"MAÇÃS GELADAS", UMA NOVIDADE EM MANAUS!

Enquanto na área do porto de atracação dos barcos regionais o locutor Kimura anunciava a chegada e partidas das embarcações pela “Voz Praiana”, carroças circulavam pelas ruas de paralelepípedos de uma Manaus encravada em um Amazonas de apenas duas estações, - inverno (chuvas) e verão (sol torrencial), as catraias coloridas ainda deslizavam suaves pelas águas límpidas e transparentes transportando pessoas e cargas, ligando bairros da cidade, ainda sem pontes.

Era cenário que, no final da década de 70 e início da de 80, vendedores anunciavam aos gritos: “olha a maçã gelada”, “quem vai querer maçã gelada”, logo depois da inauguração da empresa C.O Produtos Importados, de propriedade do empresário Ambrósio Assayag, que tinha sua sede no antigo prédio histórico da empresa de navegação Booth Line, fundada em 1866 por Alfred Booth & Co e que prestou serviços nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, incluindo a Amazônia. Depois, por vários motivos e razões, mas, principalmente pelo fim do período áureo da borracha, a linha que passava por vários países e portos, fora desativada com a desculpa que o “Amazonas era muito longe”.

O prédio, imponente e em estrutura colonial da empresa Boot Line, no qual se localizou depois a empresa C.O. Produtos Importados, funcionava na Rua Monteiro de Souza, 44, esquina com a Praça dos Bondes, em frente a Igreja da Matriz e era conhecida pela sociedade amazonense, apenas como “Booth”.

Mais acima, no sentido centro-bairro, passando pela superintendência do Banco do Brasil, seguindo rumo ao Tabuleiro da Baiana, existe ainda um prédio histórico tipo castelo, - acredito que tombado pelo Patrimônio Histórico, mas, agora, tombando literalmente pelo descaso falta – funcionou a sede da extinta Loteria Estadual, - cuja proposta para sua recriação, destinando fundos ao falido esporte do Estado, de autoria do ex-deputado estadual Manoel do Carmo Chaves, com a colaboração do ex-chefe da Casa Civil, José Alves Pacifico e de Jorge Pinho, está parada há anos na ALE, nas mãos do então relator, deputado Belarmino Lins, o que acredito já ter sido arquivado.

Depois, no mesmo local e por longo período, também funcionou no prédio em forma de castelo, a Companhia de Eletricidade de Manaus – CEM - administrada por Jorge Baird, o qual, como jornalista de A NOTÍCIA, entrevistei-o em inúmeras vezes e por razões diferentes.

A empresa C.O. Produtos Importados, ou “Booth”como era chamada, fazia a festa de famílias abastadas daquela Manaus bucólica e tranquila de um passado que o progresso destruiu rápido, comercializando produtos importados como Leite em Pó da marca Sanden, caviar alemão, a famosa vitrola de pilha importada da marca Balair, champanhe francesa, bolachas inglesas e holandesas, além de frutas diversas – uva, maçã, pêra – e perfumes americanos e franceses, além dos famosos relógios japoneses da marca Seiko, que inundaram a cidade daquela época.

Maçãs geladas e outras frutas eram anunciadas no meio das ruas, nas esquinas, como “geladinhas”. A “Booth” também abastecia aos comerciantes da Feira das Frutas que funcionava na Rua da Instalação, a qual, alunos do Colégio Estadual que a frequentavam em busca das “mariposas da noite”, chamavam-na de “Feira das Putas”. Nessa área do chamado “baixo meretrício”, a vereadora Otalina Aleixo, com o apoio de candidato a presidência da República pelo voto direto, Paulo Maluf, desenvolveu uma de suas ações mais lembradas campanhas sociais até hoje: a distribuição de calcinhas e preservativos às frequentadoras do local.

Sem se importar muito com esse bucolismo da cidade dos anos 60 e 70, as catraias ligavam os bairros de Educandos ao centro; do Morro da Liberdade ao da Cachoeirinha; o de Aparecida ao de São Raimundo, além de outros, em uma Manaus de pouco mais de 300 mil habitantes e ainda sem pontes sobre os Igarapés de águas límpidas, que faziam a alegria de muitas famílias, com muitos balneários.

As catraias eram canoas grande, pintadas com cores berrantes – azul, amarela, vermelhas etc., maior do que as usadas por caboclos e índios no interior, com bancos em todas suas duas laterais e dois remos manipulados ao mesmo tempo, por catraieiros musculosos.

Os vendedores de maçãs geladas, nas ruas apinhadas de pessoas em busca de novidades no comércio da Zona Franca, anunciavam seus produtos aos gritos. Eu, parado, observava tudo do ponto em que vendia jornal sem poder comprar uma delícia, que era uma maçã gelada. Eu, um mero jornaleiro, não possuía dinheiro para adquirir uma maçã gelada! Só ficava olhando o movimento de fregueses e desejando uma.

Mas era tudo novidade!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 20/06/2012
Reeditado em 20/06/2012
Código do texto: T3734118