O pecado da esperteza
Algum vírus desconhecido e benigno atingiu ao prefeito de minha cidade nos últimos dias. Num passe de mágica, obras que se estendiam “ad infinitum” sem serem sequer lembradas, de repente, começam a ser feitas em tempo recorde.
O Acesso ao meu bairro está sendo melhorado, os abrigos dos pontos de ônibus são recuperados e pintados, ruas do centro da cidade que eram esquecidas estão sendo asfaltadas, riachos estão sendo canalizados, e, pasmem, ontem, os serviçais da prefeitura, cortaram a grama que, mesmo do lado externo ao meu pátio, sou em que corto, isso tudo, feito ao mesmo tempo.
Kico e Chaves, meus dois neurônios, começaram a discutir, para entender.
– Não vês que esse é trabalho dos prefeitos, seu tonto! Bradou o Chaves.
– Siiim isso eu sei, -respondeu o bochechudo-, mas, por que só agora e tudo ao mesmo tempo?
- Porque o mesmo tempo dá para todos os trabalhos, ora.
– Mas, e os três anos que passaram onde nada disso foi feito?
– Eles deveriam estar se preparando para fazer bem feito agora.
– Ai cale-se, cale-se, você me deixa loooooucoo!!!
Infelizmente, mesmo os dois patetas não entendendo, a coisa é sempre assim.
Com frequência se acusa alguém de “usar a máquina pública para se promover”; mas, pergunto; qual deles não faz? Durante três anos, a prefeitura parece tartaruga, e, milagrosamente, em ano de eleições, corre como lebre.
Não estou dizendo que as melhorias feitas são erros, antes, são bem vindas, mas, estou avaliando a astúcia safada das raposas políticas às custas da ignorância do povo. Será que, se isso tudo fosse feito ao longo do mandato não seria percebido? Eles parecem achar que não.
Contrário ao dito que a primeira impressão é que fica, eles jogam tudo na última, ou seja; no fim de seus mandatos. Se bem que, a um olhar retroativo, a última, acaba sendo a primeira.
Malgrado suas lorotas de comícios, que são servidores do povo, não passam de carreiristas, jogando com a ignorância da plebe.
A mim bastariam governantes que fizessem o que deve ser feito em tempo oportuno, e me representariam, mas, estão em falta no mercado.
Contrário ao postulado de Sócrates, que “os bons devem ser forçados a governar”; os de mau caráter se esforçam por conseguir isso a todo custo.
Mas, esse “jeitinho” está tão incorporado ao meio, que até os “bons” fazem; os maus seriam os que são flagrados em corrupção de grande monta.
Esse não é um fenômeno de minha cidade, tampouco, restrito a esse o àquele partido; é uma praga que se repete de quatro em quatro anos, quando o dito “vírus” os contagia. Diria um gaiato que é o “Vírus de quatro”, embora seja sempre o povo que fica na posição que Aqueloutro perdeu a guerra.
“A ingenuidade quando é demais se torna quase um pecado. A esperteza sem limite, é o próprio pecado.” Murillo Leal