DÁDA...
Theo Padilha
Dáda é como eu chamava Maria, minha única irmã viva. Éramos três. Dáda nasceu na cidade de Caçador-SC. No dia 25 de janeiro de 1937. Eu era o caçula, havia um outro irmão, Justino; já falecido. Meu pai era ferroviário e se mudava muito, talvez por isso que ela não pode continuar os estudos. Para mim ela era muito bonita. Descendente de índios, ela tinha uma bela cabeleira negra. Que ornava a sua beleza.
Apesar de brigarmos muito eu sempre a acompanhava nos passeios. Aos domingos toda a família ia nadar no rio do Peixe, na cidade de Caçador. Só minha mãe ficava na margem. Éramos todos bons de nado. E seguíamos nosso pai nas braçadas.
Quando eu tinha seis anos mudamos para Siqueira Campos. Era nosso costume ir às matinês do cineminha da cidade. Até a Dona Osvaldina Padilha de Souza, minha mãe, ia conosco. Quando íamos até o centro da cidade de Siqueira Campos, que era longe da estação ferroviária onde morávamos, ela costumava me levar a uma sorveteria dos Garanhani para tomarmos sorvete. O dono era meu pseudo cunhado, e nós não pagávamos sorvete. Minha mãe nem sabia.
Certo dia meu pai havia bebido uns tragos e ficou agressivo, apanhávamos muito do velhinho. Ele correu atrás da Dáda para lhe bater e esta lhe deu uma martelada no nariz, que o coitado ficou com o nariz torto até o final da vida.
Um ano ou dois depois nos mudamos para o distrito de Conselheiro Zacarias, ali comecei meus estudo numa escola pública, minha primeira professora ainda mora lá em frente à escola. Meu pai está enterrado ali perto da escola.
Em Zacarias Maria conheceu o seu único marido, Osvaldo Bonfá. Um italianinho do cabelo loiro cheio de brilhantina Glostora. Seus pais tinham sítio naquele lugar. Minha mãe era uma índia meio racista e não queria o namoro. Só que seus três filhos se casaram com loiros. Ela o chamava de “zóio branco”. Eles contavam que ele convidara Dáda e uma sua colega Helena (personagem de uma história minha) para colher mangas, e na verdade não eram mangas, era um abacateiro. Um dia marcaram o casamento, que foi feito na cidade de Joaquim Távora, foi todo mundo menos eu e minha mãe. Esta não gostava de sair e eu estava mal com com Dada e não fui. Foi quando apareceu o refrigerante Crush, que fiquei doente de vontade de beber. Maria teve 13 filhos. Todos nascidos lá em Conselheiro, no sítio Ribeirão Bonito. Quase todos atendidos em Santo Antonio da Platina pelo Dr. Giovanetti que era primo dos Bonfás, meu cunhado. Todo ano era comum ver o compadre Moreira da rádio platinense anunciando o nascimento da prole de Maria. Dizia o velho locutor: “Bairro Ribeirão Bonito. Maria de Souza Bonfá ganhou um menino, mãe e filha estão passando bem”. Desses treze filhos duas morreram depois de adultas, a sétima de parada cardíaca e a segunda de acidente, mas muito novas.
Osvaldo morreu e Maria vive sozinha em Wenceslau Braz onde adquiriu uma casa. Os filhos quase todos foram embora. Estão divididos entre Avaré, Jundiaí do Sul, Xavantes e Curitiba.
Joaquim Távora, 31 de março de 2012.