seu tipo. Isto pode dar sentido à idéia bíblica de que a Terra havia se tornado corrupta por um demônio nos tempos de Nóe, já que Caim certamente guiou suas Crianças naquele tempo.
Muitos escravos trabalharam nos campos, produzindo para os servos humanos de Caim e suas Crianças. Eles eram na sua maioria foras-da-lei e bárbaros e foram provavelmente submetidos à Dominação. Apenas pelos relatos dos escravos sabe-se que a escravidão existia: todos os desenhos mostram os "capturados" de Enoch em total liberdade.
É estranho saber que a Festa do Sangue que o Sabá diz ser um dos fundadores era comum nos tempos de Caim. Durante a Festa, os prisioneiros eram amarrados sobre uma mesa e acabavan sendo servidos aos Cainitas ali presentes. Além disso Caim e suas crianças bebiam da poça de sangue que se formava a partir de alguns prisioneiros que eram colocados de cabeça para baixo e tinham suas veias rompidas.
Sabe-se também que muito foi feito sobre o gosto do sangue e como o sanguem tornou-se poderoso. Muitos cozinheiros de Enoque aprenderam muito sobre os sabores de hervas, alimentos e drinks que podiam ser ingeridos pelos escravos de alimentação resultando no sabor certo.
Escravos incapazes de trabalhar nos campos eram feitos de escravos de alimentação. Estes escravos eram provavelmente muito adoráveis visualmente (muitos desenhos mostram os mesmos vestidos com jóias) e altamente condicionados a responder ao Beijo.
Enoque observava a época de plantio como todas as comunidades agrícolas. Há evidências de que havia uma grande celebração na Casa Alta de Caim toda lua nova, e uma grande noite de "ação de graças" após os eclipses. Isto pode ter sido quando os Lobisomens estavam mais propícios à atacar, se é que realmente haviam Lobisomens e não demônios como se sugere.
Caim criou um calendário muito avançado. Na metade do Verão de Eva, Caim pintava uma linha vermelha do seu próprio sangue numa parede circular na sua Casa Alta. A linha magicamente movia-se dia a dia, lentamente circulando a casa até a vinda do próximo solstício. Era através disso que Caim dava aos cidadãos da Primeira Cidade um calendário.
Muito se aprendeu com a o nascimento humano, tendo sido criado ali o primeiro controle de natalidade. Humanos eram criados com propósitos específicos, tais como força para a alimentação, bom guerreiro ou bom trabalhador. Se você fosse bem sucedido nos seus proprósitos, você poderia ser selecionado para aumentar sua Linhagem. Isto podia ser feito numa casa chamada Templo de Lilith o qual era ao mesmo tempo templo e homenagem à Lilith. Dois humanos poderiam ter o ritual sexual ali e nunca mais se ver, especialmente se eles tivessem mestres diferentes.
Vampiros com Auspícios eram aparentemente aptos para dizer se uma mulher estava grávida ou não.
Ao contrário de muitas culturas daquele tempo, não havia religião em Enoque. Caim proibiu a devoção àquele que habita os Céus, tendo virado sua cara à Ele e permitido, aos seus seguidores, tornar-se livres dos pecados. Na verdade, Caim podia frequentemente contar sobre como ele foi amaldiçoado à apodrecer no inferno, sobre sua queda e como a "raça vampírica" era um mal verdadeiro.
VAMPIRO
Se você procurar o significado no dicionário, irá encontrar a definição de um ser noturno, diabólico, que suga o sangue das pessoas, mas Vampiro não é só isso, é uma filosofia fascinante, que se contrapõe aos conceitos racionais, e está acima de todos nós...
A HISTÓRIA DOS VAMPIROS
I
Conhecidos como Vampiros, nosferatus, entre outros, eles são incrivelmente inexplicáveis e criaturas maravilhosas.
O conceito específico dos mortos retornando para atacar e se alimentar do sangue dos vivos encontrou sua maior expressão na Europa cristã. No séc. XII, O historiador inglês William de Newburgh relatou diversos casos de mortos retornando para aterrorizar, atacar e matar durante a noite. Identificou-se esse tipo de espírito maligno com o termo latino sanguisuga. Na maioria dos casos sobre os quais escreveu, a única solução permanente era desenterrar e queimar o corpo do assaltante acusado. Do séc. XVI ao séc. XVIII ocorreu vários relatos na Europa oriental. Várias palavras foram usadas para designar estas criaturas, tais como, vukodlak (extraída da palavra que designa lobisomem) ou outros termos usados na Sérvia, vampir (de origem questionável) e palavras relacionadas (como a palavra russa upyr), também se disseminaram.
Em fins do séc. XIX, o romance Drácula, de Bran Stoker, iniciou a era da ficção que continua até hoje. Drácula criou o Vampiro vilão definitivo, utilizando elementos de Polidori e Le Fanu para produzir um pano de fundo gótico para história de um predador aristocrático profano saído do túmulo, que hipnotiza, corrompe e se alimenta das lindas jovens que mata. Stoker revelou todo o impacto das conotações psicossexuais envolvidas entre o relacionamento Vampiro e vítima, mostrando uma notável semelhança entre a ânsia de sangue dos mortos-vivos e a sensualidade reprimida dos simples mortais. Um elo psíquico ainda mais profundo está indicado quando uma vítima do sexo feminino é forçada a beber o sangue de Drácula como parte de sua transformação em Vampira.
II
O que é um Vampiro? Você deve estar se perguntando. A definição comum, nos dicionários, serve como referência para a investigação: Vampiro é um cadáver reavivado que levanta do túmulo para sugar o sangue dos vivos e assim reter a aparência da vida. Esta descrição certamente se adapta a Drácula, o Vampiro mais famoso, mas é apenas um ponto de partida e rapidamente se prova inadequada quando nos aproximamos do reinado do folclore vampírico. De modo algum todos os Vampiros se encaixam nesta descrição.Nem todos os Vampiros são corpos ressuscitados, alguns são espíritos desencarnados, como os lamia da Grécia, também são os humanos normais com hábitos incomuns (como beber sangue) ou um poder extraordinário (como a possibilidade de "drenar" as pessoas emocionalmente). Os animais Vampiros, do tradicional morcego aos deliciosos personagens infantis como Bunnicula e Conde Duckula, não estão de nenhuma forma ausentes na literatura. Portanto, Vampiros existem de várias formas, mesmo sendo a maioria de cadáveres que ressuscitam. Como o conhecido por todos, uma das características dos Vampiros é a que eles tem que sugar sangue de pessoas ou animais para sobreviver, mas alguns Vampiros não sugam sangue, na verdade só drenam a força vital de suas vítimas.
A pessoa atacada por um Vampiro tradicional sofre pela perda de sangue, o que causa fadiga, perda da cor no rosto, apatia, motivação esvaziada e fraqueza. Várias doenças que envolvem a perda do sangue também tem os mesmos sintomas.
III
Abordando um Vampiro: Uma vez decidido que o termo Vampiro cobre uma grande variedade de criaturas, surge um segundo problema. De um modo geral, os Vampiros em si estão indisponíveis para exame. Com algumas pequenas exceções, o assunto deste volume não é sobre Vampiros em si, e sim sobre a crença humana neles. Assim sendo, alguma metodologia se fez necessária para levar em consideração a crença humana em entidades que objetivamente não existem. O problema não é novo e a vasta literatura sobre Vampiros nos favorece de duas maneiras. A primeira oferece explicações de um contexto social, isto é, a existência dos Vampiros dá às pessoas uma explicação de eventos de outra forma inexplicáveis (que no Ocidente moderno tentamos explicar com termos científicos) . A segunda abordagem é psicológica e explica o Vampiro como existindo no cenário psíquico íntimo do indivíduo. As duas abordagens não necessariamente se excluem.
De acordo com a distribuição mundial dos Vampiros, podemos afirmar que eles tem seu próprio lugar em cada cultura, um exemplo é que na América Central existe os camazots, é muito parecido com o Vampiro da Europa Oriental, mas, nas culturas são encontrados em situações diferentes, os camazots tinham e ainda tem estátuas suas na América Central, enquanto nenhum Europeu iria pensar em fazer estátuas para Vampiros. Mas eles também tinham suas semelhanças, como o lamia, era um ser que surgiu em respostas de uma série de problemas relativos ao parto, ele caçava bebês ou crianças pequenas, de modo que seria quase o mesmo de suyar e da Lilith.
IV
Drácula com certeza é o Vampiro mais conhecido, mas, porque? Sua pergunta será respondida neste texto. Ele na verdade nasceu em Schassburg na Transilvânia no séc. XV, para ser mais preciso foi em 1428, assumiu o posto de príncipe da Valáquia (ou Wallachia, como preferir) em 1436. Este homem era um guerreiro da igreja católica, e sua família fez um juramento a ela de combater os turcos, ele seria um herói da igreja se não fosse por ele ter executado e empalado muitos de sua religião. Por seus atos, ele era também conhecido como Vlad, O Empalador.
Só na noite de 24 de agosto de 1460, Vlad, O Empalador, matou 20 mil pessoas, entre as quais incluíam, mulheres, velhos e crianças. Seus atos eram totalmente brutais, antes de matar sua vítima, ele a torturava enfiando uma estaca no corpo da vítima a ponto de não matar, só causar dor, amarrava os membros em cavalos, e puxava, sem matar ainda, por fim, como golpe de misericórdia, ele enfiava uma lança no abdome do alvo, levantava-o e deixava fincado no campo de batalha. Teve um tempo de sua vida, que, Drácula ficou aprisionado pelos turcos como modo de que Vlad Dracul (seu pai), não os traísse. Durante este tempo como prisioneiro Drácula aprendeu a língua turca, aperfeiçoou suas técnicas de tortura e estratégias de combate, até os guardas que cuidavam de sua "estadia” com os turcos, tinham medo do pequeno Drácula, pois conheciam o que o garoto poderia fazer com seus conhecimentos. Depois que seu pai morreu decapitado em 1447, Drácula viveu com inúmeros tutores e em inúmeros lugares, aprendeu muitas línguas e todas as formas e estratégias militares dos turcos e dos católicos, conhecia todos os pontos fracos de ambos os lados.
Era sempre levado por seus tutores aos campos de batalha nos tempos de guerra, assim começou seu gosto por sangue, morte e torturas. Ainda com raiva dos turcos por terem executado seu pai, queria vingança, mas a matança não parou só com os turcos, ele queria mais, assim começou a matar católicos, e foi considerado pela igreja como um monstro, após matar suas vítimas bebia seu sangue, chegou até a fazer um comentário irônico uma certa vez dizendo "eu estou enjoando do cheiro de sangue coagulado".
O castelo de Drácula, era na época, praticamente invulnerável a ataques, diziam que neste castelo existia uma passagem secreta que passava por baixo da montanha, que ele usava para fugir quando uma investida contra seu castelo era bem sucedida, mas esta passagem nunca foi encontrada.
Existe uma suposição de que Bram Stoker estudou profundamente a vida de Vlad Tepes antes de escrever seu livro, pois muitas informações estão incrivelmente exatas, como a localização de seu castelo.
Depois de uma vida inteira de matança, tanto de turcos como de católicos, Vlad Tepes foi assassinado em 1476.
V
Relatos de seres "vampíricos" já foram apresentados diversas vezes. Uma certa vez foi sobre Johannes Cuntius que, na noite de sua morte um gato entrou em seu quarto e arranhou seu rosto. Após o enterro, o vigia da cidade começou a relatar ruídos estranhos vindos da casa de Cuntius todas as noites. Outras histórias extraordinárias foram relatadas de outras residências. Uma empregada, por exemplo, relatou ter ouvido alguém cavalgando em volta da casa e depois para o dentro do edifício, abalando-o violentamente. Em outras noites, Cuntius apareceu e teve encontros violentos com antigos conhecidos, amigos e membros da família. Entrou no quarto e exigiu dividir a cama com a mulher. Como outras aparições (pessoas que voltam após a morte ou depois de longa ausência), Cuntius tinha uma presença física e uma força extraordinária. Numa ocasião, relata-se que arrancou dois postes firmemente enterrados no solo. Todavia, em outras ocasiões ele aparentemente operava de forma não-corporal - como um fantasma - e desaparecia subitamente quando era acesa uma vela em sua presença. Dizia-se que Cuntius cheirava mal e tinha extremo mau hálito. Relata-se que uma vez transformou leite em sangue. Sugava as vacas até que ficassem sem sangue, numa tentativa de chamar a atenção, não somente de sua esposa mas como também de diversas mulheres de sua cidade. Uma pessoa a qual tocou disse que sua mão era fria como o gelo. Diversos buracos dando para o local de seu caixão apareceram ao lado do túmulo. Os buracos foram preenchidos, mas reapareceram na noite seguinte.
Os moradores da cidade, incapazes de encontrar uma solução para essas ocorrências, resolveram finalmente verificar o cemitério, cavaram diversos túmulos. Todos os corpos estavam em adiantado seu estado de decomposição, menos o de Cuntius. Embora já estivesse enterrado a seis meses, seu corpo ainda estava macio e flexível. Puseram um bastão na mão do morto e ele o agarrou. Cortaram o corpo e o sangue espirrou. Foi convocada uma audiência judicial formal, sendo pronunciado um julgamento contra o cadáver. Foram dadas ordens para que o corpo fosse queimado. Como este demorou a queimar, o corpo foi cortado em pedacinhos, o executor relatou que o sangue estava fresco e puro. Após a cremação, a figura de Cuntius nunca mais foi vista.
VI
Lilith, uma das figuras mais famosas do folclore hebreu, originou-se de um espírito maligno tempestuoso e mais tarde se tornou identificada com a noite. Fazia parte de um grupo de espíritos malignos demoníacos dos americanos que incluíam Lillu, Ardat Lili, e Irdu Lili. Apareceu no Gilgamesh Epic babilônico (aproximadamente 2000 a.C.) como uma prostituta Vampira que era incapaz de procriar e cujos seios estavam secos. Foi retratada como uma linda jovem com pés de coruja (indicativos de sua vida noctívaga).
No Gilgamesh Epic, Lilith foge de casa perto do rio Eufrates e se estabeleceu no deserto. Nesse sentido, mereceu um lugar na bíblia hebraica (velho testamento cristão). Isaías, ao descrever a vingança de Deus, durante a qual a Terra foi transformada num deserto, proclamou isso como sinal da desolação: "Lilith repousará lá e encontrará seu local de descanso" (Isaías 34:14).
Lilith reapareceu no Talmude , onde uma história mais interessante é contada, onde ela é a mulher do bíblico Adão. Tiveram um desentendimento sobre quem ficaria na posição dominante durante as relações sexuais. Quando Adão insistiu em ficar por cima, Lilith usou seus conhecimentos mágicos para voar até o Mar Vermelho, o lar dos espíritos malignos. Conseguiu muitos amantes e teve muitos filhos, chamados lilin. Lá encontrou-se com três anjos enviados por Deus - Senoy, Sansenoy e Semangelof - com os quais fez um trato. Alegou ter poderes vampíricos sobre os bebês, mas concordou ficar afastada de quaisquer bebês protegidos por um amuleto que tivesse o nome dos três anjos.
Uma vez mais atraída a Adão, Lilith retornou para assombrá-lo. Depois que ele e Eva (sua segunda mulher) foram expulsos do jardim de Éden, Lilith e suas asseclas, todas na forma incubus/succubus, os atacaram, fazendo assim com que Adão procriasse muitos espíritos malignos e Eva mais ainda. Dessa lenda, Lilith veio a ser considerada na tradição hebraica muito mais uma succubus do que uma Vampira.
VII
Kali, uma das mais importantes divindades da mitologia na Índia, era conhecida, entre outras características, pela sua sede de sangue. Kali apareceu pela primeira vez nos escritos indianos por volta do Séc. VI em invocações pedindo ajuda nas guerras. Nestes primeiros textos foi descrita como tendo presas, usando uma guirlanda de cadáveres e morando no local de cremações, diversos séculos mais tarde no Bhagavat-purana, ela e seus seguidores, os dakinis, avançaram sobre um bando de ladrões, decapitaram-nos, embeberam-se em seu sangue e divertiram-se num jogo de atirar as cabeças de um lado para o outro. Outros escritos registram que seus templos deveriam ser construídos longe das vilas e perto dos locais de cremação.
Kali fez sua aparição mais famosa no Devi-mahatmya, onde se juntou à deusa Durga para lutar contra o espírito demoníaco Raktabija, que tinha a habilidade de se reproduzir com cada gota de sangue derramado; assim, ao lutar contra ele, Durga se viu sobrepujada pelos clones de Raktabija. Kali resgatou Durga ao vampirizar Raktabija e ao comer suas duplicatas. Kali foi vista por alguns como o aspecto irado de Durga. Kali também apareceu como consorte do deus Siva. Engajaram-se numa dança feroz. Pictoricamente, Kali geralmente era vista sobre o corpo de Siva numa posição dominante enquanto se engajavam em relações sexuais.
Kali tinha um relacionamento ambíguo com o mundo. Por um lado, destruía espíritos malignos e estabelecia ordem, por outro, servia como representante das forças que ameaçavam a ordem social e a estabilidade por sua embriaguês de sangue.
Crônicas de Caim
Meu passado é totalmente incerto, uma nebulosa cercada de mitos e mistérios. O que posso contar é que além de meus pais Adão e Eva, fui levado a acreditar de que éramos, junto com meu irmão Abel, os únicos e primeiros seres humanos na Terra.
Tal é que não conseguia entender como me contavam as origens de todas as coisas por Deus em sete dias. Que por um pecado cometido contra Ele, meus pais foram expulsos do E?den, o jardim do Senhor. O pecado foi o de comer o fruto do conhecimento. Ao que parece Deus não gostava muito de que o conhecimento viesse a cair em mãos humanas e eu me perguntava o porquê disso. Sem o conhecimento, como haveríamos de crer em Deus e servi-lo condignamente?
Foi-me dado na idade da responsabilidade dos doze anos o cuidado da plantação no terreno arenoso e estéril onde nos estabelecêramos, após a expulsão de meus pais de tal E?den. Tirava bem pouco dela e meu pai ainda me obrigava a dar do melhor em oferenda ao Senhor. Depois de nos ter deserdado e expulso, meu pai tem uma grande consideração, importando-se em oferecer sacrifícios a este Senhor.
Quanto ao meu irmão Abel, foi-lhe entregue o rebanho de ovelhas e outros gados que criávamos, que como todo rebanho, cresce fácil e fartamente enquanto se tem forragem. O que era difícil tornou-se pior já que este rebanho servia-se displicentemente das minhas plantações, ao olhar aprovador de Abel.
-Não se importa se meus carneiros ficam gordos para agradarmos ao Senhor, importa-se, Caim? Perguntava descaradamente. Eu não sabia que um dia isso causaria a mudança nos rumos de nossas vidas.
Cheguei a reclamar com minha mãe acerca disso, que não era justo Abel estar sendo tão favorecido por nosso pai e o Senhor, que nunca ficavam contentes com minhas ofertas. Será que eles lEvam em conta que o sacrifício de Abel só está sendo agradável a Ele às minhas custas? Foi a primeira vez que ouvia minha mãe avisar que minha inveja poderia causar minha desgraça. Inveja? Querer justiça ante aos olhos de quem é onipotente e criador de tudo? Não devia ser o primeiro a reconhecer meu esforço no solo árido e que meu irmão ainda se aproveita do pouco para alimentar seu rebanho e deixar seu sacrifício agradável a Deus? Isso me empertigava e minha mãe achava natural. O fruto que havia comido nos deixou a todos sem inocência, impuros e raivosos, condenados a pagar por um erro tão fatal.
Pois muito bem, então. Se o conhecimento é a nossa sina que me mostre então onde está Deus e onde fica tal jardim do Senhor. Quero comprovar por mim mesmo toda essa lenda e exigi isso de minha mãe. Era o mínimo que ela poderia fazer por mim.
Minha mãe lEvantou-se resignada e um pouco magoada com minha atitude. Dizia algo com eu estar mostrando ser eu fruto de semente ruim. Afastamo-nos da choupana sob a observação de meu pai e senti que Abel também nos observava, do alto de uma das colinas, junto ao seu rebanho. Atravessamos todo aquele terreno arenoso no qual estávamos fixados, chegamos ao curso de um rio. Minha mãe parou.
-Não podemos prosseguir além daqui, Caim, mas este é um dos rios que aflui pelo jardim do E?den, poderemos avistá-lo um pouco daqui.
O que vi eram pequenas ilhotas de verdes ao horizonte, um pouco acima do curso do rio, além das estepes, mas não via nem um pouco da soberbidade que tanto meus pais contavam a respeito deste jardim.
-O que nos impede de ir até lá, mãe?
-Gabriel e sua espada flamejante que guardam a entrada do E?den, a mando de Deus, para evitar que voltássemos.
-Nada vejo mais que pequenos oásis verdes em meio à estepe. Nada nos impede de prosseguir.
-Você não entende, Caim. Irá percorrer toda a extensão da Terra que nunca irá encontrá-lo, pois Deus saberá mantê-lo a salvo. Além do mais, o jardim não pertence a este mundo, mas a outro, muito mais sutil e melhor que este.
-Outra Terra? Que criaturas habitam lá? Acaso outros homens feitos para nos substituir? Não éramos os únicos criados por Deus? Que os torna melhor que nós e o que garante que não haverão também de pecar contra Deus? Por que nosso Deus, se é tão único, teria necessidade de criar dois mundos e criaturas para habitá-los? Qual o propósito de Deus criar algo material se é tão espiritual? Começo a duvidar do que nosso pai nos contou, minha mãe. Como posso acreditar em vocês se não pude ver e conhecer Deus e seu jardim, saber por que os deixou cair em tentação se Ele é onisciente e por que criou outros homens para outro mundo, nos fazendo acreditar sendo únicos?
-Caim, Caim! Controle sua língua antes que a morda! Não nos é dado o direito a perguntar tais coisas ou duvidar de Deus, não cuidemos para tornar ainda pior nossa situação. Deus sempre existiu e não haveria de habitar este mundo material miserável. Como regente do universo deve ter seu castelo e seus criados. Não há outros homens no mundo material e é deste que teremos de nos importar. Junto a Deus em seu maravilhoso mundo estão não homens, mas sim anjos, como Gabriel. Deus quis por uns instantes que suas criaturas partilhassem de seu jardim e por nossa traição, nos é negado agora tal privilégio. Deus nos criou com nós criamos os animais e as plantas, eles nos completam e nos fortalecem. Deus nos criou para que lhe déssemos o retorno do amor que recebíamos e fomos tolos caindo na tentação pela conversa da Serpente e agora estamos sofrendo um castigo justo. Rogo a você que para o bem do seu futuro não continue com tanta descrença, antes que se abata nova tragédia sobre nós.
Mas a sensação de vazio predominou em mim. Já que não podia competir com meu irmão em espécie, que pelo menos me diferenciasse pela qualidade. Além do meu pai, eu era o único que sabia ler e escrever, eu tive muita facilidade em aprender, ao contrário do meu irmão. Mas por que se incomodaria ele em aprender algo se era o predileto? Então eu faria da inteligência minha qualidade, mesmo não sendo muito apreciada por Deus.Não se pode comer conhecimento mas isto ajuda a plantar e cuidar melhor das nossas criações. Estranho como algo imaterial ajuda no material e como desagrada justamente a quem é tão averso ao mundo material.
Na qualidade de ser quem iria continuar a tradição de meu pai de relatar a história do povo de Deus, constantemente recorria à leitura da criação tal qual meu pai a descrevia, uma certa parte por revelação de Deus. Procurava por algo que me parecesse estranho e contraditório a fim de invalidar essa narração e talvez estender a descrença aos itens contidos nela. Mas na falta de outra explicação competente, pouco conseguia acrescentar ou refutar, meu pai escreveu de tal forma a deixar propositalmente essa tarefa difícil.
Em uma certa data depois de tanto reclamar , meu pai concedeu que eu tratasse também de rebanho, mas das cabras, que já eram consideradas por nossa crença, animais impuros. Em troca, tive de ceder os pomares a Abel, que eram justamente os que produziam melhor e mais frutos agradáveis a Deus. Fiquei com o que sobrou, ou seja, as ervas e os arbustos que eu não conseguia tirar muito e meu pai vivia usando isso para me acusar de negligência, à medida que aumentava seu orgulho por Abel.
Isso me motivava mais a buscar respostas às minhas dúvidas ao mesmo tempo em que aumentava a minha descrença em Deus e sua justiça. Ocorreu-me que, então, de posse do rebanho de cabras, tinha a liberdade de andar pelas colinas além do nosso acampamento em busca de bons pastos. Quando alcancei a idade da responsabilidade dos vinte e um anos, não tinha mais a constante inspetoração de meus passos, seja por meu pai ou por minha mãe. Algo faria com que, a partir deste dia, meu destino mudaria, assim como o resto do destino de minha família e foi a partir desta que considerei estas anotações, qual diário, do que me passou.
Meu pai já havia percebido, eu sempre voltava muito tarde para o almoço e a janta, quase nunca observava o sétimo dia dedicado ao Senhor, de tão longe que chegava em meus passeios. Isso só veio a piorar o julgamento que meus pais tinham de mim e seus avisos sobre a reprovação de Deus ao meu comportamento. Já Abel, justamente ao contrário, seguia cegamente as ordens de meus pais e servia igualmente ao Nosso Senhor.
Já chegavam ao ponto de mais não se importarem, ao verem que não surtia efeito, então cuidavam para que pelo menos meu irmão Abel não perdesse sua pureza e santidade aos olhos de Deus, que não caísse ele nas minhas tolices e desprezo aos costumes dos justos.
Eu tinha meus motivos e já planejava uma longa viagem, se necessário de dias seguidos, já me preparava para isso com a escolha das ervas e das cabras que lEvaria esperando chegar em algum lugar, ainda muito incerto para mim, procurando por algumas respostas.
Creio que já tinha comentado meus motivos com minha mãe que, preocupada e esperançosa de que mudaria os hábitos pela minha salvação, perguntou-me a razão de tal indisciplina.
-Estou preocupado com a continuidade da nossa família, mãe. Acaso com quem faria conceber seus netos se não há outra mulher com quem eu possa me unir.
-Deus me formou da costela de seu pai, Ele saberá fazer a sua também se se mostrar digno desse prêmio.
-Não posso crer nisso. Sei muito bem que nasci saindo de teu ventre e vi bem, quando Abel nasceu, que ele também nascia deste. Mas tu me afirmas que nasceu da costela de meu pai, não do ventre de outra mulher? Não tenho como acreditar por mais que se trate de minha mãe. Por que Deus não cuidou para que nascesse de outra parte do corpo ou do barro, com foi meu pai, ou até mesmo das árvores ou das pedras? Como podem me convencer de que pelo poder de Deus, meu pai veio da lama e minha mãe veio do osso da lama encarnada?
-Caim,Caim! Não leu no Gênesis que meu castigo, por ter induzido o homem ao pecado, foi o de gerar meus filhos com as dores do parto? E também que teríamos que lutar para conseguir nosso próprio sustento nesse terreno onde fomos exilados após a expulsão? Já lhe avisei outrora, para ter cuidado com tua língua antes que a morda e ela caia por terra, com perguntas demais sobre as razões divinas, quando não lhe foi dado o direito de tanto. Cuide pelo menos para que não nos suceda outra tragédia meu filho, se não consegue reprimir essa raiva e inveja, ao menos as controle, para não cair na reprovação e ira de Deus. Saiba tirar frutos bons de tua inteligência que Deus lhe dará parte, assim como seu pai e seu irmão recebem, com graças de Deus, pela crença deles.
Não gostava da forma com as respostas sempre fugiam para Deus e permaneciam em torno dEle, a explicar todas as coisas de uma maneira tão simples e fácil que me faziam achar difícil de aceitá-las. E como as poderia, se ainda não me foi dado a capacidade de saber quem é Deus para que, somente assim, possa vir a acreditar nEle. E? muito mais fácil acreditar em algo quando se o conhece e reconhece com tal é dito.
De uma forma ou de outra, achava que talvez em algum lugar e em algum dia poderei vir a conhecer outras coisas quaisquer, que me viessem a esclarecer tais dúvidas, viessem a ser estas o que fossem.
Tal decisão tomei e fui. Já estava bem longe e achava pouco provável que sentissem minha ausência. Fui muito além das estepes, além das colinas que demarcavam nosso território. Pude me considerar em território estrangeiro somente no dia seguinte, ao amanhecer, tendo descansado de um dia de marcha. A ansiedade de achar logo uma prova para desafiar a crença de meus pais tirava todo o meu apetite, de forma que fiz pela primeira vez jejum, considerado pelos meus pais uma forma de demonstrar a Deus resignação e respeito. Apenas comi algumas ervas, mas minhas cabras ainda viviam.
Um balido de uma cabra perdida acabou por me acordar e decidi me lEvantar. Segui logo o chamado, sendo seguido pelo meu rebanho. De certo que era uma cabrita, mas não era das minhas nem tão pouco uma selvagem. Estava tosquiada e com sinais de um bom cuidado. Era pouco mas o suficiente para me alegrar. Se não era eu o criador outro o era. E como era eu para ser o único, era uma boa prova de que não éramos os únicos seres humanos em tão extensa terra.
Fiquei tão animado que esqueci de meu próprio rebanho e comecei a ajudar a cabrita a achar o caminho de volta ao curral. Segui as marcas que deixara pelo terreno, enquanto foi possível. Quando o rastro terminou pareceu que a cabrita já reconhecia o terreno pois balia alegremente e sacudia a cauda saltitando em disparada sendo seguida com dificuldade por mim mas com facilidade pelo meu rebanho. Logo o meu e o outro se misturavam e pareciam conferenciar uns com os outros como se fizessem parte do mesmo rebanho mas certamente não era o meu curral nem era este o acampamento de meu pai.
Como o estardalhaço das cabras era por demais ruidoso era evidente que em breve o morador deste acampamento logo apareceria. Apareceu de dentro uma bela mulher, bem diferente de minha mãe ou dos meus outros familiares.
-Olá estranho. Não pretende roubar minhas cabras, espero. Pensei que fosse um lobo, por pouco não o atinjo.
-E? uma mulher?
-Espero que sim ou então minha mãe enganou-me muito bem.
-Tem mãe?
-Sim,claro e um pai. E cada um deles os seus pais também. Como qualquer um tem. De onde vem, estranho? Parece meio abobado para fazer perguntas tão tolas!!
-Desculpe! Devo-lhe explicações. Espero que tenha um pouco de paciência e ouça minha historia.
Disse-lhe meu nome. Do meu irmão e de meus pais. Do que me fizeram acreditar até poucos dias e da razão de me encontrar tão longe de casa. De como o barulho era causado pelo encontro entre o meu rebanho e o dela. Finalmente de como ficava alegre e aliviado de encontrá-la, outra mulher, outro ser humano, provavelmente me faria conhecer tantos outros e outras crenças. Olhava pedinte e ansioso por isso. Mas apesar disso, gostava de ser cortês, como me ensinaram a ser.
-Desculpe. Não lhe perguntei o nome. Pode me dizê-lo, por favor?
-Jesebel. Tu és mesmo um carpirão! Nunca vi tais modos tão comedidos e formais! Venha e entre um instante. Depois de ter andado tanto deve estar faminto e cansado.
Comi pela primeira vez depois de tantas horas somente me alimentando de ervas. Não conhecia os pratos que me servia mas os achava tão bons quanto os que comia, feitos por minha mãe. A seguir me levou à casa dos pais e dos avós e de muitos outros homens e mulheres. Chamavam aquilo de vila. Maior que a vila são as cidades que no conjunto formam um estado que juntos formam um país. Por ora, ficarei nesta vila até conhecê-la bem. E conhecer melhor também Jesebel por quem me apaixonei.
foi bom ver como o conhecimento deles era farto e variado, um pouco mais flexível que as crenças de meus pais, que careciam de fundamentos. Realmente era uma sensação reconfortante ter outros conhecimentos, saber de outras teorias, na verdade um alívio. tão contente que quis usar destes conhecimentos para contradizer meus pais e reparti-los com meu irmão. Foi duro dizer adeus a Jesebel mas prometi retornar. Não sei se isso significava muita coisa para ela, mas eu a amava.
Quando cheguei ao acampamento de meus pais apenas encontrei Abel que não se mostrava muito alegre ao me ver, não querendo me dizer aonde se encontravam nossos pais. Devia tê-lo deixado sossegado e procurado eu mesmo por eles, mas senti que talvez devesse começar a lhe dizer as verdades que encontrei, sobre outros homens e povos diferentes de nos ou nossos pais, com seus próprios saberes e crenças diferentes dos nossos.
Obviamente duvidou de mim, o que era um espanto vê-lo negar, quase raramente duvidava de algo que mais velhos o dissessem. Por isso senti-me inclinado a levá-lo até lá e fazer vê-lo e admiti-lo por si mesmo. Durante toda a caminhada ele só soube reclamar dizendo que meu esforço era inútil, não haviam outras pessoas que não nós ou outras crenças que não em Deus, era totalmente impossível.
Valeu a pena, sim, levá-lo até a vila e ver sua reação e a expressão de seu rosto, aturdido. Apresentei-o à minha querida Jesebel e a todos outros tantos amigos e amigas que fiz lá. O coitado não dizia nada, estava realmente chocado com o fato de que não éramos os únicos homens nem tão pouco havia um Deus somente. Era mesmo engraçado observar como tremia e balbuciava palavras a esmo, sem nexo. Nada indicava que iria acabar tendo essa decisão alucinada.
Como já havia dito, meu irmão Abel não era muito esperto, era bem pouco provável que conseguiria entender essa novidade que tentava lhe mostrar. Ele deve ter se lembrado de que eu era considerado uma semente ruim pelos nossos pais e por Deus e que cedo ou tarde iria tentar corrompê-lo. Era mais ou menos o que pude entender do seu ataque furioso. Realmente ele parecia estar convencido de que eu para corrompê-lo o levara ao Inferno e o apresentava como sendo outra gente de outros Deuses. Nosso pai já soube lhe ensinar que o que não foi criado por Deus só pode ser obra do Diabo. Foi horrível quando, a pretexto de manter sua pureza, meu irmão Abel atirou-se contra as pontas de um arado que estava sendo consertado por isso tinha suas lâminas voltadas para cima.
Senti a mão de Jesebel me consolando. Ela fez questão de me acompanhar até o acampamento de meus pais para que, quando eu lhes apresentasse o corpo de meu pobre irmão, ela pudesse me servir de testemunha do ocorrido. Senti que ela começava a se importar comigo e talvez até goste de mim.
Ao chegar meus pais estavam bastante preocupados com a falta de Abel. Não foi o que poderíamos chamar de uma feliz reunião de família. Meus pobres pais, mais que cegos pela crença no meu outrora Deus. Eu, o renegado, carregando o corpo inerte e retalhado de meu irmão, acompanhado de uma mulher que não estava na idéia que meus pais faziam como sendo pertencente à raça humana e justa, restrita à eles e nós, Caim e Abel.
-Caim, o que foste fazer! Manchou o solo do senhor com o sangue de teu irmão por inveja! Deus o amava mesmo sendo tão rebelde! Não era preciso matar teu irmão, Caim!
-Não fui eu quem o matou! Eu o levei a uma vila e lá ele se jogou contra as lâminas de um arado! Ele matou-se por vontade própria!
-mentira! Não há outra vila porque e impossível que haja outros seres humanos que não nos!
-Nem tanto assim, pai! Tenho uma testemunha e uma prova do que digo! Eis aqui Jesebel que ira confirmar o que eu disse!
-E? verdade senhor Adão e senhora Eva. O pobre Caim não tem culpa.
-Conheço-a muito bem! Não vou esquecer teu nome demônio, que encantou nosso já tão perturbado Caim com seu canto para fazer-lhe ver coisas e matar Abel! Deus haverá de cuidar de ti!
-Que? Como ousa?
-Acalme-se Jesebel. Não irá adiantar nada brigarmos com eles. Estão como ostras fechadas na carapaça dura e rígida da crença em Deus. Melhor irmos.
-Irmos? Deixá-los me ofender assim? Só porque tem uma mente estreita não significa que pode ofender as pessoas, senhor Adão! Se existe algum demônio ele está em seus olhos e em você mesmo, que o projeta para mim. Teu medo é teu próprio demônio! O demônio da ignorância! Não resolverá nada, não lhe ajudará transferindo-o à mim porque o que acredita não significa nada, senhor! Terá de volta a mesma ofensa que me dirigiu, pois não me atingiu!
-Prostituta!
-Vá se foder, pai!
Saímos rapidamente e Jesebel olhava-me com surpresa pois ainda não tinha me ouvido xingar daquele jeito que, inclusive nem existia ainda, dirigido justamente ao meu pai! Não sei mas acho que vi seus olhos brilharem de satisfação e orgulho! Nada sei o que meus pais fizeram quando saí mas tive a impressão que não iam contar boa coisa no livro do povo de Deus que seria passado às próximas gerações, se forem ter outras.
Ao chegar na vila de Jesebel arrumei minhas coisas, resoluto a achar uma cidade ou até mesmo toda uma civilização diferente, para colocar minha cabeça no lugar depois de tanta tragédia. Jesebel ofereceu-se para me guiar até a civilização que seus amigos já ouviram falar muito, além de um grande mar, depois do deserto. Claro que seu oferecimento foi além de simples amizade, preocupação ou outro motivos para me guiar pelo caminho certo. Senti que ela começava a me amar também. Logo pude confirmar isso pois uma semana após nossa partida ela cedeu a meus carinhos e me aceitou em suas carnes. A aurora do amanhecer seguinte pareceu mais radiante. E não era impressão. E que o sol crescente fazia refletir os portões da grande civilização ao longe, do outro lado do grande mar, além do deserto. Era uma manha seguida de uma noite, ambas memoráveis. Tive o amor de Jesebel e já estávamos perto da tão cobiçada civilização para estabelecermos nossas vidas e todo o nosso futuro juntos.
A cidade era exuberante, transbordando vida. As pessoas com aquele ar saudável e feliz que a alegria do saber traz. Transpiravam de conhecimento e sabedoria. Não tinha idéia do que alguém como eu, há tão pouco tempo livre do cabresto da crença em Deus, poderia servir aqui, o que viria a fazer se o que tenho e tão pouco? Estaria realmente desanimado se Jesebel não estivesse a meu lado. Decidi que precisaria de instrução mas para tanto deveria ter algum tipo de ganho para sustentar a mim, Jesebel e os estudos. Eu sabia que Jesebel saberia se estabelecer com muito mais facilidade e rapidez que eu, de forma que não a prendi nem a tomei como posse, oficialmente não éramos esposados. A princípio fiquei a consertar coisas como vasos, panelas, armas e outras coisas mais. Durante os intervalos escrevia estas minhas anotações e outros pensamentos, além de poemas. Até que um dia esqueci uma de minhas obras dentro de um vaso consertado e o dono encontrou-a. Fiquei meio encabulado com tal distração achando que o dono do vaso reclamaria mas foi muito ao contrário.
Ele elogiava a precisão e a beleza dos versos, a profundidade e sabedoria de minhas reflexões. Por intermédio dele fui aos poucos sendo reconhecido e vagarosamente as pessoas me pediam uma história ou outra, um poema, uma dedicação. Em breve tinha feito fama e pude largar o serviço anterior para me dedicar a escrever e me senti muito melhor, escrevendo. Não espero que venham a compartilhar do que sinto, seria necessário primeiro que o compreendesse. Quem escreve sente um amadurecimento e uma amplitude de pensamento que se tornam, com o hábito, tremendamente agradável e deliciante praticá-lo, sempre mais e melhor.
Foi de Jesebel que recebi a notícia que trazia em mãos em uma carta, uma certa rainha havia lido meus trabalhos e por causa deles gostaria de me conhecer. Ao que parece gostava muito esta rainha de escrever também e queria trocar idéias e reflexões. Não pensei que pudesse chegar a tanto com minhas obras, levando em consideração que não era tão excepcional assim, a ponto de impressionar uma rainha que deve ter sem dúvida muito mais sabedoria que eu. Mas não podia recusar o convite, era por demais tentador, entrar em contato com uma inteligência superior. Jesebel foi comigo, para me encorajar.
Pusemo-nos a caminho, montados em cavalos. Geralmente nos cobrariam mas ao saberem os donos dos cavalos das honras que estávamos para receber, deixou que usássemos sem custo algum, um tanto para estender a honra até estes donos, dos cavalos.
Ficava louco de paixão vendo Jesebel cavalgar, a combinação da forca selvagem do cavalo com a beleza suave dela faziam um quadro enaltecedor, tiraria ótimas poesias desta imagem, se eu conseguir, se me for possível conter tanta paixão nas linhas dos poemas. Durante a viagem devo ter escrito, reescrito, corrigido e recusado uma centena ou mais deles tentando exprimir tal beleza, sem muito sucesso, não conseguia me contentar, os poemas pareciam meio abestalhados e descontrolados, isso tira a beleza de qualquer poema. Queria realizar este em potencial, para ofertar à minha Jesebel pelo menos antes de chegarmos no reino, no qual a rainha nos estava esperando, para que ela soubesse o quanto a admirava. Cheguei a uma razoável composição, embora ainda não a considerasse boa o suficiente para o que sentia pela Jesebel mas como já estávamos apenas a um dia do reino, quis entregar essa mesma, pedindo-lhe desculpas de ser tão incapaz. Ei-la:
Jesebel
Minha égua de luz
Que me resgataste das trevas,
Das garras sombrias de Deus,
Da infelicidade de viver sob tal crença
De algo tão mesquinho e repressivo,
Vindo a me fazer conhecer tal prazer
Que foi o de encontrar tão amável criatura.
Vendo-a cavalgar tão sublime,
Tão soberana por sobre o macho dominado,
Fico consumido pelas chamas do amor
E cego pelas gotas do ciúme, querendo que fosse eu tua montaria
Numa longa e interminável viagem
Só para sentir mais perto tua pele da minha.
Tu és meu bom anjo da sorte,
A tão esperada boa nova,
Uma profetiza da beleza,
Que me fez despertar
Para as flores do saber
Nas pétalas do teu olhar
E na fragrância do teu ser.
Venho abrindo meu ser diariamente a ti
E lhe ofertando a melhor parte de mim
Como se valesse muita coisa
Mas só o é quando o tens em mãos
Fazendo-o brilhar ao toque
Sob teu olhar de aprovação
Com um pouco de paciência para fazê-lo.
Não diga a ninguém que sou poeta, tudo que faço não passa de lixo
Perto do verdadeiro sentimento,
Além do que não sou tão pouco
Tão bom quanto me fazem acreditar,
Porque sei que tudo que faço de bom,
Só o e porque faço por ti.
Quem nos vê cavalgando
Diria que estou na liderança
Quando és tu que decides,
Hão de estranhar se o admito,
Porque o mais aceitável é o homem dominar
E vão te chamar de demônio,
Mas se tu és um demônio, eu sou tua chama.
Estamos indo visitar um reino
Possuidor de rara sabedoria,
Regido por uma rainha, por causa de minhas obras,
Sempre tomando de ti a luz que me inspira,
Mas é teu o trono, a coroa e o manto
Entrego-te meu cetro com paixão
Para que reines por ele, sobre mim.
Como lhes havia dito não é um poema nem um pouco bom. Mas para minha surpresa Jesebel ficou um pouco aturdida e encabulada após lê-lo, sem saber o que iria me dizer, ficou até um pouco distante pois parecia confusa e indecisa sobre o que faria a respeito desta obra tão medíocre. Pensei, sim, que tinha ficado ofendida por tê-la descrito como ?minha égua de luz?.
Ao chegar na cidade notei que havia uma grande mistura de raças e povos, dos mais diversos lugares, muitos nem conhecidos desta região, vindo de outras terras e mares. Todos contribuindo para o crescimento da civilização que, de volta, lhes davam grande quantidade de saber. Nem chegamos a despertar a curiosidade, era ignorado que estávamos lá por um convite da rainha deste reino que cultuam. Não foi difícil achar o caminho que levava ao palácio, qualquer um conhecia bem.
-E? bem em frente. Agora, se estão pretendendo ter uma audiência, esqueçam. E? completamente impossível com a quantidade de gente que espera sua vez para falar com a rainha.
Todos que nos informavam o caminho nos davam este aviso. Ao chegar em um portão dava para ver, por uma fresta, um imenso pátio todo tomado pela multidão, que pareciam ser doutores ou acadêmicos de uma grande universidade, esbanjando e exibindo sua intelectualidade. Ao ver o convite, o vigia do portão nos acompanhou sorrateiramente até outra entrada, de empregados, com portas abertas, por onde entramos. O próprio vigia avisou ao superior da nossa chegada. Este tratou de nos guiar pelos corredores do palácio, forrados de obras de arte. Paramos num saguão e o nosso guia foi avisar o ministro. No instante seguinte já estava nos recebendo. Seu nome era Belial e coube a ele nos orientar pelos estreitos corredores particulares da realeza, até a câmara, aonde a rainha viria nos receber.
A sala era bem simples e sem muita decoração, destoando nitidamente do resto do palácio, mas tinha bom gosto nas cores da parede e nos móveis. Uma lareira na nossa frente e um armário com livros, os quais fiquei curioso em lê-los em especial, primeiro, antes de qualquer outro que tenha neste palácio.
Belial entrou primeiro para nos fazer levantar e preparar-nos para a entrada da rainha. Uma bela mulher. Um pouco mais velha que minha mãe, eu achei, um pouco mais jovem que meu pai, mas tão bela que quase a comparei com minha Jesebel.
-Senhor e senhora, apresento a Rainha de Gamaliel e futura Senhora da Noite, Deusa da Lua Negra, Lilith, a filha de Leviathan, o Espírito das Trevas, neta do Universo, a Grande Sacerdotisa do Fogo Negro.
Durante os sonhos tribulados de pesadelos que meu pai tinha periodicamente em certas noites, em que a lua minguante já desaparecera por completo, ouvi várias vezes este nome sendo proferido em meio ao delírio. Era por demais igual para ser mera coincidência, embora a tinham como um demônio poderosíssimo, tanto meu pai como meu irmão e minha mãe. Já devia saber que existiria um certo exagero, mas afinal, não os vi chamar minha doce Jesebel de demônio também? Mais uma vez uma comprovação do absurdo na crença em Deus me aparecia, para aumentar meu alivio e aumentar minha curiosidade de saber qual é a história verdadeira.
-Então és tu o poeta que me impressionou. Como é teu nome, jovem?
-Caim Adaneu.
-Não o filho de Adão que se achava o único homem porque foi criado por Deus?
-Infelizmente sou eu mesmo.
-Que feliz encontro! Poderá confirmar algumas duvidas que tenho sobre o passado recente de Adão. Conte-me sua historia até hoje.
-Foi a partir dos cinco anos que meus pais começaram a me ensinar a crença em Deus, de como tudo foi criado por Ele e de como nos devíamos ser gratos pela bondade dEle de nos ter criado, de como fomos expulsos da presença dEle e de como temos que pedir perdão divino. Mas eu via tamanha extensão do território e queria saber porque Deus teria tanto trabalho para apenas nos criar para vivermos sozinhos nesta terra? Cresci duvidando, mas tendo que, a princípio, aceitar tais ensinamentos, visto que não tinha muitas alternativas. Se não tivesse encontrado Jesebel, meu grande amor, não teria conseguido o firme propósito de continuar duvidando e achar elementos que comprovassem o engano da crença em Deus. Era muito difícil aceitar algo tão contrario ao conhecimento que é fundamental para que fosse reconhecido como Deus, mas não O conhecia, nem O via, como poderia levara sério tanta falta de lógica? Conhece o passado de meus pais um pouco melhor que eu. Pode me satisfazer tal curiosidade, majestade?
-Teu pai e eu temos quase a mesma idade, tínhamos origens e pertencíamos a povos completamente diferentes. O meu, estava extremamente preocupado em encontrar mais saber pois acreditávamos que era essa a forca capaz de modificar o mundo e melhorá-lo. Esperamos que um dia tal saber nos faça merecer viver num mundo melhor, depois da morte. Eu via de meu povoado, ao longe, um outro que me preveniram para manter distancia. Era um povo com um rei que acreditava realmente que era Deus e contava com muito auxílio, para realizar suas proezas e fazer seu povo acreditar nele. Quando veio a ter um filho que, segundo me consta, foi por ocasião suspeita, considerou-o como sendo o primeiro homem porque era filho de Deus, enquanto que o resto de seu povo não era mais que meros animais. Entretanto, nos em peregrinação, em busca de tal lugar especial, teríamos de passar pela região deste povo. Este rei, muito sagazmente, percebeu com informes que nos éramos mais fortes, mais bem armados e poderosos, por isso propôs ao meu pai um acordo entre lideranças. O seu Deus propôs para meu pai, Leviathan, que se unisse Adão comigo para evitar conflitos e começar a colaboração entre os dois povos, pelo bem comum. Foi quando tive contato com teu pai, Caim. E como deve saber, ele era extremamente ignorante, prepotente, pretensioso, arrogante, retrogrado, repressivo, imbecil... enfim,alguém que não merecia o mínimo de consideração. Eu mesma, tomada de raiva, liderei um ataque rápido, porem fatal e fulminante, para colocar este Deus no seu devido lugar. Não foram muitas as baixas, mas apenas os colaboradores diretos de Deus, chamados de anjos, sobraram sem muitos ferimentos, com umas poucas e fiéis pessoas a Deus. Então Ele pôs na cabeça de teu pai que eu era um demônio e que com muito custo me expulsara para o bem dele. Ele presenteou teu pai com Eva, tua mãe, de uma das poucas famílias que sobraram antes de serem completamente dizimadas pelo teu Deus. De resto, fiquei sabendo por historias e boatos de outros povos que acompanharam meio de perto este Deus mas não sei se foram verdades. Ao que parece teu pai e tua mãe foram expulsos do jardim de Deus após um pecado gravíssimo, tentados pela serpente demoníaca, sendo condenados a trabalharem para seu próprio sustento. Fiquei sabendo por boatos de tu e Abel, de como foste acusado da morte dele e condenado a vagar sem descanso, segundo consta nas historias que li.
-Não é verdade! Abel matou-se, o imbecil, porque começava a ver e a perceber que alguma coisa não estava certa, mas era muito difícil que viesse a duvidar de meu pai e de Deus. Achou que estava no Inferno e que eu tentava corrompe-lo, acabou matando-se para manter sua pureza.
-Foi assim mesmo. Eu estava lá, eu vi, posso tranqüilamente testemunhar isso.
Jesebel defendia-me, eu ficava grato, mas aqui parecia que as pessoas tinham uma compreensão maior, de forma que fomos meio precipitados em nos defender tão ardorosamente. Lilith ria discretamente com se já soubesse. Lembrei que, se conhecia prováveis outros deuses e teorias da criação, deveria estar nos livros que ela tinha, que com certeza deviam ser estes da câmara em que estávamos, notadamente antigos e volumosos, que pelo que pude ver rapidamente, tratavam justamente em esclarecer duvidas que até eram minhas também.
-Majestade, vejo que conheces bem mais sobre o passado do mundo que qualquer um. Tanto que tens estes livros que parecem ser muito interessantes e bem elucidativos. Ë possível permitir que eu os leia?
-Isso é um pedido tentador. Mas espero que me entenda, por ora não é muito recomendável que tenha acesso a estes livros em especial. Peço-te um pouco de paciência, estes livros vão precisar de que tu antes venhas a preparar-se com ensinamentos básicos para que melhor possa entendê-los, caso contrario seria inútil que viesse a lê-los. Além do mais que eles não são somente livros de outras origens e teorias, mas muitos são memórias das experiências e sabedorias de meus amigos e amigas que agora são meus ministros e ministras. São livros portanto bem valiosos e tenho muito cuidado com eles. Não posso empresta-los a qualquer um sem correr o risco de que venham a ser destruídos pela fúria religiosa do leitor ou terceiros. Mas se isso lhe serve de consolo, poderá conversar com meus amigos e amigas, tenho certeza que eles ficarão contentes em contar o que sabem, de uma forma mais interessante e divertida que esses livros. Mas terá muito tempo para isso. Por enquanto aceite nossa hospitalidade e permaneça por aqui, aprendendo e escrevendo para que meu povo o leia, com muito gosto e admiração por tua farta e rica imaginação. Agradecemos por tua vinda e de tua Jesebel também. Fiquem à vontade.
Belial abriu a porta para que a rainha passasse e pude ver que ela olhou um pouco com pena e desdém. Acho que ela não gosta muito do tratamento real que Belial desperdiça com ela. Se fosse rei, sentiria o mesmo. Tendo uma herança junto ao campo, liberdade e amizade, é difícil aceitar os encargos que a nobreza traz, junto com a burocracia e o protocolo formal. Fomos orientados para nossos quartos e lá nos deram um mapa para que encontrássemos as demais dependências de nossos interesses. Da janela do meu quarto pude ver boa parte daquele imenso pátio fronteiriço do palácio lotado de professores e doutores esperando terem a mínima chance de se consultarem com a rainha que não só deu prioridade máxima para mim como acolheu a mim e a Jesebel em seu lar. Minha pobre adorada cansada da viagem dormia despreocupada e deliciosamente na cama que escolhera, não quis perturba-la, a deixei dormir enquanto explorava o palácio pois não conseguia dormir de tanta felicidade de estar aqui.
Para tornar mais interessante o passeio não utilizei nenhum mapa, andava aleatoriamente pelos corredores, entre um salão e outro, admirando os jardins internos, as obras de arte, as pessoas que lá se encontravam, ocupadas em seu trabalho de serviçais.. em certo momento surpreendi numa câmara, além da biblioteca que lá tinha, uma senhora que se esforçava demais para manter os livros em ordem e limpos. Ficou meio surpresa quando me viu a ajuda-la sem fazer cerimônia, pois não me conhecia, nem era provável que fosse um serviçal do palácio. Apesar de minhas vestes ainda serem aquelas que fiz há muito tempo, selvagens e primitivas, ela deve ter suposto que eu era algum convidado da rainha, pedindo com gestos para que não me importasse. No palácio até o mais simples serviçal tem vestimentas próprias muito mais vistosas que as minhas que contrastavam radicalmente da veste desta senhora, toda refinada. Mas quem disse que ligo? Ajudei-a assim mesmo. Agradecida me ofereceu um livro que me foi dado meio de escondido, como se ninguém pudesse saber que ela me tinha emprestado tal livro. Voltei,com um pouco de esforço de memorização do caminho que usei,para meu quarto e a pobre Jesebel dormia os mais pesados sonos. Também comecei a sentir cansaço de forma que adiei a leitura do livro. O deixei escondido, para que mais ninguém o encontrasse e viesse a comprometer aquela agradável senhora. Só então pude dormir sossegado na cama que sobrara, junto à janela que anunciava as altas horas da noite mas ainda o barulho discreto do murmurinho da multidão que se acotovelava no pátio fronteiriço do palácio.
Comecei a ler o livro no dia seguinte, logo que acordei e notei porque tanta preocupação da senhora que me emprestou tal livro escondido. Era a historia da criação contada numa versão tal que me parecia muito mais provável de ser verídica, além de contar as origens de meu Deus, meu pai, minha mãe e até sobre eu! Interessei-me sobretudo pelos pensamentos e poesias que lá estavam, simples mas fortes. Tinha também a historia da rainha Lilith e de seu reino que vim a saber ser o das Trevas, oponente ao reino de Deus que vim a saber ser o das Luzes. Fiquei tão entretido na leitura que não parei até acaba-lo no mesmo dia, apenas fazendo intervalos para o almoço, janta e um tempo para namorar Jesebel. Ao termina-lo quis devolver para a senhora, antes que dessem pela falta deste livro e viessem a puni-la por causa disso.
Encontrei-a na mesma câmara, que é uma biblioteca, ainda ocupada com a conservação dos livros. Ela ficou alegre ao me ver retornando depois de tão pouco tempo de empréstimo e que eu estava tomando os mesmos cuidados de esconder o livro, visto que me preocupava com o que poderia vir a acontecer com ela se descobrissem essa infração.
-Muito grata por devolver-me tão rapidamente este livro, foi muita gentileza sua.
-Eu é que devo agradece-la por um livro tão bom e cativante. O trouxe de volta sem que ninguém o visse em minhas mãos.
-Muita consideração a tua. Ës um jovem realmente inteligente. Fizeste bem em devolve-lo às escondidas. E? um livro muito precioso para Nossa Majestade.
-Eu percebi. Espanta-me que meus poemas tenham conseguido agradar a rainha tendo ela escritor tão formidável. Quem é este tal de Siron?
-Fale baixo, por favor. Este livro nem sequer deveria existir, o escritor ainda sequer veio a nascer.
-Como isso é possível?
-Este livro foi tomado do futuro apesar de ter sido realizado no ano passado. Acontece que esse escritor virá a ser habitado por um forte pensamento. Os seres não são formados apenas de alma e matéria, são formados de um espírito de intenção que ganha forca pelo pensamento que ira formar e fazer crescer a alma e a matéria. O espírito desse escritor ainda não veio a conhecer a condensação em alma nem a concretização em matéria mas o pensamento que possui já é capaz de realizar tais obras que estão no livro que te emprestei. E fico contente de tê-lo feito, agora que sei que é o convidado tão esperado da rainha, o poeta Caim que causou grande tumulto em meio aos doutores que não souberam explicar teus versos e o fenômeno que é um camponês compor tão perfeitamente.
-Já que me conhece, pode me dizer quem és?
-Eu sou Belphégor a futura Deusa da Palavra.
Quando disse isso. Os livros que restavam fora do lugar moveram-se por vontade própria e se puseram nos seus lugares. Eu que tinha saído da crença em Deus, não faz muito tempo, fiquei impressionado. Ao contrario de Deus, que agora odeio, esta futura Deusa já demonstrava seu poder a meus olhos, a única maneira de se reconhecer uma divindade. Lembrei que a rainha era a Deusa da Lua Negra e me perguntei que poderes ela teria.
-Existem outros Deuses e Deusas além de ti e da rainha que é chamada de Deusa da Lua Negra?
-Sim, todos os nossos amigos e amigas, são ou serão Deuses e Deusas não pela idéia de dominar os homens com uma fé mas sim para torna-los livres, pelo pensamento, saber e ciência. Deixaremos os homens decidirem pelo próprio destino. Apenas os orientaremos para saberem disso, que estão por conta própria neste mundo e que, só através da razão poderão tornar este mundo melhor e sem duvida terem por mérito uma vida agradável na eternidade, em qualquer Reino do Universo que quiserem.
-Quem são e de onde são? Como pensam e explicam a origem das coisas e como foi a vida de cada um? A rainha já me disse que são de diversas partes da Terra.
-Isso vai ser uma narrativa longa mas como eu tenho a guarda da memória, irei contar até melhor que eles a lenda de cada um, começando por mim, é claro.
Historia de Belphégor:
Meu povo é o egeu que desde suas origens desenvolviam a arte de pensar e da oratória. Ricos em mitologias e lendas, fazíamos os deuses tão falíveis quanto os homens e ainda os escarnecíamos em nossas comedias, as epopéias em que se metiam.
Eu já era filha de um tribuno com uma sacerdotisa, de forma que me tornei hábil em interpretar as leis religiosas que influenciavam o desenvolvimento de nossa filosofia.
Mas a minha melhor descoberta eu não revelei a ninguém que foi a de vir a conhecer este Reino e a majestade. Se bem que vim a conhece-la ainda como princesa das Trevas. Nutri um grande respeito e admiração pelo seu pai Leviathan de quem eu quase obtive confissões e memórias pessoais de suas origens e planos. Do pouco que sei, pareceu-me lógico que tenha conseguido realiza-los, sejam eles quais forem.
Antes de nos deixar e tornar sua filha rainha , entregou para minha responsabilidade, a guarda da memória deste Reino, por isso vim a ser chamada de Deusa da Palavra, pelo dom da fala e do discurso que tenho.
Historia de Samael
Ele é o grande amado de Lilith, rainha de Gamaliel. Tem uma interessante lenda a seu respeito, mas a verdade é bem outra.
Seu povo é o árabe, filho de um clã cansado da dominação de Alah em suas vidas e no progresso do seu clã. Já tinham uma fama de serem quase infiéis, então a família de Samael tiveram de virar nômades, perseguidos pela incompreensão religiosa. Ele nasceu no meio dessa constante fuga e exílio, acabou aprendendo a duras penas sobreviver e lutar contra possíveis agressores que surgissem.
Um certo dia, acuado e prestes a ser morto, seu oponente caiu pálido e rígido com muita rapidez. Samael viu uma cobra do deserto terrível e imensa a olha-lo fixamente. Não o atacou mas lhe deu visões. Decidiu adotar a imagem desta serpente como sua identidade e protetora contra Alah e seus seguidores
Mais tarde veio a saber com seus familiares que este ser era bem possível que fosse uma forma do anti-Alah, conhecido por Habal (Al Hab), mas como não eram religiosos não se importaram que Samael lhe rendesse homenagens. Foi com essa viagem interminável, continua reflexões e experiências que se tornou esperto também. Foi essa combinação harmônica de guerreiro e sábio que viria a conquistar o coração de nossa rainha. Não o tenho visto embora nossa majestade afirme que ele se tornou a Serpente do Fogo Negro ou mesmo Samael para as gerações futuras.