O TRIUNFO DA BARBÁRIE SOBRE A CIVILIZAÇÃO

Não me alisto no time do que profetizam uma era apocalíptica. Não creio que a humanidade regrediu e que a violência campeia em nossos dias mais do que em épocas remotas. Infelizmente, porém, o ser humano continua a cometer atos bárbaros. Felizmente, esse tipo de evento é tratado como selvageria, divulgado e repudiado por outros seres humanos. Nem sempre foi assim. Na Grécia antiga, os bebês que nasciam com alguma deformidade física eram atirados pelo penhasco. A própria Bíblia relata algumas práticas do povo hebreu aceitáveis para a época como apedrejamento de mulheres infiéis e de filhos desobedientes aos pais. Não convém aqui abordar a política adotada em países sob a égide islâmica. O modo de vida e a aplicação da lei na maioria dos países muçulmanos ainda estão em um passado, possível para nós graças a arqueologia e a à literatura.

Desde que os homens desceram das árvores e saíram das cavernas há uma marcha de desenvolvimento do que convencionamos chamar “civilidade”. Há que se seguir algumas regras para se viver o mínimo de decência. Por exemplo, não é aceitável sair por aí matando pessoas. Alguns pontos, no entanto, ainda não foram totalmente contaminados com o vírus da civilização.

O que nos faz questionar nossa evolução como civilização é o fato de ainda se matar por motivos que mereceriam apenas discussões filosóficas. Como por exemplo, matar alguém por ser corintiano. Matar alguém por ser homossexual. Matar alguém por ser presbiteriano. Matar alguém por ser negro. Matar alguém por ser filiado ao PCdoB. Não concebo a tese de se combater uma ideia com a força de uma pistola. Não tolero o fato de que um casal homossexual deva ser eliminado da casta paisagem urbana por andar de mãos dadas. Não consegui ainda entender o motivo que um negro precisa ser abatido por causa da cor da sua pele. E nem, tampouco, porque alguém que reza em uma cartilha sagrada diferente da minha precisa ser eliminado.

Mas o ato de disparar um gatilho ou empunhar uma faca contra um semelhante não tão semelhante não é algo isolado. É a ação insana. Ela brota de uma forma de pensar retrógada, primitiva, paleolítica. É o triunfo da intolerância sobre a convivência. É o triunfo da barbárie sobre a civilização. É claro que há algumas leis que, em tese, protegem cidadãos minoritários contra a ação nefasta dos majoritários. Há leis também que são coniventes com a selvageria e segregação. O pastor e revolucionário norte-americano Martin Luther King afirmou certa vez que a lei não obrigada ninguém a amá-lo, sendo negro. Mas a lei o livraria de ser linchado. Infelizmente, o cajado da lei não é suficiente para impor limites a todos os sanguinários. Mas como o citado pastor pronunciara em um célebre discurso, eu também tenho um sonho. O quase impossível sonho de que um dia um homem não irá impor sua espada sobre outro homem por motivos banais como a diferença entre o deus a quem se ajoelha ou a cor da camisa do time que queremos vencedor.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 24/02/2012
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