Jantar às escuras

 

 

Quem é que não gosta de um jantar à luz de velas? Casais apaixonados, ambiente romântico... Às vezes até com pista para se dançar abraçadinho... Mas um “jantar às escuras”, aposto que vocês nunca ouviram falar. Eu também não sabia do que se tratava quando recebi o convite de uma amiga. Mas fui assim mesmo, porque ela queria companhia, era beneficente e além de tudo, num bom restaurante. A renda seria revertida para a Associação dos Deficientes Visuais. Mas não é só por isso que se chamava “ às escuras”. É porque nós não enxergaríamos nada!

 

Quando chegamos, as luzes do restaurante estavam acesas, é claro. Ficamos na sala de espera até que todos os participantes chegassem. Depois fomos levados aos nossos lugares previamente marcados e então pediram que colocássemos uma venda preta nos olhos. Em seguida disseram que o salão ficaria no escuro, só o pessoal da Casa – nossos monitores – carregavam uma pequena lanterna. Se alguém precisasse de ajuda, que levantasse o braço. E na escuridão o jantar foi servido. Tateando com o garfo, consegui comer uns bolinhos de entrada. Depois veio o prato principal, que anteriormente havíamos escolhido entre três possibilidades, sem saber como seriam apresentados nem quais seriam os acompanhamentos: carne bovina, bacalhau ou torta vegetariana. Eu pedi a carne e aos poucos fui descobrindo, pelo tato e pelo gosto, que eram cubinhos de filé em delicioso molho, acompanhados de finíssimas rodelas de batata gratinada, mais tiras de vagem e cenoura cozidas. Como sobremesa, um maravilhoso sorvete de chocolate. Durante a refeição, tomei vinho e água – sem derramar!

 

Achei a experiência incrível. Sem ver nada, pude apreciar calmamente o sabor de cada alimento, além de ouvir tudo com mais clareza: a conversa nas mesas, comentários que rolavam e a música de fundo. Logo eu, que tenho cá meus probleminhas auditivos...

 

Segundo os organizadores, o objetivo do evento não era somente contribuir, mas nos sensibilizar de maneira criativa e original com o problema daqueles que não podem enxergar.