Hagar, o Horrível.
Quando nós nos damos o trabalho de parar e observar a Natureza percebemos o quanto o macho de todas as espécies se destaca em relação às fêmeas – exceção feita ao Homem – notadamente quanto ao porte e beleza.
Nem precisamos de muito esforço para corroborar essa assertiva que ora faço: basta, por exemplo, pegarmos um casal de bovinos; salta aos nossos olhos, de imediato, o belo cupim do touro, seu porte majestoso e seus chifres poderosos, enquanto a vaca, sem dispor dos muitos recursos de maquilagem que as fêmeas humanas dispõem, tem de se contentar em se arrastar por aí ruminando sua insatisfação.
Prá não roubar muito do tempo que os meus escassos leitores possuem, farei uso apenas de mais um casal. Vejamos os galináceos: não há como não notarmos a empáfia do senhor Galo, (com maiúsculas mesmo!!!) sempre a desfilar pelos terreiros do planeta com sua rubra crista e seu rico traje de penas a refletir as mil cores do prisma.
Bem. Depois de tanto lero-lero nessa introdução passo a explicar o que trouxe à lembrança o tenebroso Hagar, o Horrível, um cara que eu acompanhava nas tiras dos jornais de minha juventude.
Depois de deixar Eliana, minha mulher, no trabalho dela, um pouco antes das sete horas da manhã, peguei a ciclovia com minha bicicleta, pedalando com a tranquilidade de sempre. O trajeto, de quase oito quilômetros, teve sua tranquilidade quebrada quando meus pobres olhos viram sair da neblina, que ainda insistia em ficar flutuando por entre as árvores que embelezam a ciclovia, o que me pareceu ser um gnomo gigante, pilotando uma bicicleta em sentido contrário ao meu.
Confesso a vocês que o meu ardente sangue sertanejo gelou nas veias ao divisar aquele monstrengo escondido numa montanha de barbas e cabelos enfiada de qualquer jeito dentro de um capacete de cor indefinida. Segurei firme o guidão da minha bicicleta e fiquei a olhar sorrateiramente aquela visão dantesca que havia cruzado o meu caminho naquela manhã de Sexta Feira – felizmente, aquela coisa com distantes aspectos humanoides se afastava rapidamente do meu campo visual.
Quando me senti em segurança, já dentro das protetoras paredes de nosso apartamento, comecei a conjecturar porque nós homens, ao contrário dos muitos outros machos da Natureza, fazemos questão de esbanjar feiura e desleixo, enquanto as nossas fêmeas ostentam perdulariamente belezas sinuosíssimas.
Provavelmente, devemos ter desenvolvido o complexo de Hagar, o Horrível, e passamos a usar o artifício de ser feios para intimidar os nossos eventuais oponentes nas muitas guerras que travamos ao longo de nossa evolução. E, para piorar ainda mais as coisas, o homem que ousar ser bonito é logo tachado de veado, uma espécie de chamado às falas para que o dissidente volte a integrar o exército de Hagar, o Horrível.
P. S. Informo aos navegantes que Hagar, o Horrível, era um guerreiro viking que tinha por norma tomar apenas um banho por ano, fato que gerava enormes celebrações de seu povo..
Terras de São Paulo, manhã de Sexta-Feira, Lua Minguante de Maio de 2012.
João Bosco