5 de Abril de 2001
Ainda recordo-me bem daquela data, 5 de Abril de 2001, estávamos todos em casa quando de repente entrou uma sobrinha com trouxas na cabeça. Perguntando-lhe o que se estava a passar disse-nos: - vamos, ajudam-me a remover as minhas coisas, o nosso bairro está indo com as águas! Muito rapidamente nos metemos a caminho, o espírito de solidariedade falava mais alto. Andamos a pé cerca de 7 a 8 km quando chegamos no local, refiro-me ao bairro Nação-praia na província do Namibe. O cenário de facto era bastante sério e melancólico, parecia-nos um filme de terror ou vampiro, o bairro estava totalmente inundado com as cheias do rio Bero. Tínhamos que procurar caminhos alternativos para atingirmos o local em que estavam as coisas da sobrinha. Para dizer que a casa já estava caída e o marido que havia ficado conseguira já remover uma parte de seus haveres para um local minimamente seguro.
A agitação ali era com muita frequência, adultos, jovens e crianças a correrem procurando cada um por seus familiares. Espantava-me tanto o panorama com lanchas salva-vidas da marinha a navegar onde antes só era chão e helicópteros no ar com a mesma tarefa de salvamento. Todos participavam nas buscas.
Nesse dia, houve pescadores que haviam madrugado no mar e, em vez de peixe trouxeram colchões, cachos de banana, madeiras, etc. Contentores e carros foram também arrastados para praia. Uma mãe, dona de casa, aflita com a situação, na tentativa de salvar o bebe que estava dormindo, salvou o gato de casa. Houve ainda senhores que querendo salvar o dinheiro que guardavam em casa, não quiseram saber dos filhos. Era tudo uma tremenda atrapalhação de tudo e de todos.
Sobre as águas víamos muitos bichos, cobras sobretudo. Afinal as águas não surpreenderam só as pessoas, também os animais, foram vários ninhos sobre o capim e arbustos, ao lado do bairro, que foram destruídos. Seguiram muitos dias de corridas e agitação após aquele 5 de Abril que marcou o nascimento de um novo bairro denominado, depois por consenso da população, 5 de Abril.
Numa parte do deserto do Namibe onde nunca pensamos antes que haveria pessoas, foram todos concentrados em tendas e barracas de chapas apoiadas pelo governo da província que muito fez no sentido de organizar a área em talhões que “acomodaram” as pessoas. Seguiram-se depois apoios de alimentação e vestuários assim como serviços de saúde e saneamento àquela população deslocada.
Estava a nascer uma nova vida àqueles deslocados uma vez que todos foram reduzidos a zero, tinham que trabalhar de novo para construírem suas casas e adquirirem novos pertences.
O fenómeno trouxe também a oportunidade de muitos adquirirem ali terrenos, aproveitando-se da aflição dos outros. O triste é que mesmo assim beneficiavam-se com perspectivas de poderem vender mais tarde. Hoje o bairro existe e é o maior da província, os mais espertos e inteligentes conseguiram construir. E os mais relaxados e desatentos não conseguiram construir, inclusive houve quem vendeu seu terreno.
De um modo geral, posso concluir que sinistros como esse é da natureza e não podemos fazer nada. E a organização do novo bairro com a do antigo, não tem comparação, o novo bairro tem arruamentos bem definidos, enquanto que no bairro antigo, na Nação-praia houve quem não podia comprar carro por causa do acesso à casa, houve passagens, sem exagero, que pareciam ser corredores duma casa, uma sala, ou um quintal. Não havia naquele bairro muita privacidade já que as casas na sua maioria não eram vedadas.
Por isso quando somos assolados por uma catástrofe não devemos só chorar porque as lágrimas só não resolve problemas mas sim, ver como um “mal que vem para o bem” e, acreditarmos sempre a Deus como a solução de todos e quaisquer situações que transcende as nossas capacidades.