O Cara do Concurso
Morador de rua passa em concurso para o Banco do Brasil. A proeza teve divulgação geral nos meios de comunicação. Diante desse fato e da repercussão, vale sondar algumas reflexões. Então vamos lá!
Pessimista – Fim dos tempos;
Otimista – Nova era;
Polêmico – Como assim, explica isso melhor!
Maquiavélico – Isso é armação para dar uma imagem de seriedade aos concursos públicos;
Comerciante – Mais dinheiro na praça;
Carnavalesco – O Brasil é do rico e do pobre; vai pelas mansões e marquises...;
Religioso – Depois fala que Deus não existe. Isso só pode ser milagre;
Religioso fanático – Sangue de Jesus tem poder!
Malandro – Fazer concurso pra quê?! Até mendigo passa;
Concursando culpado – E agora, meu Deus! O que que eu vou falar lá em casa?
O cara do boteco – Puta que pariu!, o cara é foda, meu irmão!;
O cara do boteco que já está bêbado – Foda-se!;
Numerólogo – os três primeiros números da sua inscrição mais a data do seu nascimento é igual ao número da sorte. Pode conferir!
Petista fanático – É o PAC! É o PAC!
Oposição – Vamos instaurar uma CPI!
Oposição racional – Primeiro vamos ver se ela não vai chegar na gente.
Preso – Não é possível que ninguém conhece esse cara, vamos pesquisar aí com a galera. Ele está com a chave do cofre e ninguém nunca esbarrou com ele pelas ruas? Não pode, malandragem!
Outros mendigos – Vai ver que ele achou o gabarito no lixo;
Moralista – O Brasil está precisando é de gente assim;
Professor de cursinho – Tá vendo, pessoal! É só estudar que passa;
Jogador de futebol – Não sabia que concurso era também uma caixinha de surpresa, com certeza, a equipe técnica vai passar essa mensagem pra gente e sairemos, se Deus quiser, vitoriosos nos próximos comentários;
Marrento – Concurso é moleza, até mendigo passa;
Regina Duarte (atriz) – Vivi muitos papéis como este, agora é a realidade imitando a ficção. Mesmo assim, tenho medo, muito medo;
Paulo Coelho (escritor) – Uma espécie de Alquimista vivendo sua lenda pessoal;
João Ubaldo Ribeiro – Viva o povo brasileiro!
Tia Dulce – Bonito o papel daquele morador de rua, você viu?
Gerente do Banco que recebeu o aprovado – Você terá que cumprir horário (Oh!);
Matemático – Daqui a 187 anos, 2 meses e 9 dias a façanha vai se repetir;
Advogado – Ele tem direito a pleitear. Mas, primeiro deve ficar quieto. Depois é só tomar posse e entrar em exercício. Feito isso, ele dá um tempinho e entra com uma Ação Indenizatória por Danos Materiais e Morais. Afinal, com o potencial que demonstrou ter, ele já era para ser, no mínimo, gerente. Alguém terá que pagar essa conta!
Sistemático – Tá querendo dizer o que com isso?
Ocupado – Agora eu não posso, depois eu falo.
Político – Aquele cara dá voto, eu preciso sair numa foto com ele.
Hipe de Mauá – O sistema não escolhe, ele é só mais um para a engrenagem moer, sacou!
Pescador – Igual quando eu pesquei um piau de 3,950 Kg. com uma varinha de lambari, todo mundo achava que eu não ia conseguir tirar o bicho, mas...
Globo Repórter – Como que um morador de rua consegue vencer milhares de candidatos e garantir um bom emprego? Vamos levar você para conhecer o cotidiano deste vencedor. A que horas ele acorda? Os lugares por onde dormiu? A sua alimentação? Os estudos? Faremos também uma viagem para mostrar como funciona o cérebro desse prodígio. Não saia daí!
Poeta – Vai ,
acordado ou dormindo,
pelo delírio de sua realidade,
jogando os pés calejados,
por uma mistura de ladrilhos partidos,
suas calçadas,
duras sujas e doídas.
Vai,
anoitecendo nos bancos das praças e do Brasil,
suas praças,
exalando o seu cheiro azedo,
sobrevivendo as quatro estações,
à flor da pele,
adubada das lixeiras,
regada a álcool,
protegida de jornais.
E vai,
amanhecendo,
meio São Francisco,
falando aos pardais,
misturado com os pombos,
revirando o primeiro lixo,
em busca do primeiro resto,
sacudindo a latinha,
garimpando a primeira caridade,
em nome de Deus,
pelo seu inferno-sagrado.
Ressurreição!
E, por fim, os familiares – Será que ele vai ajudar a gente?