A Procura
Lendo a entrevista com Tzvetan Todorov, no Jornal da UFRJ, de junho/julho de 2011, lembro-me de que escrevi em algum lugar que “a vida começa depois que acaba”. Isso porque, a meu juízo, “o espírito é imortal”, como diria o historiador, linguista e ensaísta búlgaro.
E as manifestações artísticas, sobretudo as de caráter literário, evocam essa permanência eterna da busca do homem pelo conhecimento do seu interior. O que faz com que encontremos, não apenas nas obras atuais, mas também nas mais remotas, traços de que provavelmente nunca nos livraremos.
Apesar de todo avanço tecnológico, das novidades cada vez mais imediatas no mundo eletrônico, da internet, tablets, dos sofisticados e sempre atualizados telefones móveis, etc., “a espécie humana nunca se contentou somente em se divertir”, como nos ensina Todorov. E parece que esse comportamento estará sempre presente entre nós. Daí, sobretudo para os poetas, palavras como amor, coração, alma e espírito, com todas as suas injunções e mesmo redundâncias, assumirem a importância que assumem em seus textos e uma presença que vai se perpetuando em quase todos os trabalhos literários.
Porque é inevitável para a espécie humana a busca que ela faz de si mesma. É como se o homem reconhecesse que todos os avanços conquistados não são suficientes para a caracterização do que ele representa diante do mundo em que vive. Não são suficientes para colocá-lo diante de si. Podem até ser o resultado de suas ânsias, aflições, incoerências, mas não o resultado da sua busca pelo próprio retrato, que ele desconfia nunca ser o mesmo. Apesar das incontáveis semelhanças.
E o que estiver mais próximo dessa caracterização o homem só encontrará nas Ciências Humanas, sendo a manifestação literária a primeira delas, como adverte Todorov.
Portanto, temos todo o direito de ficarmos maravilhados diante da parafernália tecnológica que se renova a cada dia. Mas não precisamos temê-las ou imaginar que elas possam acabar com a atitude inata ao ser humano que é a da autoprocura. Simplesmente porque serão sempre matéria. Estando sempre aquém da compreensão das necessidades indissociáveis da natureza imaterial do espírito.
Maricá, 10/03/2012