Visita a Lisboa
Voltei a Lisboa 15 anos depois. A primeira sensação foi a do reconhecimento duma cidade, patrimônio da minha memória recente, com a mesma cor, cheiro, recorte e pessoas que transitavam apressadas com um ar um pouco sorumbático. Afinal, tinha-me habituado a um perfil mais animado e desprendido, próprio dos climas tropicais. Assim é o Brasil e a cidade onde moro hoje. A velha Lisboa continuava a ser para mim aquela que respira história, cheia de monumentos belíssimos e bastante poética junto ao seu Tejo. De uma beleza invulgar. Ao chegar, a minha vontade de a precorrer a pé foi imensa. Ainda bastante cansado da viagem, não resisti ao apelo de um passeio pela velha Baixa Pombalina. Pelo Chiado, Rua Augusta, Terreiro do Paço e Rossio, como nos bons velhos tempos. Era quase Natal e as lojas fervilhavam coloridas e cheias de pessoas. Muitos turistas saboreando as relíquias da nossa terra. A tentação dos bolos, servidos nas pastelarias antigas de Lisboa e os restaurantes típicos, com iguarias medievais de dar água na boca. O meu cansaço tinha-me abandonado por completo. Os meus sentidos estavam agora inundados por um doce aroma familiar, como há muito tempo não acontecia. A minha cidade tinha-me acolhido como a um filho que volta para casa depois de uma longa viagem. Sem me perguntar porquê. Apenas abrindo os braços, num gesto carregado de conforto e afeição, que não esquecerei tão cedo. Muita coisa tinha mudado, sem dúvida; muitas novas construções e outras tantas demolições. Andar a pé por essas ruas e avenidas, foi para mim saborear um velho fruto conhecido que tinha amadurecido várias vezes, sem nunca perder a sua essência. Encontrei algumas diferenças quase chocantes, como por exemplo velhas lojas que tinham fechado, restaurantes desaparecidos, a Praça do Rossio tomada por uma população de refugiados. A região outrora nobre da parte alta da cidade, quase abandonada e em puro declínio. Quem não se lembra dos prédios da famosa Avenida de Roma, hoje tomados pela população de menor recurso econômico. E também presenciei a maravilha criada junto ao Rio Tejo que é a Estação Oriente, com a sua riquíssima infraestrutura residencial e de lazer. Bem como a sua congénere junto à Ponte 25 de Abril, com as suas marinas coloridas e docas transformadas. A impressão com que fiquei, foi a de uma Lisboa em profunda transformação, mas mantendo todo o seu charme e glamour. Para mim, esta foi sem dúvida a mais valiosa e aguardada prenda de Natal que recebera nos últimos tempos. Irei recordá-la por muito tempo, procurando viver muitos outros natais assim...