A Utilidade de um Homem
“A Utilidade de um Homem”
O título acima refere-se a um artigo que li em uma destas revistas que ficam espalhadas nos cabeleireiros de todo o país. Foi escrito por uma socialite que dava dicas de como nós, mulheres, temos “sorte” ao encontrar homens com alguns atributos.
“Sortuda”, segundo a cronista, é a mulher que encontra um homem que conversa, que foge do trio futebol-cerveja-mulher, que dirige o próprio carro e até procura uma vaga para estacionar.
Confesso que não entendi.
Nas palavras do artigo, "feliz" é a mulher que encontra um sujeito que divide contas e que, de vez em quando, problemas. No final, a pérola: “homem serve para muita coisa, até para fazer uma mulher feliz”.
Fiquei pasma.
Como assim “serve”? Acredito que o verbo “servir” não cabe aqui. Homens e mulheres são, antes de tudo, seres pensantes, com sentimentos, emoções, valores, caráter, alma. Não somos mercadorias rotuladas, medidas, adaptadas, que servem ou deixam de servir. Somos seres humanos sempre à procura de algo muito simples mas cada vez menos valorizado: felicidade.
Medir uma pessoa pela capacidade de “procurar uma vaga para estacionar” não é absurdo. É insano. É o mesmo que dizer que fidelidade é uma qualidade. Não é. É caráter!
Afinal, quem são as mulheres que buscam homens com estas características? Onde foi parar a busca do relacionamento saudável onde homens e mulheres interagem como casal com suas peculiaridades, fragilidade, força, companheirismo e cumplicidade? Terá sido apenas um conto de fadas da época dos nosso avós? Acredito que não.
Meninos ainda brincam de super-heróis, ainda lutam contra o dragão e ainda se acham protetores da justiça e do bem. Meninas ainda brincam de princesas, de cuidar dos mais fracos e ainda sonham com o príncipe encantado por mais absurdo que possa soar aos ouvidos feministas.
Em que momento então, passamos a rotular homens como coisas que “servem” ou “não”? Em que instante da nossa história nos transformamos em guerreiras devoradoras de tempo, espaço, cargos, posições e nos tornamos pessoas solitárias que se contentam com alguém que “de vez em quando divide problemas”? Será que não há mais homens e mulheres que querem apenas um relacionamento estável com carinho, compreensão e construção de algo comum? Será que nós mulheres passamos a nos contentar com tão pouco ao ponto de achar digno um homem que tem apenas “utilidade”?
E que dizer dos homens?
Onde foi que passaram a achar que mulheres são apenas objetos decorativos que perambulam pelas baladas de todas as noites? Em que instante deixaram de acreditar na força de uma companheira e trocaram pela emoção de vários casos vazios?
E o pior: quando foi que os homens também passaram a se conformar com o papel de “servir para alguma coisa”?
Está errado.
É uma guerra vazia.
São buscas frustradas.
Todo mundo quer ser feliz.
Quase todo mundo quer colo, ombro amigo, mãos dadas, segurança, namoro de verdade, poder contar com o outro, saber que a dependência mútua não é fraqueza, mas sim fortaleza.
Quase todo mundo quer passar uma tarde de chuva embaixo de um cobertor vendo um filminho e no final da noite, saber que o companheiro/companheira ainda estará ali no dia seguinte.
Sim, fiquei chocada com as besteiras que li, mas fico mais chocada com quem empunha esta bandeira e segue a vida à procura de homens e mulheres que “servem para algo” como se demonstrar emoções, assumir papéis e admitir o que se sente nos transformasse em bananas, em molengas que serão literalmente massacrados pelo mundo aí de fora.
Quanta tolice. Quanta perda de tempo.
Bom mesmo é ter alguém.
Olhar nos olhos, segurar a mão e dizer em alto e bom tom: “sou feliz ao seu lado”, “amo você” e todas as falas do gênero que apenas sentimentos verdadeiros despertam. Assim, sem frescura, sem medo, sem insegurança.
Sei lá... Acho que estou ficando velha... Graças a Deus. Ainda sou capaz de compreender o grande homem que está ao meu lado pelo brilho nos olhos, o sorriso de admiração, o respeito estampado e o amor declarado.
Vaga para estacionar? Qualquer macaco treinado faz isso, já ser um homem de verdade... é outra história.