Cada um conhece a sua janela
É muito cômodo observar o mundo de nossa janela, achar os defeitos de nossa janela, apontar o dedo de nossa janela, discutir sobre governo, esporte e desemprego apoiados no parapeito de nossa janela. Difícil é olhar da janela do outro, saber que para algumas pessoas existem mais que um Brasil, mais que um governo ou uma Copa do mundo.
Difícil mesmo é olhar da janela daquele pai que levanta todos os dias às 5h da manhã para ganhar um pobre salário para sustentar seus filhos e saber que existe outro, bem folgado, sendo sustentado por ele, que recebe um valor um pouco maior para cada filho, recebe essa premiação por ter cometido um crime e agora tem que pagar sua pena preso. Difícil mesmo é saber que o frio chegou, e eu que gosto tanto dessa estação, todas as noites quando deito em minha cama quente, com três ou quatro cobertas, lembro que em vários lugares desse mundo tem crianças cobrindo-se com um jornal ou papelão. Difícil é pensar em toda a comida que é jogada fora, por não atender os requisitos da vigilância ou por ser destinado a um grupo de pessoas pelo prazo de validade de algumas horas, se estás não aproveitarem, ninguém mais aproveitará.
E mesmo sabendo que estes não são nem um terço dos problemas sociais, percebo o quanto é fácil para todo mundo falar da sua janela, da sua visão de mundo e das coisas, mas também percebo quão poucos fazem isso. Infelizmente é uma porcentagem baixa de pessoas que assumem seus deveres perante a sociedade, são poucos os que saem de sua janela e buscam a solução desse caos que vivemos. Pois é claro que o mundo está perdido, que os jovens não querem mais nada, que a educação retrocede, que os políticos roubam, que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres e é claro que é mais fácil ficar aí, de braços cruzados, da sua insignificante janela reclamando da vida. Deve sentir-se orgulhoso, é uma bela contribuição!