A SALA VAZIA
O tic-tac do relógio enche de vida a sala vazia, é início de tarde e o calor é insuportável, todas as portas e janelas estão trancadas.
A um canto o belo piano negro de cauda, há tempos calado. Sua sombra se projeta na parede do outro lado da sala sob o efeito da luz do sol que penetra através das grandes janelas em arco envidraçadas. A lareira fria e triste ainda guarda as cinzas de velhos e felizes dias. Os quadros nas paredes até parecem que acabaram de ser pintados e as cortinas de veludo vermelho ainda permanecem intactas, com suas dobras a pender do teto, charmosamente acinturadas como se fossem belas bailarinas estáticas.
Posso ver os reflexos de tudo isso no incólume piso brilhante de madeira envernizada. Tanto tempo se passou, o mundo se transformou, mas aqui, nesta sala, quase nada mudou, exceto meu rosto com algumas rugas a mais e alguns cabelos brancos.
Eis-me aqui, acompanhado pela mais cruel solidão. Meus olhos ainda são os mesmos, mas o mesmo não posso dizer de meu olhar. Lá fora tudo mudou, aqui dentro quase nada, nem mesmo eu.
Roberto Carlos Braz do Nascimento
(ROBERTO BRAZA)
26/03/2012