78 – 13:25 h

Anúncio: em breve

(2.º anúncio em francês)

Chegaremos a ...

(ainda não percebi), mas é a última paragem antes de Amesterdão.

Vamos ver o que diz a placa da estação.

13:28: Pára.

Onde está o nome?

SCHIPHOL

Não atinei. O Homem do comboio escreveu o nome aqui neste caderno e acrescentou em inglês: é o aeroporto de Amesterdão.

Apita. Um minuto apenas.

Volta a arrancar. Não entraram novos passageiros.

Oiço alguém cuja voz me parece uma galinha a cacarejar sem tirar nem por.

Mas não é, é uma pessoa com voz de galinha.

Vou tentar encontrar lugar sentado. Apesar de Amesterdão ficar a menos de ¼ de hora daqui.

Tem alguém aqui sentado? A rapariga que antes estivera sentada no bar, aqui ao lado, e desaparecera, afinal, viera sentar-se aqui.

Sento-me. Ela lê e eu escrevo isso.

Não sabe o que escrevo nem adivinha que escrevo sobre ela nem eu sei o que ela lê.

Nem interessa.

Estamos mesmo, mesmo a chegar a Amesterdão. O comboio segue paralelo à auto-estrada. Sem esforço ultrapassa os carros.

Nem uma elevação. Tudo, tudo plano.

Ela: eu sei, sem o expressar, nem sequer preciso olhar para o lado, está curiosa.

E vai continuar porque não lhe direi nada. Nem lhe dirigirei palavra.

Pelo canto do olho vejo, sei que ela também viu que eu olhei, um desenho no livro dela.

O comboio abranda, os carros na auto-estrada começam a ultrapassá-lo.

Estamos mesmo, mesmo, mesmo a chegar a Amesterdão.

Holanda

21 de Julho de 2010

Mário Moura

Mário Moura
Enviado por Mário Moura em 22/02/2012
Código do texto: T3512835
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