Esdruxulo
Minha capacidade de conversar banalidades e coisas rotineiras foi atrofiada por uma necessidade esdrúxula de falar sobre coisas interessantes e potencialmente “anormais”. Não me entenda mal, não é que eu não goste de falar sobre a última festa que você foi, ou sobre os problemas no seu relacionamento, ou até mesmo sobre aquele filme tão esperado que esta agora em cartaz. Eu até falo sobre todas essas coisas e sobre a nossa rotina tão desgastada pela falta de acontecimentos. Mas tenho preferido evitar, quando posso, essa falta de anormalidades desinteressantes, que serão esquecidas quando a conversa acabar.
Tenho preferido bons textos, que conversam comigo, tocando a fundo cada aspecto do meu ser. Tenho preferido os diálogos inteligentemente sarcásticos comigo mesma às conversas robotizadas, cheias de julgamentos ou possíveis interpretações erradas. Gosto de pessoas e de conhecer novas pessoas, e de conversar com as pessoas antigas e as pessoas novas da minha vida, mas tem sido tanta falta do que falar, que tenho sentido uma preguiça tediosa de falar, de participar, de até mesmo tentar conhecer outros indivíduos. Mas, eis que surge, no meio de uma noite absolutamente normal, um ser, que com suas palavras estranhamente bem amarradas, complexas e cheias de um cinismo mascarado e engraçado, retira-me do meu período de atrofiamento constante e me faz lembrar o porquê que eu gostava tanto de conversar com gente.
Nem para ser assim sempre.
Teixeira de Freitas, 10 de Maio de 2012