Dário, meu saudoso andarilho!

Dário, meu saudoso andarilho!

(Theo Padilha)

“Como são tristes os dias,/no despontar da existência,/vivendo nessa luta nessa via permanente/Se ferro que é ferro gasta/Quanto mais o ser vivente!”

Suas poesias eram mais ou menos assim. Sua saúde era de ferro. Ele não pensava duas vezes. Quando o lugar começava a não lhe agradar, jogava seu surrado sobretudo negro às costas, passava a mão no seu pequeno baú, que continha os seus documentos e caía no trecho. Ele sabia ler muito bem. Disse que apanhava muito na escola. Sempre falava do seu feroz professor. Dizia que as aulas desse professor eram silenciosas. Só se ouvia na sala o barulho das penas riscando os cadernos. Numa onomatopéia silenciosa. A letra de Dário era uma caligrafia. Quando ia lançar uma palavra no papel ele ensaiava um ritual de gestos com a caneta sobre o papel, sem encostar a pena. Fumava muito. Era nervoso. Era professor nas fazendas. Foi professor de suas cunhadas e de minha mãe. Poeta repentista. Três por dois ele subia na mesa dos botequins para declamar suas poesias. De Vicente Celestino a Castro Alves. E até suas décimas como chamava suas rimas. Era muito aplaudido. Tomava cachaça, cantava, poetava e brigava também, apesar de sua pequena estatura. Não titubeava em meter a mão na cara de quem o afrontasse.

Dário costumava sair de São José da Boa Vista, cidade do norte velho do Paraná, onde nasceu. E com os seus amigos rumavam a cavalo até a cidade de Itararé, estado de São Paulo, cerca 100 quilômetros de sua cidade para assistir teatro. Em 1926. Já havia ali naquela cidade o famoso Teatro São Pedro. O Teatro ficava rodeado de cavalos que ali deixavam os seus excrementos. Conforme a peça os excrementos aumentavam ou diminuíam. Daí a origem da palavra “Merda”, atualmente muito usada entre os atores de teatro, como uma palavra que lhes passa energia positiva nas atuações de palco. “Muita merda para você, fulano!”

É gente. Dário deixou muita saudade. Hoje ele está enterrado num pequeno cemitério no patrimônio de Conselheiro Zacarias, município de Santo Antonio da Platina, onde viveu o final de sua vida na casa de sua filha Maria. Ele era muito religioso também, talvez o nosso Criador tenha lhe reservado um bom lugar.

Joaquim Távora, 25 de fevereiro de 2012. All the rights by Theo Padilha© Comunications

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 25/02/2012
Reeditado em 26/02/2012
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