Rodoviária de Campinas, onde passageiro é apenas detalhe
Os Estados Unidos são o que são pelo seu espírito capitalista e empreendedor, pelo seu amor à liberdade. Naquele país, o “homem medíocre” de Jose Ingenieros paga um preço elevado pela sua acomodação e falta de iniciativa, enquanto em muitos países esse homem aceita passivamente os grilhões impostos pela sociedade e pela natureza.
Aplico tal reflexão a um fato que presenciei na rodoviária de Campinas - a segunda cidade do Estado de São Paulo-, no feriado prolongado da Páscoa. Milhares de pessoas à noite transitando de volta para suas cidades de origem: Idosos, crianças, casais, operários, turistas, etc.
As empresas de transporte de passageiros colocaram ônibus extras para o interior e a capital de São Paulo, além de outras linhas interestaduais, tal a demanda de passageiros, que formavam filas e mais filas.
Era dez horas da noite, e todos os ônibus para São Paulo estavam lotados. Vi passageiros chegando de diversas origens sem opção de seguir para a capital paulista e preocupados por terem que permanecer na rodoviária, com muita chuva lá fora e vento cortante fustigando o interior da nova estação.
Presume-se que o passageiro, o viajante, seja o ponto de partida para o planejamento da construção e do funcionamento de uma rodoviária. Seu bem-estar a razão principal da funcionalidade de tudo. Mas, pelo que constatei, não é o que se verifica naquelas instalações, por onde transitam milhares de pessoas, diariamente.
A partir das 22 horas, muito e frio e cansaço, fome e agitação geral, havia no andar superior, dos guichês, onde se adquirem bilhetes para as viagens, havia apenas duas unidades comerciais abertas vendendo comidas e bebidas. As demais tinham encerrado suas atividades, em cumprimento ao horário estabelecido pela administração da rodoviária.
Na zona de embarque, na parte inferior, milhares de passageiros aguardavam o embarque, muitos para cidades distantes, sem um mísero ponto para comer ou beber, ou até mesmo comprar uma bala ou um chocolate.
Quadro, no mínimo, surrealista, onde milhares de almas e espíritos transitam como num formigueiro, sem nada para comer e beber, mesmo sabendo dos preços escorchantes de tudo que é vendido na rodoviária de Campinas e pagando taxa de embarque para tanto desconforto.
Aquela burocracia não parece preocupada com os passageiros; muito menos os exploradores daqueles pontos comerciais, onde parece que não há concorrência. E falo da segunda maior cidade do estado mais rico e próspero do Brasil.