O ESPIÃO, A LICITAÇÃO E O CORONEL
O ESPIÃO, A LICITAÇÃO E O CORONEL
Conta um amigo meu que na década de 1990 ele foi transferido para o Hospital Militar, em Belo Horizonte/MG. Ele era de fileira, usava a farda cáqui. O subdiretor do hospital lhe deu a função de planejar e coordenar a instrução naquela unidade-militar-hospitalar. Ele esmerou-se e deu a César o que era de César e aos médicos o que era dos médicos. A princípio sua função estava mal-recebida por alguns. Porém, com o passar do tempo a classe médica começou a gostar das palestras e seminários ministrados por competentes professores e oficiais-médicos, inclusive coronéis da ativa e da reserva. Meu amigo capitão estava cumprindo bem sua missão.
O subdiretor vendo a capacidade de trabalho e o entusiasmo do jovem capitão Azambuja o designou para presidir a Comissão de Licitação do Hospital, comissão esta encarregada da compra de todos os produtos daquela unidade, menos remédio. O Azambuja abraçou firme a tarefa e em contato com a secretária da comissão inteirou-se dos encargos e trabalhos inerentes à Comissão Licitatória. A secretária informou-o sobre o Convite, a Carta-convite e a Concorrência bem como os processos em andamento e as datas de aberturas dos mesmos.
Nas datas aprazadas os processos licitatórios foram abertos, e avaliada a proposta de cada concorrente interessado. As amostras dos produtos foram avaliadas por cada oficial envolvido na licitação. No entanto, o presidente dos trabalhos notou que um concorrente sentado à mesa, não se manifestou, apenas ¨espiou¨ os envelopes dos demais. E os trabalhos foram encerrados. Contudo, um dos participantes alertou a mesa de que havia um espião entre eles e que invalidaria a concorrência, entrando com recurso junto ao diretor do hospital.
Terminado o mister daquela linda manhã, Azambuja conversou com a secretária da comissão e ficou sabendo que o espião era um concorrente de outro Estado e que já não era a primeira vez que ele ali comparecia, de boa prosa e bem trajado só observava e ¨espiava¨ os envelopes dos presentes, sem sua participação efetiva no processo. Azambuja então comunicou o fato ao diretor do hospital. Ele foi instruído como proceder, caso houvesse repetição do episodio.
Passou o tempo. Nova licitação foi aberta. E o ¨espião¨lá compareceu. Antes da abertura dos envelopes com as propostas Azambuja convidou o cidadão a retirar-se do local. O cidadão pestanejou. Ele chamou o oficial. Conversou e desconversou. E ao fim e ao cabo ofereceu uma soma razoável a Azambuja que não a aceitou e o cidadão bateu em retirada deixando a comissão trabalhar conforme o figurino, as normas e as leis.
Um mês se passou e o capitão Azambuja foi destituído da Comissão de Licitação e transferido para secretariar o Coronel Presidente da Junta de Saúde. E até hoje ele, o capitão, não entendeu o motivo de sua destituição e transferência para a menor unidade da Polícia-Militar. E, como mineiro que é, se ficar sabendo também não vai reclamar, afinal, o bom cabrito não berra! Agora, o tempo passou e o nome de Azambuja não consta na Ficha Suja, já está liberado e quites com a fazenda estadual, podendo gozar honestamente sua merecida aposentadoria.
F I M