Fé?
Das lembranças de minha infância, algumas estão fortemente arraigadas na religiosidade de minha mãe. Ou em sua fé... Independente da religião que seguisse ou flertasse, era ela, uma mulher de fé.
Aos meus olhos todo os misterios entre a vida e a morte, céu e inferno, estavam na nebulosidade que me apresentavam - eles os misterios - suas mãos, suas vozes e na saudade de um lugar distante que sequer sabia e não sei se existe. Apenas vislumbro e foge-me.
De todas as datas marcantes, não haviam em casa comemorações. Eram proibidas, bem como aniversarios e qualquer alusão a santos e imagens. Óbvio que para quem tem algum conhecimento sobre religiões saberá a qual me refiro... Não quero aqui levantar polêmicas ou dúvidas sobre a fé de ninguém. Nem minha aversão pelas festas de fim de ano nasceu desses fatos, vem muito mais da minha inadequação a certas situações.
Meu pai já é diferente, ainda permanece convicto a sua religião de berço, batizado, crismado, porém não praticante. Não entra em debates, não questiona. Talvez seja mais feliz assim...
Como já disse aqui, minha mãe já se foi. Mas bem antes disso, anos antes, por motivos familiares, eis que a religião que permeou meus tenros anos na infância, foi seriamente questionada e colocada de lado com todos os seus preceitos.
Mas, não a fé, não a fé que minha mãe colocava na vida e um ser superior. A minha fé, eu não sei se um dia existiu. Passeei por doutrinas a ler e ler, cada uma a seu modo sempre mostrará sua razão. Razão? Não sei se tanto, mas terão lá suas provas não tão irrefutáveis, mas terão...
Meu olhar foi tornando-se mais crítico, mais cético, mais frio...
Talvez o destino seja tão imutável que não permita preces, não permita que nada seja alterado para que a fé contraria aos seus designios possa ser superior...
Se acredito em algo, hoje, é num quebra cabeça a ser montado desde o momento que nascemos... A última peça, o último encaixe, com certeza será a morte.
E que me perdoem... Os homens de fé.