COMIDA DO TEMPO

Ontem nos encontramos e me deu uma louca vontade de te dizer o quanto tenho sentido a sua falta, o quanto nossas risadas me trazem uma saudade infinita, o quanto meu quarto sente falta dos teus pés. Mas engoli, como quem engole o chá mais amargo, todas as coisas que queria derramar em você, e sorri, com aquele sorriso educado e contrito que damos para conhecidos sem importância, afim de mostrar uma aceitação de tudo que fomos e não somos mais.

Sorrimos um para o outro, nos beijamos no rosto, falamos trivialidades que já me fogem a memória. Sorrimos mais um pouco, e um silêncio nos engoliu, um silêncio carregado de perguntas que deixaram de ser feitas, um silêncio carregado da falta que um faz para o outro (e vise versa) e este mesmo silêncio nos sufocou ao ponto de termos que mais uma vez dar aquele sorriso amarelo e arrumar um pretexto para fugir da presença tão assombrosa do nosso passado.

Despedimos-nos com declarações forjadas de que nos ligaremos, de que marcaremos um programa. Despedimos-nos com a certeza de que algo foi devorado pelo tempo e que não há mais espaços para nós na vida um do outro.

Tx. de Freitas - BA; 16 de março de 2012

Hari Alves
Enviado por Hari Alves em 16/03/2012
Reeditado em 16/03/2012
Código do texto: T3557220
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