A defesa de Judas.
Certa vez Jesus, terminando um dos seus sermões voltou-se para os seus e disse “em dois dias comemoraremos a páscoa e alguém vai me entregar para ser preso e pregado em uma estaca ou cruz”. Isso deixa bem claro que o Cristo sabia que seria preso e até mesmo quem seria o seu inimigo, só não citou o nome no momento. Devido a todos esses acontecimentos na ocasião ele já estava ciente que estava entre mais inimigos do que amigos; ele visou alguém entre todos e não se sabe ao certo quanto tempo se passou, mas sabemos que tudo aconteceu no espaço de tempo de 48 horas.
Nessa ocasião os interessados em deter Jesus, de forma ardilosa, se reuniram no pátio da casa de um deles (Caifás) e ali ficou combinado que não fariam nada durante a festividade para não alvoroçar o povo e, mesmo sendo ardilosos, queriam encobrir seus ardis. Caifás e seus comparsas eram muito avarentos e com certeza os discípulos de Cristo não estavam muito distante de tais indivíduos, inclusive o guarda que o traiu mais tarde.
A prova é que lá em Betânia (cidade) na casa do leproso por nome Simão, Jesus por certo foi lhe fazer uma visita e como Jesus era humilde e cavalheiro comas mulheres sofridas, no momento em que ele descansava debruçado sobre a mesa eis que surge uma mulher e carinhosamente aproximou-se do Cristo trazendo um vaso de pedra branca com um puríssimo, perfumado e caríssimo óleo e pôs-se a derramá-lo sobre a cabeça de Jesus, vejam bem que o Cristo ainda não tinha sido entregue, ele estava cercado por seus discípulos – os doze, os mesmos que ficaram indignados e começaram a dizer que “para que esse desperdício? Devia ser vendido por uma grande soma e repartida com os pobres”. Se os discípulos amassem Jesus realmente, em verdade ficariam felizes por aquele gesto de carinho da mulher para com Jesus, mas, ao contrário, que pobreza que nada, todos cresceram o olho sobre o valioso vaso com o perfume e Jesus, como homem comum, humilde e amoroso, totalmente desvinculado da cobiça, repreendeu-os e disse: “vocês têm todos os pobres convosco, não fazem nada e questionam! E a mim? Nem sempre me tereis!”.
O Cristo estava cansado e, sentindo as suas forças sendo sugadas pelos seus adversários sentiu que aquele óleo era para a preparação para o dia do sepultamento, e disse mais ainda, que o que aquela mulher fez deveria ser contado em lembrança dela, e Judas, sendo um dos doze, certamente estava entre os que se indignaram com o vaso e o perfume caríssimo.
Vejamos que Judas não ficou satisfeito com a resposta que Jesus dera a todos, vendo a oportunidade de tirar algum proveito, aproveitou o seu estado de ânimo e dirigindo-se aos principais interessados no que ele sabia e em silêncio buscava oportunidade, diante do ocorrido esse foi a gota d'agua, e disse, eu o entregarei, mas, o que ganharei em troca? De imediato negociaram trinta moedas de prata.
As horas foram passando e chegando o primeiro dia da festa dos pães, em comum acordo com os doze Jesus começou a preparar a sua festa de despedida e,como sempre, debruçado sobre a mesa, conversava com eles e dizia que havia alguém que o trairia pois ele pressentia que nem todos eram confiáveis, ainda mais envolvendo a questão do perfume.
Judas já estava posicionado ao seu lado enquanto todos perguntavam entre si: será que sou eu? Isso indica que particularmente alguém sempre tinha alguma coisa ou algo contra ele e que a consciência de cada um já estava lhe acusando. Jesus ainda tentou amaldiçoar aquele que o traira pois era evidente a aproximação de Judas com Jesus, mas Judas, por ser ambicioso e ter necessidade das trinta moedas de prata observou que Jesus estava bem cansado e fraco e as suas palavras ja não faziam sentido, muito menos as ameaças e maldições, ainda mais que disse: não sou eu por acaso Rabi? Você disse que és tu, e continuou o seu sermão entre os comes e bebes dos pães não fermentados e do produto da videira (vinho).
Em seguida, subindo o monte chamado Oliveira, Jesus, sentindo-se desapontado com todos, dizia: vós que mantém uma ligação comigo irão tropeçar esta noite pois o instrutor, sendo golpeado, tudo tomará um rumo diferente, ou seja, as coisas seguirão um caminho no qual só seguirão os seus próprios interesses e como havia interesses individuais e particulares nesse tempo, era o tempo chave e como chave mestra é provável que os doze não estavam de comum acordo com o Cristo, a começar por Pedro, um dos doze e o primeiro a mentir para Cristo.
Na qualidade de humilde pescador ele já não era tão humilde assim, bem esperto disse: "ah senhor, ainda que todos tropecem eu nunca o negarei". Como já era tarde Jesus disse: "antes que o galo cante você me negará três vezes". E Pedro continuou a afirmar o seu falso sentimento: " Que nada, mesmo que eu tenha que morrer, vou contigo. De maneira nenhuma! E os outros, sem nada para justificar continuaram a repetir o que Pedro dissera, aliás, Pedro, na condição de humilde pescador, no meio da turma ele era o mais falante, os outros eram piores, calados, quietos, e, diante disso a tristeza de Jesus era tamanha que ele já não suportava ficar com eles.
Chamando Pedro que, pelo menos, falava alguma coisa, antes de ficar calado tentando manter a aparência, juntando mais dois de fora do grupo dos doze (filhos de Zebedeu) e sozinho orava constantemente, seu desejo era conseguir se livrar do momento que era chegado e enquanto orava nenhum discípulo ficou desperto, todos dormiram e esqueceram do companheiro Jesus.
E hoje, o que pensar diante disso? Todos abandonaram Jesus naquela hora, então, por que depois da sua morte apareceram todos para professar o seu nome? Até quando os inimigos de Jesus se aproximaram, os doze dormiam tranquilamente e nessa hora Judas já não fazia parte deles pois havia sido visto por Jesus entre uma multidão que vinha em sua direção com espadas e porretes da parte dos líderes religiosos e dos respeitados pelo povo.
Judas cumpriu o combinado, aproximou-se carinhosamente e como já era manhã, cumprimentou-o dizendo "bom dia mestre" e o beijou. Cristo foi entregue aos malfeitores e não houve sequer um dos que se diziam discípulos por perto; Pedro seguia bem de longe, os outros dez fugiram desesperadamente e Judas não tinha o que temer e nem porque fugir pois antes do beijo da traição Jesus ainda o chamou de amigo dizendo: por que estás presente? Diante dessa expressão de espontaneidade do Cristo Judas passou a acreditar que não o tinha condenado pois Jesus sabia que alguém precisava apresentá-lo e o único que teve coragem foi Judas que, apesar de ser considerado um traidor, fez o que tinha que ser feito. Tomou coragem e ainda levou vantagem sobre os poderosos. Judas, como qualquer um dos apóstolos, soube negociar, enquanto os outros eram covardes e falsos, Judas não escondeu a sua personalidade fazendo com que o Cristo passasse logo pelo seu martírio, enfim, colocou um ponto final naquela busca desesperada por Cristo. Judas sabia que o Cristo não devia nada aos poderosos daquela época mas acreditou que nada aconteceria a Jesus pois ele dizia que tudo que pedisse ao Pai lhe seria dado.
Diante da ambição de Judas ele ainda poderia crer que aquele homem se livrasse de tudo mas as expectativas deram para traz e Judas pode ver que Jesus foi mesmo preso e condenado, mesmo diante das oposições. Judas foi um homem de interesses e negócios, sua coragem o levou a acreditar que tudo aquilo daria em nada, entretanto, pode-se acreditar que Judas morreu enforcado mas não só por remorso, mas por saber que não havia quem detivesse os poderosos, ele acreditava que entregando o mestre acabaria com as potências porque o Cristo seria mais forte que todos e sendo ele - Cristo – mais forte, os poderosos perderiam a sua autoridade e se arrependeriam porque presenciaram aquele homem que fazia milagres até então só podia responder abreviadamente e havia muita confusão entre eles. É o Cristo! Não é o Cristo? sou o Cristo,tu o dizes! Dizia ele próprio, não afirmando com força total, e Judas sentiu-se desamparado e confuso e embora ainda lhe restasse o verdadeiro sentimento de arrepender-se por ter adquirido aquela soma de moedas de prata, a dor maior foi ver o homem, filho de Deus, não poder fazer nada por si mesmo. Angustiado, tentou até devolver o dinheiro que não mais existia para eles pois disseram: "isso é contigo", e Judas, não conseguindo devolver o dinheiro, jogou-o dentro do templo pois naquele momento julgou o seu caso sem solução, mas houve um profundo arrependimento e com as 30 (trinta) moedas de prata ele também não ficou, morreu enforcado aquele que seria o traidor, junto com a sua vítima. Judas poderia ser considerado um traidor implacável se usasse as trinta moedas de prata para satisfazer as suas ambições, entretanto, decretou a sua própria punição não ficando com o valor e assim decretou a sua própria sentença, a morte por enforcamento.
Judas era ambicioso, porém, acreditava naquilo que o Cristo podia realizar e diante dessa crença negociou o preço da entrega, porém, o sentimento de arrependimento foi a sua escala final.
Arrependimento, sinônimo de acerto, mudança,fazer diferente, mas foram duas vidas que tiveram os seus nomes na história; Judas levou o nome de traidor, morreu enforcado, cheio de remorso e pouca coisa se sabe sobre ele, a não ser o traidor, esquecido por todos, serve apenas para dar nome a alguém em quem não se confia. Não se sabe se foi céu ou inferno o seu fim, mesmo na qualidade de arrependido foi salvo? Eis a questão. A salvação é para todos.
Jesus, o Cristo, se tornou o salvador da humanidade através da sua morte, morte essa que teve o dedo de Judas, que foi um grande colaborador para muitos se salvarem pois se ele não ousasse trair o mestre, quem faria isso? Os doze eram covardes, não tinham ação, fugiram no momento e Judas, o traidor, não ficou para ver o final e tirar conclusões.
Os covardes fugiram e depois apresentaram suas cartas contando suas histórias e foram perdoados por Jesus, entretanto, todos que escreveram sobre a paixão e morte de Cristo se esqueceram de registrar que abandonaram o Cristo no momento da agonia, que todos foram covardes.
Judas tomou sobre si a culpa de traidor e não pode sequer contar a sua verdade.
Jesus é o rei da glória, Judas é o traidor;
Jesus é o salvador; Judas é o traidor;
Jesus voltará vestido de glória; Judas continua o traidor;
Jesus tem direito à glória esplêndida, Judas tem direito de ser traidor;
Judas se arrependeu e tem direito de expor esse arrependimento.
O que aconteceu com Judas? Salvação ou perdição?