Crônica do cotidiano
Olhares perdidos, desatentos, desfocados. Pensamentos confusos: as contas a pagar, as compras por fazer. Lembranças, sorrisos, abraços, despedidas curtas: “chegarei logo.”, “voltarei cedo.”, “nos veremos mais tarde.”. Atravessar a rua, pegar o ônibus cheio. Entra e sai, paradas bruscas, “desculpe-me!”, grita alguém, correndo contra o tempo. Ruas lotadas. Barulho, alvoroço, multidão, lentidão. Mais olhares perdidos, confusos, cansados. Mais pressa, menos sorrisos. Olhos tristes, lágrimas, dores que se perdem na correria cotidiana. Empurrões, mágoas, compromissos. “Olha o tempo!”, gritam os relógios, embalados pelos sinos próximos. Atenção, desatenção. A casa que espera por limpeza, o filho que espera um beijo, o cão que espera a ração. O tempo que nos faz esperar é o mesmo que nos faz correr.
Hora de ir, hora de voltar. Mais despedidas: “até amanhã.”, “tenha uma boa noite.”. Esperar outro ônibus. Gente, correria, gritaria, tropeços. Chuva, poças, “inferno!”, esbraveja algum desavisado. Encontros, desencontros. Chegada. Abraço, beijo, carinho, ração, limpeza. O banho para relaxar, o relógio a gritar. Pensar, repensar, relembrar, reviver. Então o sol desponta no horizonte e o relógio volta a comandar.