Foto de Feitosa dos Santos
O MORTO QUE ACHAVA SABER AMAR
(Baseado em fato verídico)
Repentinamente a luz se apaga, houve falta de energia no prédio da repartição.
Anthoni, Izana, Matilde e Verônica, já haviam chegado; sentaram-se em torno da mesa e começaram a conversar. Conversa vai e conversa vem. Cada um expunha suas ideias, suas histórias, um fato, um acontecimento.
Veronica que sempre foi reservada, até demonstrava certa timidez; pôs-se a narrar uma história de família. Surpreendeu-me a narrativa, o que parecia ser um terror, ela conseguiu colocar uma boa pitada de humor com sua maneira suáve de falar.
Veronica com o seu jeitinho tímido, passeia na verbalização dissertativa do caso.
- Eu tenho um primo, um safado, diz Veronica – Anthoni a interpela – Ele sabe que você o chama assim? Depois de delimitado sorriso ela respondeu: - Não. O safado já morreu e é sobre as peripécias dele, que mesmo depois de escafeder-se continuou aprontando.
- Continua Veronica, falou Izana. Veronica continuou narrando. – pois é o safado do Arilson era casado com minha prima, por isso o considera como primo. Casou-se com a Danúbia após certo tempo de encontros e desencontros; logo, tivera uma filha, Nalva, Uma menina bonita e inteligente.
Danúbia sempre foi uma mulher cheinha de corpo, nunca teve porte atlético e era descompromissada com a baixa autoestima. Tocava sua vida com bom humor e sempre comprometida com os seus haveres.
Resolveu juntos comprar um taxi, assim o Arilson podia melhorar a renda doméstica nas horas que lhe sobravam das reformas que executava nas casas adquiridas para revendas.
Veronica continuou sua explanação: - cada vez mais Arilson ia ocupando o seu tempo com a praça, o taxi era o pretexto que ele precisava para justificar o seu tempo nas ruas. Mas esse tempo era consumido na casa de sua namorada.
O tempo corre e certo dia Danúbia descobre que o seu marido, Arilson enrabichou-se por uma mulher, e já era pai de duas outras filhas. Houve um tremendo bafafá. Arilson quis sair de casa, mas Danúbia ponderou e lhe disse: sua filha Nalva, gosta muito de você, ela não necessita sofrer por isso, reconheça e cuide das suas outras duas filhas, cuide delas e fique aqui até quando possível ou a Nalva aceitar a separação, presepadas de adultos, no nosso caso as suas. Adilson foi ficando, ficando... Até...
Numa determinada manhã, Danúbia vê Arilson arrumando suas tralhas e mesmo sem perguntar ele lhe diz: estou saindo fora, vou morar com a minha outra mulher e as minhas duas filhas. Danúbia vê e ouve, mas nada faz, deixando que ele se vá.
O tempo passou. Cada um tocando a sua própria vida; Danúbia arranja um namorado, mais jovem é claro, novas metas, novas perspectivas...
Mas bem sabemos que ninguém é de ferro ou nasceu para viver eternamente. Certo dia Danúbia recebe a noticia que o pai de sua filha, Nalva, partiu dessa para melhor, bateu a caçoleta, morreu, escafedeu-se.
A mulher atual do Arilson não tinha como pagar para enterrar o corpo, a mãe do dê cujo, descartou a possibilidade, os parentes? Nem pensar. Sobrou. Sobrou para quem? Advinha? Mais uma vez a Danúbia se viu envolvida com as trapalhadas do seu ex-marido, que nem depois de morto lhe dava sossego.
Ela contratou a funerária, comprou o caixão, arrumou as flores, imaginem flores, e também a capela para onde levaram o corpo para ser velado.
Diante mão Danubia já sabia que a prestação do taxi, ia cair em suas mãos de bandeja. Seja o que Deus quiser disse ela.
Puseram o caixão no centro do salão; Danubia e a filha de um lado, os parentes e amigos ao redor e do outro lado a mulher atual e suas duas filhas. Todas vestidas de preto, com lagrimas nas faces e assim transcorria o velório do Arilson. Vez por outra Danúbia cerrava os dentes e emitia um som peculiar dos seus últimos dias. Safado...
Uma hora antes do féretro, adentra a capela uma senhora de preto, cabelos pretos, longos e lisos, lembrando a imagem da Mortiça, da família Adans. Mira o caixão e se lança sobre a urna como um vendaval – Arilson não se vá, não me deixe seu malvado, como vou viver sem você? Logo agora que íamos nos casar, não suportarei sua ausência. Ela sacudia o caixão de um lado para o outro, sua maquiagem derretia com as lágrimas e ia breando tudo, desde a urna ao defunto.
As pessoas ficaram estáticas, se entreolhavam e não sabiam o que fazer. Danúbia, porém, emitia o som característico. O safado tinha outra... Quem nasce para ser safado, mesmo depois de morto continuará sendo safado. Soprava por entre os dentes.
Esse filho da mãe tinha outra e ninguém sabia. Safado... Safado...
Danúbia sai sorrateiramente, foi até a administração do cemitério e solicitou a mudança da alameda para o enterro. Contratou o local de difícil acesso, no canto esquerdo do Campo Santo, em um recanto íngreme e sem nenhuma árvore, que lhe facilitasse um sombreado. Rancor? Não. Apenas precaução. Nunca se sabe. Tem as idas sem voltas, mas também aquelas que cedo ou tarde acontece um retorno. Vai que aconteça. Não é mesmo?
Safado... Diz Danúbia por entre os dentes.
Rio, 31/03/2012
Feitosa dos Santos
O MORTO QUE ACHAVA SABER AMAR
(Baseado em fato verídico)
Repentinamente a luz se apaga, houve falta de energia no prédio da repartição.
Anthoni, Izana, Matilde e Verônica, já haviam chegado; sentaram-se em torno da mesa e começaram a conversar. Conversa vai e conversa vem. Cada um expunha suas ideias, suas histórias, um fato, um acontecimento.
Veronica que sempre foi reservada, até demonstrava certa timidez; pôs-se a narrar uma história de família. Surpreendeu-me a narrativa, o que parecia ser um terror, ela conseguiu colocar uma boa pitada de humor com sua maneira suáve de falar.
Veronica com o seu jeitinho tímido, passeia na verbalização dissertativa do caso.
- Eu tenho um primo, um safado, diz Veronica – Anthoni a interpela – Ele sabe que você o chama assim? Depois de delimitado sorriso ela respondeu: - Não. O safado já morreu e é sobre as peripécias dele, que mesmo depois de escafeder-se continuou aprontando.
- Continua Veronica, falou Izana. Veronica continuou narrando. – pois é o safado do Arilson era casado com minha prima, por isso o considera como primo. Casou-se com a Danúbia após certo tempo de encontros e desencontros; logo, tivera uma filha, Nalva, Uma menina bonita e inteligente.
Danúbia sempre foi uma mulher cheinha de corpo, nunca teve porte atlético e era descompromissada com a baixa autoestima. Tocava sua vida com bom humor e sempre comprometida com os seus haveres.
Resolveu juntos comprar um taxi, assim o Arilson podia melhorar a renda doméstica nas horas que lhe sobravam das reformas que executava nas casas adquiridas para revendas.
Veronica continuou sua explanação: - cada vez mais Arilson ia ocupando o seu tempo com a praça, o taxi era o pretexto que ele precisava para justificar o seu tempo nas ruas. Mas esse tempo era consumido na casa de sua namorada.
O tempo corre e certo dia Danúbia descobre que o seu marido, Arilson enrabichou-se por uma mulher, e já era pai de duas outras filhas. Houve um tremendo bafafá. Arilson quis sair de casa, mas Danúbia ponderou e lhe disse: sua filha Nalva, gosta muito de você, ela não necessita sofrer por isso, reconheça e cuide das suas outras duas filhas, cuide delas e fique aqui até quando possível ou a Nalva aceitar a separação, presepadas de adultos, no nosso caso as suas. Adilson foi ficando, ficando... Até...
Numa determinada manhã, Danúbia vê Arilson arrumando suas tralhas e mesmo sem perguntar ele lhe diz: estou saindo fora, vou morar com a minha outra mulher e as minhas duas filhas. Danúbia vê e ouve, mas nada faz, deixando que ele se vá.
O tempo passou. Cada um tocando a sua própria vida; Danúbia arranja um namorado, mais jovem é claro, novas metas, novas perspectivas...
Mas bem sabemos que ninguém é de ferro ou nasceu para viver eternamente. Certo dia Danúbia recebe a noticia que o pai de sua filha, Nalva, partiu dessa para melhor, bateu a caçoleta, morreu, escafedeu-se.
A mulher atual do Arilson não tinha como pagar para enterrar o corpo, a mãe do dê cujo, descartou a possibilidade, os parentes? Nem pensar. Sobrou. Sobrou para quem? Advinha? Mais uma vez a Danúbia se viu envolvida com as trapalhadas do seu ex-marido, que nem depois de morto lhe dava sossego.
Ela contratou a funerária, comprou o caixão, arrumou as flores, imaginem flores, e também a capela para onde levaram o corpo para ser velado.
Diante mão Danubia já sabia que a prestação do taxi, ia cair em suas mãos de bandeja. Seja o que Deus quiser disse ela.
Puseram o caixão no centro do salão; Danubia e a filha de um lado, os parentes e amigos ao redor e do outro lado a mulher atual e suas duas filhas. Todas vestidas de preto, com lagrimas nas faces e assim transcorria o velório do Arilson. Vez por outra Danúbia cerrava os dentes e emitia um som peculiar dos seus últimos dias. Safado...
Uma hora antes do féretro, adentra a capela uma senhora de preto, cabelos pretos, longos e lisos, lembrando a imagem da Mortiça, da família Adans. Mira o caixão e se lança sobre a urna como um vendaval – Arilson não se vá, não me deixe seu malvado, como vou viver sem você? Logo agora que íamos nos casar, não suportarei sua ausência. Ela sacudia o caixão de um lado para o outro, sua maquiagem derretia com as lágrimas e ia breando tudo, desde a urna ao defunto.
As pessoas ficaram estáticas, se entreolhavam e não sabiam o que fazer. Danúbia, porém, emitia o som característico. O safado tinha outra... Quem nasce para ser safado, mesmo depois de morto continuará sendo safado. Soprava por entre os dentes.
Esse filho da mãe tinha outra e ninguém sabia. Safado... Safado...
Danúbia sai sorrateiramente, foi até a administração do cemitério e solicitou a mudança da alameda para o enterro. Contratou o local de difícil acesso, no canto esquerdo do Campo Santo, em um recanto íngreme e sem nenhuma árvore, que lhe facilitasse um sombreado. Rancor? Não. Apenas precaução. Nunca se sabe. Tem as idas sem voltas, mas também aquelas que cedo ou tarde acontece um retorno. Vai que aconteça. Não é mesmo?
Safado... Diz Danúbia por entre os dentes.
Rio, 31/03/2012
Feitosa dos Santos