Ninguem é de ninguem
Ninguém é de ninguém, esta é a frase que vem me marcando nesta nova etapa de minha vida, afinal como todos, também sou, ou melhor, também estou solteiro e uma das primeiras regras de estar solteiro é não estar nem aí, afinal não sou de ninguém, sou de todo mundo e todo mundo é meu também. Esta regra é simples e fácil, talvez por isso tenha tantos adeptos, sejam eles homens mulheres e afins, porém, ainda me questiono se depois de quatro meses estando solteiro, é realmente isso que rola entre todos os jovens (e os não tão jovens também), hoje em dia beijar na boca é tão fácil, que qualquer carioca consegue beijar todos os dias uma pessoa diferente, basta disposição e um pouquinho de dinheiro para freqüentar os HappyTimes do Rio, que apesar de toda violência, continuam cada vez mais freqüentados.
Outro ponto que me preocupa, e me faz ficar noites acordado, é que tenho a ligeira impressão de que nasci na época errada, afinal eu gosto de escrever, gosto de ler e de estudar, coisas pouco valorizadas hoje em dia, afinal, doutor tem dinheiro, e quem tem dinheiro é discriminalizado, pois dormimos de meia e somos todos burgueses, classe opressora, mas acima de tudo, eu gosto de romance, sim romance, não daqueles do Sidney Sheldon, e sim o romance real, o olhar nos olhos e sentir o coração apertar, sentir o rosto enrubescer, suar frio, suar nas palmas das mãos, de estar voltando para casa tarde da noite e não ver o tempo passar, de estar sentado na beira da praia até anoitecer e nem saber, de dar uma volta no parque de mãos dadas e não se importar com o mundo, bem são coisas simples, mas esta simplicidade é que faz do homem o que ele realmente é, ou seja, um inveterado romântico e sedutor, que busca nos olhos da pessoa amada uma razão para existir, e este sentimento anda cada vez mais escasso, cada vez mais sem sentido, cada vez mais sem nexo, eu até arriscaria dizer que está guardado em baixo da famosa Excalibur, a espada que só a pessoa escolhida tem o direito de erguer.
A vida é curta, o tempo é escasso e a cada dia que passa, fico mais incrédulo com o porquê da falta de compromisso de todos, afinal, hoje, ninguém é de ninguém. Quantas vezes já não nos deparamos pensando em como é chato ficar sozinho, olhar para os lados e não ver ninguém, dizem que o amor não se procura, o amor se acha, ou melhor o amor nos acha, enquanto isso, vamos brincando com os outros, sim brincando, afinal este é o lema de ser solteiro, brincar com os nossos sentimentos, que parecem estar cada vez mais distantes, mas o meu receio, depois de um tempo de “brincar”, é não encontrar mais estes sentimentos que já foram guardados a muito tempo, em algum lugar esquecido no tempo e no espaço e isto me preocupa, até porque brincar de não ter sentimentos é um jogo perigoso sujeito a danos irreparáveis.
Estive conversando com alguns amigos e por unanimidade me disseram que é assim mesmo, que tem mais é que sair, zoar, encher a cara, ir para boate e beijar todas as mulheres. Resumindo ninguém é de ninguém, só que tem um porém, mesmo que eu não seja de ninguém, ou que eu seja de todo mundo pois todo mundo é meu também, aos poucos de tanto me dividir, acabo ficando sem nada para min, até porque, de que me adianta essa vida vadia, se no final de nada me acrescentou? Tanto no namoro, como em qualquer relacionamento, seja ele amoroso ou de amizade, só vale a pena aquilo que se acrescenta, pois a união faz o açúcar e o fermento a paixão, só que ultimamente tudo que tem crescido nas pessoas é o descaso e a vontade de ficar vazio. Por essas e outras é que repito, estamos no mundo onde ninguém é de ninguém, já é tarde da noite e estou saindo pra a night , curtir zoar, ir pra uma boate e pegar umas gatinhas, afinal não sou de ninguém, sou de todo mundo e todo mundo é meu também.
Ilan Leibel Swartzman
2003