Refexões a bordo de um navio (1)



Passei minha viagem de navio lendo Clarice Lispector, que foi a minha mais constante companheira de viagem. Em minha agenda, anotei pequenos trechos de seu livro de crônicas, A descoberta do mundo. Certamente essas anotações foram destacadas porque me fizeram refletir sobre algum tema e eu vou acabar escrevendo sobre elas  por  algum tempo.

Lendo As três experiências, uma pequena frase, meio que truncada, chamou a minha atenção. É que não sei estudar. Foi sobre ela que pensei em certo entardecer, debruçada na mureta da popa, vendo o rastro deixado pelo navio em movimento nas águas. Agora vou tentar reproduzir o que pensei, porque na hora só pensei, não escrevi.

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         Nem eu. Nunca soube, mas tenho o gosto por aprender. Por isso bato palmas quando aprendo alguma coisa. De pé, pois quando aprendo não desaprendo. Se desaprender é sinal de que na verdade, não aprendi. Falso alarme e as palmas foram vãs.  Não chego ao pranto, mas fico triste.

Aprender não é unicamente fruto do estudo, embora esse seja um caminho, o mais seguro para quem quer passar no vestibular. Eu não preciso mais passar em vestibulares, mas continuo querendo aprender, para viver. Tem gente que pensa que depois de certa idade não precisa aprender mais nada. Mas quem garante que a vida acaba aqui e nós não estamos só no começo, acumulando conhecimentos para as próximas etapas?

Aprender faz parte de uma equação mais complicada que eu não saberia traduzir em fórmula matemática. Inclui tudo em potência elevadíssima. Não basta ser ao quadrado, ou ao cubo. Vai além, muito além. Ler, ler, ler, até perder de vista o que foi lido com prazer. E observar, com todos os sentidos, muito além do sexto. E viver. E então, esteja lá onde estiver, mesmo em uma banheira, sair correndo e gritando Eureka!  Os mais modernos dirão que tiveram um insight. Eu tive muitos insighs na vida quando freqüentava a Fundação Logosófica, onde eu pouco estudava,mas muito ouvia, lia e observava. E aí, sem precisar de lanterna nenhuma, a escuridão se fazia LUZ. Quando isso me acontecia agarrava o conhecimento e ele passava a ser meu. Ninguém seria capaz de tomá-lo de mim porque agora era parte de minha essência. Parte integral.

Foi assim, quando descobri que o Espírito e a Alma são coisas completamente diferentes. Não foi assim, de cara. Eu até pensava: Que coisa mais boba! Mas um dia eu achava assim e de repente, ficou tudo tão claro para mim que pude aceitar esse ensinamento como se fosse uma afirmativa com uma lógica claríssima. E era pelo menos para mim. E continua sendo embora nem tudo que é lógico possa também ser transmissível porque o conhecimento vem de dentro, não de fora.


Alma é aquilo que anima. Que dá vida à matéria. Seguindo esse raciocínio concluí que todo ser que vive tem alma. Os animais têm alma, pela própria lógica da palavra – anima, o que anima. Animal. Mas homens e animais não são iguais, são bem diferentes. O homem tem algo mais que o animal – algo que o fez ser feito a semelhança do seu Criador. Pois isso algumas religiões não negam, que o homem foi feito a imagem e semelhança de Deus. Ora, não passa pela cabeça de ninguém que Deus se pareça com qualquer um de nós, seres imperfeitos – somos nós que nos parecemos com Ele, em sua essência. É o Espírito de cada um de nós, partícula que considero como fragmento de um Todo, que é a parte Dele que está em nós. Essa parte que tem como objetivo de toda a sua vida integrar-se novamente ao Todo, através do apuro de sua semelhança, a evolução. E mais não vou escrever porque não tenho a intenção de convencer ninguém. Embora possa.