70 - Por Que Razão?
Por que será que à mínima hesitação em francês, os franceses com quem falo falam logo comigo em inglês? Logo!
Fico fulo e já disse a uma meia dúzia deles que aqui só falo francês. Em Inglaterra, inglês, mas aqui tenho o prazer de falar em francês.
Estudei aqui, leio francês, entendo francês, como não pratico todos os dias, às vezes, hesito, o que não significa que prefira o inglês ao francês.
Aconteceu com a moça do Thalys, parece francesa de gema, no sotaque e na aparência, voltou a acontecer quando pedi um café, com um homem de aspecto oriental já entrado na idade.
Se a minha pátria é a língua portuguesa (Fernando Pessoa dixit desta ou de outra maneira), se os franceses são tão ciosos, e bem, da sua identidade, por que razão, então, à mínima hesitação usam a língua da concorrência?
Da concorrência?
Sim, porque como toda a gente sabe, o inglês tem vindo a substituir em tudo e por toda a parte o francês.
Isto do francês falar à mínima hesitação com o turista em inglês, não será o reconhecimento de que o francês já perdeu a corrida?
Eu bem gostaria que não fosse.
Adoro a língua de Moliére como adoro a língua de Shakespeare como adoro a de Camões, e nada me faria mais triste do que ver uma das três subjugar as outras duas.
A minha pátria é a minha língua.
No caso, as três, mas em primeiro lugar, a minha, e, no mesmo plano, a de Monsieur Moliére e a de Mr. Shakespeare.
Paris
Gare du Nord
21 de Julho de 2010
Mário Moura