Sonhos: um conto de uma crônica
Era por volta das 17h40min quando começou a chover, eu acabara de chegar em casa depois de um longo dia de trabalho. Meu corpo estava cansado e, apesar de eu ter feito a siesta depois do almoço, minhas pálpebras pesavam cada vez mais. Eu sabia o que estava acontecendo; sabia que o cansaço do corpo era apenas um reflexo de uma mente que vem sendo castigada nos últimos anos... Mas sem entrar no mérito da questão, nem pensar muito neste assunto, me despi e fui direto ao banheiro tomar uma ducha gelada – quem mora em Belém sabe que, mesmo chovendo, a temperatura não diminui no final da tarde – e era justamente o que eu estava precisando: tomar um bom banho para relaxar tanto o corpo quanto a mente.
Depois do agradável ritual de relaxamento, era hora de decidir o que preparar para o jantar; fui até a cozinha, abri a geladeira, pensei por alguns segundos e decidi preparar algo rápido e leve: uma salada verde com torradas certamente seria uma excelente escolha...
A chuva dera uma trégua. Fui até o quarto para abrir a janela quando olhei para a cama e não resisti; eu precisava completar o “ritual de relaxamento” e deitar por alguns minutos, afinal de contas eu não tinha nenhum compromisso naquela noite a não ser preparar meu jantar, ler algum livro ou escrever alguns textos por puro prazer... Como já era de se esperar, eu já estava esparramado na cama e, graças ao cansaço, não demorou muito para que eu estivesse num sono profundo e com direito a sonhos. Sonhei que eu estava na minha própria casa, mas que ao redor dela havia uma floresta com árvores imensas e, no alto de uma das árvores, um pássaro gigante – uma mistura de águia com arara vermelha – que fazia uns barulhos estranhos e agudos, quando olhei para o chão vi um ninho com vários filhotes deste pássaro esquisito saindo de seus ovos. E parecia bem real se não fosse o fato de não haver uma árvore sequer ao lado da minha casa, quanto mais uma floresta com árvores imensas e pássaros exóticos...
Acordei. Olhei para o relógio e os ponteiros já marcavam 20h, eu não tinha a intenção de dormir tanto, porém acordara revigorado. Fui até a cozinha para preparar a salada e, para minha surpresa, o que eu encontro no fogão: uma panela fervendo com feijões verdes cozinhando. “Égua! Eu não acredito!” – mais uma vez aquela cena se repetindo – “Mais uma vez eu coloco algo no fogo e caio num sono profundo! Qualquer dia eu incendeio a casa e...” – na primeira vez que isso ocorreu foi quando eu cheguei em casa de uma festa de manhã, coloquei água no fogo para preparar o café, sentei na cama e desmaiei de sono, quando acordei a água já havia secado e o bule já estava com o fundo derretido, por pouco não acontece uma tragédia –. Bem, o jeito foi pegar o garfo e verificar se os feijões já estavam cozidos – naquela altura até uma pedra já estaria – e tudo parecia bem real se não fosse o fato da mesa e da geladeira não estarem dispostos no lugar de antes... “Epa! Eu não mudei nada de lugar aqui na cozinha.” Quando olhei para o fogão mais um pensamento me ocorrera: “Eu não me lembro de ter comprado feijões verdes, muito menos de tê-los colocados para ferver antes de dormir.”
Acordei. Isso mesmo, eu estivera sonhando novamente. Levantei da cama com um pulo e corri para a cozinha, fui certificar-me de que não havia nada no fogo. E não havia. E tanto a mesa quanto a geladeira estavam no mesmo lugar que antes. Tudo estava na mais perfeita ordem. “Será?” – pensei.
Fiquei ali então, parado, pensando nesses sonhos dentro de outros sonhos que mais pareciam uma cena do filme A Origem, onde os protagonistas não sabem se estão sonhando ou vivendo a realidade. Fiquei sentado durante vários minutos, esperando acordar novamente e perceber que até a mais perfeita ordem não passara de outro sonho...