DEPRESSÃO TAMBÉM MATA

DEPRESSÃO TAMBÉM MATA

Há muito tempo atrás,

Quando não havia nem rádio, nem televisão,

Nem energia elétrica, nem automóvel,

Esse fato aconteceu numa estrada estreita

Que ligava o povoado do Areão ao bairro da Cachoeira.

E muitas pessoas que vivem naquela região,

Ainda contam e dão testemunho dizendo ser verdadeiro o que

Lá aconteceu, pois os antigos contaram e eles não mentiam.

E até hoje, muitos vêem em noites de luar,

Um vulto que faz lembrar o que há muitos anos sucedeu.

Tudo se desenvolveu depois da curva do cupim,

Bem no pé do morro da batinga,

Do lado esquerdo de quem vai para o Areão,

Onde há uma ponte nova feita de tábuas,

No lugar da antiga ponte de castanheira feita em forma de passarela,

Quase debaixo de uma moita de bambu sobre o rio Timbó, um riacho raso,

Que até hoje desliza suas águas cristalinas por entre as pedras.

Havia também uma moça, chamada Catarina, faceira, na flor da idade,

Cheia de vida e dona de uma infinita beleza.

Essa moça, com seu vestido branco,

Dirigia-se todas as tardes para aquela passarela de castanheira,

Sentava-se no beiral e ficava até o sol se pôr.

Sentada ou debruçada no beiral da pontezinha,

Catarina passava horas e horas namorando sua beleza,

Retratada nas águas cristalinas do Timbó.

Ela foi ficando cada vez mais obcecada pela sua própria beleza.

Não tinha amiga, e nem tinha interesse em namorar os rapazes da sua idade.

Tinha muitos e bons pretendentes,

Mas preferia ficar com a sua linda imagem retratada nas águas.

Tal obsessão progressiva durou alguns anos

e foi uma tragédia na vida daquela linda moça.

Pois chegou ao ponto, em que numa tarde ensolarada de maio,

Catarina quase louca pela sua própria imagem,

Resolveu entrar de vez na sua infinita beleza que sorria no reflexo das águas.

E não se contendo, subiu no beiral e de lá se investiu de cabeça no leito do rio.

O crânio da moça abriu-se ao meio ao encontrar as pedras do fundo do ribeirão.

E até hoje, a antiga ponte do Timbó é conhecida pela ponte da cachola rachada.

E muitas pessoas que em noite de luar passam por aquele pedaço de chão,

Quando chegam na moita de bambu

Dizem ver o vulto de Catarina com seu vestido branco em cima da ponte,

Observando a si mesma nas águas prateadas do Timbó.

Sabemos que isso não é sério,

Mas que Catarina era altamente depressiva, isso é um fato.

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 23/01/2007
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