Conexão Madrid
Voltei a Lisboa, em Dezembro último, depois de uma longa viagem pela Ibéria com escala em Madrid. Por falar nisso, não posso deixar de referir a sensação estranha que experimentei nessa conexão em Espanha...como se fosse um rato em busca do meu queijo, através do grande labirinto que é esse aeroporto. Um rato correndo com as suas malas, contornando os seus obstáculos...cada vez mais perto, mas achando que o seu "pedaço prometido" era afinal, algo de incomensurável, distante e inalcançável. Finalmente e com o tempo cronometrado já vencido, a chegada ao portão de embarque, onde me aguardava um avião já fechado e pronto para descolar...Precisei pedir quase por amor de Deus para ser recebido a bordo. Dentro do avião, esperava-me uma tripulação fria e cansada...e um grupo enorme de pessoas com um ar pesado e indiferente. Olharam para mim com um ar enfastiado... Não tive dúvidas que estava no voo certo, com destino a Lisboa...Como cheguei por último, deram-me um lugar junto à janela, sem ninguém ao meu lado. Respirei fundo e acomodei-me no meu assento, feliz da vida. Afinal, agora era só aguardar 1 hora e estaria voltando à minha terra...O avião ainda cheirava a novo, detectei eu facilmente, já que na minha outra viagem tinha experimentado uma aeronave velha, sucateada e sem espaço para esticar as pernas. Um verdadeiro calhambeque dos céus...Se não fosse a vontade enorme de chegar ao meu destino, acho que teria usado o meu pára-quedas de emergência e teria saltado...Quem me conhece bem, sabe que eu tenho um medo horroroso de alturas e que abomino andar de avião. Sou o tipo de pessoa que não descansa em viagem e mantém os olhos sempre abertos, à procura de detalhes...Uma agonia necessária e indisfarçável. Quando comecei a sobrevoar Lisboa, o meu cérebro começou a desligar-se da viagem, do avião, das pessoas e das más condições do percurso...Pouco a pouco, voltei a me sentir aquele visitante que ansiava por retornar à sua terra natal, depois de 15 anos de longa ausência. Sentado na minha poltrona, senti uma lágrima correr pela minha face, à medida que as imagens da minha Lisboa iam desfilando lá em baixo...outras se seguiram...O que era isso, comparado com os precalços da minha longa viagem? Essa era a realidade que eu tanto tinha aguardado. Agarrei esse momento com todas as minhas forças, limpei os olhos e preparei-me para o desembarque...