Os donos de Deus

Nesta altura da minha vida já devia ter me conformado com alguns absurdos, mas confesso que ainda não consegui.

Ainda me espanto com a arrogância e a petulância de muita gente que acredita ser dona de Deus.

Assim, desta forma, escancaradamente.

Pós-graduados na Divindade, repetem com a língua solta e ácida o que leram nas escrituras.

Resta saber em quais escrituras.

Por que na minha insignificante opinião, a Palavra de Deus é uma só, independente de onde esteja registrada.

Confesso que fico decepcionada, frustrada, arredia e até entediada com o desfile de citações, de capítulos, versículos e profetas quando no final das contas, tudo o que se vê é a hipocrisia de quem acha que Deus é um instrumento para a sua agressão, para sua revolta, para sua vingança...

Sei lá, minha concepção é diferente. Aprendi com gente simples que não citava nenhuma linha, mas vivia no respeito e no silêncio do amor que emanava de um Deus presente em todas as coisas, em todas as horas.

Sim, fico chocada com os donos de Deus. Seres humanos como qualquer outro deste planeta, mas que se travestem de juízes, de algozes, de justiceiros e que, com verbos soltos e vazios, adquiridos mais em mera leitura do que em reflexão, se julgam no direito de dizer o que Deus quer ou não.

Quem são estas pessoas?

Quem lhes atribuiu tal poder?

Quem disse que seu verbo é reto é imaculado?

Quanta pretensão!

Quantas guerras teriam sido evitadas se apenas um ensinamento cristão tivesse sido seguido.

Enfim, acho que preciso de mais anestesia, acho que preciso de distância disto tudo. Se eu tiver que apontar meu dedo acusador para o meu semelhante (aquele que TAMBÉM foi feito à imagem e semelhança de Deus) e gritar em alto e bom tom que eu e meu seleto grupo temos o dom da verdade, não pecamos e sabemos todas as resposta, Deus já não tem sentido, pois passamos a ser o Próprio, ou não?

Intolerância caminha junto com a ignorância. Juntas são as progenitoras da discórdia, da ruptura, do rancor e do ódio tantas vezes usado para justificar os atos e as palavras “santas e belas” dos senhores de Deus.

Nesta altura da minha vida, a casa de Deus é feita de justiça, amor, perdão e redenção. É ela que me acolhe, é nela que quero estar. O resto, para mim, é tagarelice pura, tola e vazia.

Nesta altura da minha vida, quero sim, distância dos donos de Deus. Que empunhem suas bandeiras e que continuem ceifando o mundo do pecadores que foram julgados por sua duvidosa sabedoria. Aliás, pecado é algo que os donos de Deus nunca cometeram.

Será?

Quanta tolice!