RECEITA INFALÍVEL PARA UM CASAMENTO FELIZ.

Antes de mais nada, esqueça que você é casado ou casada.

Porque quando se casa, perde-se a condição de ser qualquer coisa individual que seja.

Tudo vira conjunto, tudo vira dos dois.

A cama, a pia, o armário, a TV, o carro, a escova de cabelo, a deliciosa pizza deixada pra comer na manhã do dia seguinte, a privada, o canto do sofá, o programa da TV e por aí vai.

Neste enfadonho e intransponível compartilhamento compulsório, a sua identidade original já era, vai direto pro ralo.

Pode esquecer todas referências originais e valores tão bem esculpidos na casa da mamãe.

Agora quem manda são as regras magnânimas deste kibutz doméstico, onde tudo é de todos, não existe mais aquele negócio de "o que é meu ninguém tasca".

Tudo vira uma gosmenta massa casamentosa.

Também pode dar bye bye para a possibilidade de olhar-se no espelho e só ver a sua bela cara.

A alma do companheiro ou companheira estará sempre à sua espreita, como encosto vitalício, imune ao "larga este corpo que não te pertence!".

Mas não pense que são só farpas e pedras no sapato que perduram nas tetas generosas do matrimônio.

É claro que existirão momentos memoráveis de alegria que serão supimpas.

Exemplo, se der um piripaque e você perder os sentidos, garanto que terá sonhos maravilhosos, nos quais todos aqueles desejos que se enferrujaram por falta de uso, que perderam a sua validade, voltarão com vigor de ereção de adolescente.

As brigas servirão pra tentar colocar as coisas no eixo, 100% das vezes em vão.

Às vezes baterá uma saudade dos tempos de plena solteirice, tipo recaída, e você poderá fazer uso do seu manancial de desculpas esfarrapadas só para cair na gandaia.

Às vezes cola, às vezes funciona, na maioria das vezes dá uma tremenda zica.

E como todo mundo vai ficar velho e escombrado um dia, é melhor entrar nessa porta infalível amparado não só pela fria bengala, mas por uma mão amiga, solidária e fiel.

A mesma mão que, por tantas vezes, ficou ao seu lado para o que desse e viesse.

Aguentou firme o seu mal humor, fingiu que não percebeu a sua ironia, deu para entender que não sofria com as suas patadas sem fim.

A mesma e única mão que acudiu quando o seu chão virou caco de vidro, quando o mundo todo colocou os seus sonhos numa privada e deu a descarga, gargalhando sem parar.

A mesma mão que aguentou firme ao seu lado naqueles momentos de dor tanta, mas tanta, que nem dava mais para senti-la.

A mesma e única mão que acolheu quando você teve a nítida certeza de que Deus tinha virado as costas de vez,

e não queria mais saber de você.

A mesma mão a que você só tem a agradecer e retribuir pelos instantes de felicidade e compaixão,

que fez pousar unicamente para abraçar o seu solitário coração.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 22/04/2012
Reeditado em 24/04/2012
Código do texto: T3626436
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