UM POEMA BRILHANTE.
Este poema Lúcia Barcelos, não é somente belo. É belíssimo sobre ser perfeito. Em ritmo poli-métrico sonoro como um canto de luz que iguais tenho lido poucos. Poema para concurso acadêmico, para seleta antológica. Não se envaideça, que a vaidade faz grande mal aos que sabem. Persevere antes nessa força rítmica:
HOJE ESTOU ASSIM
“Hoje, estou assim,
Pensativa, arrebatada,
À espera da hora inesperada
Que me pudesse trazer algum conforto”.
Belo! À espera da hora do amor talvez, da felicidade,
da consumação do que se almeja.
“Hoje, estou assim,
Um passo firme... Um passo torto
Sobre os meus Próprios sonhos estendidos”.
Continua o belo. Uma dúvida talvez, a insegurança sobre os caminhos a seguir, temor ao destino à sua frente, medo de não realizar os ideais preendidos.
“Estou pássaro com asas guardadas,
Com cânticos esquecidos,
Almejando aconchego de ninho”.
Extraordinário. Está insegura e a procura de um abrigo. Sufoca-a agora a tristeza indefinida. No sufoco lembra o alívio de um pouso seguro enquanto as lagrimas descem cristalizadas pelo rosto abaixo. Veja-se como é perfeito:
“Ergo a taça para o vinho,
Mas o cristal escorre na lágrima teimosa”.
Afinal a tristeza chega ao êxtase e só vai encontrar um pouco de conforto na pálida luz da lua. Atente-se bem e ver-se-á transparente a dor e como sensibiliza e impulsiona a força do dizer:
“A tarde se despede e a bandeira nebulosa
Se desenrola no céu.
A escuridão jogará seu véu
E a lua sorrirá para mim”.
“Mas hoje estou assim...
Flor ao vento, despetalada...
Alma lenta, encharcada
Talvez pela nostalgia
Que às vezes joga o barco
Contra as pedras da vida”.
Definitivamente está dolorida e triste, sofrida como a flor (sente-se flor) rolando a esmo, tangida pelo vento ou como barco que (sente-se barco sossobrado) lançado sobre as pedras vê-se perdido.
“Então, hoje, estou assim,
No aguardo de um instante ocasional
Para reagir a este incidente.
A tristeza não pode simplesmente
Ser aceita como algo natural”.
Agora entende, felizmente entende que a tristeza não pode prevalecer sobre a alegria, não há de ser acolhida singelamente, resignadamente sem reação. Não pode ser tomada como fenômeno natural e é a hora de reagir. Reage. Porém, timidamente:
“Mas hoje estou assim,
Estrela pálida e insone na noite que começa,
E escrevendo para mim...”.
Sim, a reação aqui, minha jovem e sensível poeta, é tímida demais para condizer com a força do poema e o seu brilho, com a expressão lírica e suave da autora. Não, não escreves para ti somente. Antes, este poema foi escrito para a humanidade. Não sei de poemas outros, de Drumonds, de Pessoas, de Brunos de Menezes... “esses que passam Por aí atravessando o meu caminho, eles passarão, passarinho!”. Nem de outros poemas que se qualifiquem em categoria maior que o teu HOJE ESTOU ASSIM.
João Justiniano.