De leve...

O táxi encostou no meio-fio, e parou. Duas mulheres lindas e bem-vestidas saltaram pela porta traseira, trocando tapas e desaforos entre si. E teriam rolado aos agarrões pela calçada, não fosse a presteza do motorista em sair do carro e colocar-se entre ambas, tentando serenar os ânimos. Alertada por ele, a mais velha olhou com imenso desconforto para os curiosos em volta, pagou a corrida com uma nota de cinqüenta reais, sem esperar troco, e afastou-se rapidamente, puxando a mais nova pelo braço. Saíram de mãos dadas, chorosas, e atravessaram a rua no primeiro sinal. 

Do meu posto de observação no Princesinha da Ilha, pensei comigo: “Cara de uma, focinho da outra.” 

Na mosca. 

O taxista entrou no bar e pediu um chope. Olhando para o meu lado, percebeu que eu já estava de bloquinho em punho, cara de foca, aguardando um esclarecimento. 

“Mãe e filha”, disse ele, entre pesaroso e zombeteiro, “brigando por causa do namorado.” 

“Da filha?”, indaguei. 

“Das duas”, respondeu. 

Sem inteirar-se de que várias mulheres ali perto tiravam uma casquinha da nossa conversa, ainda caprichou: 

“Pelo que eu pude entender, brigaram porque o malandro anda machucando mais a coroa.” 

Bebeu o chope de um só gole, pagou a conta e deu o fora. 

De leve..., como dizia o outro.

[17.6.2006]