FAXINA
Estou fazendo faxina.
Minha casa está toda bagunçada, cheia de tranqueiras e sujeiras. Então, chega uma hora que não dá só pra organizar e passar um paninho. É preciso criar coragem, arregassar as mangas e fazer um faxinão.
Não tem nada de divertido numa faxina, é chato. Mas depois o resultado compensa.
Na faxina, quando eu faço, costumo tirar tudo do lugar para limpar e depois colocar de volta. Nesse processo, algumas coisas que estavam perdidas são achadas, e outras vão pro lixo.
Eu tenho o defeito de ser perfeccionista, detalhista, e por isso a faxina acaba sendo demorada. Olho cada papelzinho, cada objeto, e peso se realmente não vou mais precisar daquilo. Tenho dificuldade de jogar coisas fora e isso às vezes me atrapalha. Sou capaz de guardar coisas desnecessárias por anos, até descobrir que realmente não valem nada. Mas também já aconteceu de jogar algo fora e depois precisar e não ter mais.
Faxina é um processo chato, lento, onde eu tenho que decidir o que guardar e o que jogar fora. Detesto decidir qualquer coisa. Assim, adio a faxina o máximo possível, até não ter mais jeito, até a casa estar realmente precisando. Daí, não tem outra solução: paro tudo e vou à luta. Sento, olho no fundo da alma e começo a jogar tudo no chão: palavras, gestos, olhares, cheiros, sentimentos, dúvidas. Examino cada coisa. Choro, às vezes; rio, em outras. Guardo algumas, outras esqueço. Outras, ainda, por serem mais difíceis de decidir, ou por doerem demais, volto-as para o lugar onde estavam, para analisar com mais calma depois, provavelmente na próxima faxina.
Assim, aos poucos e lentamente, vou colocando minha casa em ordem, os sentimentos no lugar, organizando as idéias. A casa fica arrumada e eu posso, enfim, voltar a sorrir.