Filosofando...
Hoje, finalmente, surgiu o sol, ainda que tímido. Meio preguiçoso, depois dos dias de folga. Um céu palidamente azul ousava apresentar-se, não sabemos por quanto tempo. Todos estes últimos dias, caía sem parar a chuva gelada. Ora pesada, ora fininha e pontiaguda, penetrando até à alma. O ar cinzento, denso, pesado, caía opressor sobre as pessoas.
Pelas ruas, rostos tristes passeavam um ar de cansaço, desânimo, aborrecimento. Cada um a ruminar os seus problemas. Alguns, obrigados pelo trabalho a vaguear pelas ruas, não tinham alternativa a não ser molhar-se. Donas-de-casa a pensar nas roupas molhadas penduradas no varal. Carros a espirrar água e lama nos pedestres. Enfim, ninguém contente. E eu divagando sobre a chuva e o frio.
Mas, estou bem abrigada, agasalhada. Posso me dar ao luxo de filosofar sobre a tristeza, a melancolia, a monotonia do cinza. E os que não têm um teto que os abrigue, um trapo qualquer que os agasalhe? Frente à necessidade premente do corpo, qual a importância da sensação de opressão da alma?