[GALHO DE ARRUDA, 2.2.2007]


Junte-se a nós


Agora, sim.

Marina parece que aposentou as garras afiadas e volta a visitar o meu Galho de Arruda (www.galhodearruda.com), com as unhas cortadas e bem-feitas. Está um doce. Nos últimos dois anos xingou-me de tudo o que pôde através de e-mails da mais pura crueldade, insistindo em que minhas crônicas e poemas eram uma boa droga. Nunca bronqueei. Já estou careca de saber que algumas mulheres só conseguem amar dessa forma, e por isso mesmo sempre encarei suas críticas destrutivas como verdadeiras declarações de amor, cabotinismo à parte.

Seu primeiro e-mail em 2007 — escreveu-me trezentos e quinze no ano passado, todos malcriados — fala de umas coisas em que também este cronista nem pode acreditar. Chega de mansinho, sem farpas, dengosa como nos tempos pré-internéticos, elogiando textos de minha autoria que ela arrasou em 2005 e 2006 e dizendo que eu sou o tal nas escovadas. Duplo sentido? Agora quer combinar um chopinho e uma água tônica comigo em Cascadura, onde mora, e garante que apesar de todas essas últimas décadas envelheceu lindamente, com tudo no lugar. Se não estiver mentindo (quem sou eu para duvidar dos milagres deste mundo?), então Marina encontrou a pedra filosofal, o elixir da juventude ou o gel multigolêmico do anjo negro da pirâmide. Afinal, são trinta e tantos anos de separação! Se ficou parecida com a mãe, quando namorávamos, é melhor não combinar nada. (Risos, minha querida, risos. E um beijo na ex-futura sogra, pois sei pelos amigos comuns que dona Edite continua vendendo saúde.)

No entanto o grande problema de Marina é outro. Tem pensado em registrar-se na comunidade do Recanto das Letras e ao mesmo tempo receia publicar seus escritos, que até hoje tomam um tremendo chá de gaveta, à espera de um acaso feliz. Confessa que andou bosquejando (você ainda diz bosquejando, Marina?) umas crônicas, mas julga que não sabe começá-las com a naturalidade que o gênero requer. Eu não poderia dar umas dicas?, pergunta, traindo uma certa aflição nas palavras que escolheu em seu e-mail. Que posso dizer? Mãos à obra. Já os franceses declaravam que l’appétit vient en mangeant; se houver um mínimo de talento, é só tocar o barco. E ler os nossos melhores autores. Isso é indispensável. Nem sempre conseguiremos aquele começo de crônica do Sabino: “Na reunião de pais só tinha mães”, mas com o tempo a gente também acaba bolando umas coisinhas bem interessantes. E que tal um mau começo, no começo, com um desenvolvimento impecável?

Sem escrever é que não se vai a parte alguma. Escrever e publicar, agora que a grande rede abriu esse espaço para todos. E não ter medo de que lhe chamem, de modo pejorativo, cronista de internete, pois, como dizia o insuperável Heráclito no mesmo contexto emocional, na internete “também moram os deuses”. Ainda não dá dinheiro, é verdade, mas a grande maioria dos autores nacionais que não abrem mão do impresso ganham uma mixaria com que publicam e contam com muito poucos leitores. Menos até do que se tivessem um sítio internético bem divulgado. Fala aqui quem conhece alguma coisa sobre o encalhe em nossas editoras. Para concluir e dizer o que eu mesmo penso, por que desprezar o serviço que o papel impresso e o virtual podem prestar um ao outro?

Enfim, pau no burro, Marina. Lembro-me muito bem dos seus textos na faculdade, e eram bons. Hoje, pelo menos nesse particular, você deve estar ótima.