Sobre o livro "O velho e o mar"
Estes tempos eu estava relendo o clássico de Ernest Hemingway e depois de uma conversa com algumas pessoas pensei no quanto ele se assemelha com a nossa caminhada individual rumo ao aprimoramento. Mas não estou falando das conquistas mundanas e sim do crescimento pessoal.
“O velho e o mar” fala disso. Trata daquelas experiências que enfrentamos sem que ninguém testemunhe. Somos só nós mesmos, o silêncio do nosso íntimo com o céu e a natureza como cenário e o mar dos nossos conflitos. E é aí, quando já nos consideramos pescadores relativamente experientes ou “homens velhos”, que aparece um peixe-espada como nunca tínhamos visto em toda a nossa vida. Para piorar, o peixe é maior que o nosso pequeno barco, aquele mundinho que consideramos seguro.
Interessante notar que o velho do livro, ao deparar-se com o peixe gigantesco, já está há um bom tempo sem conseguir pescar nada. É como se exatamente nas épocas que nos são menos favoráveis, vêm as grandes experiências como que para nos arrastar de vez para o fundo do mar.
E exatamente como o protagonista do livro, travamos nossa longa batalha solitária contra o peixe-espada e depois de tanto sofrimento, uns tantos machucados que deixam sempre cicatrizes na alma, vamos arrastando a grande experiência pelo mar para mostrar aos outros que fomos capazes. No trajeto até a costa, os tubarões nos atacam para devorar o peixe que vai preso ao barco e após mais uma peleja, chegamos à praia somente com a cabeça dele como troféu. De toda a nossa terrível batalha sobra uma amostra bem pequena para que as outras pessoas saibam. Elas nos olham com um olhar espantado, mas nunca poderão conceber a exata dimensão de tudo que passamos em nosso íntimo, que é o lugar onde as grandes coisas da vida acontecem.
É por isso que não sou muito afeita a pessoas que fazem cena. Francamente, está cheio de gente por aí que diante de um mínimo acontecimento pessoal faz um teatro monumental. Comparando com o livro, seria montar um grande espetáculo por ter pescado uma sardinha.
Ninguém nunca vai saber das batalhas que travamos sozinhos.
Outro dia eu participava de uma conversa e realmente não lembro com quem. Sei que falavam de grandes perdas. Quando eu me arrisquei a dar uma opinião, alguém disse: Ah! Mas você está sempre sorrindo, não sabe o que é perder alguém na vida ou sofrer realmente.
Juro que fiquei chocada com aquela afirmação, pois já passei por experiências drásticas. Talvez na opinião dessa pessoa eu devesse viver reclamando e lamentando.
Foi exatamente nesta ocasião que o livro de Ernest Hemingway me veio à lembrança, pois contra o meu gigantesco peixe espada eu lutei sozinha, no mar aberto da minha alma, sem que ninguém visse, enquanto para as pessoas à minha volta eu sorria como se tudo fosse igual à sempre. Foi aí que percebi que as pescarias de certas sardinhas alheias são sempre gloriosas, pois vêm acompanhadas de grande alarde.
Concluí então que as pessoas deveriam guardar suas energias e deixar de fazer teatro por conta de problemas menores, pois o encontro de cada um de nós com o grande peixe-espada será longe dos olhos de todos e à deriva.
"Possa eu estar no barco do capitão que, contando com o navio da compaixão, retira todos os seres, vastos como o espaço, do mau oceano da existência" (Thubten Tülku).
Estes tempos eu estava relendo o clássico de Ernest Hemingway e depois de uma conversa com algumas pessoas pensei no quanto ele se assemelha com a nossa caminhada individual rumo ao aprimoramento. Mas não estou falando das conquistas mundanas e sim do crescimento pessoal.
“O velho e o mar” fala disso. Trata daquelas experiências que enfrentamos sem que ninguém testemunhe. Somos só nós mesmos, o silêncio do nosso íntimo com o céu e a natureza como cenário e o mar dos nossos conflitos. E é aí, quando já nos consideramos pescadores relativamente experientes ou “homens velhos”, que aparece um peixe-espada como nunca tínhamos visto em toda a nossa vida. Para piorar, o peixe é maior que o nosso pequeno barco, aquele mundinho que consideramos seguro.
Interessante notar que o velho do livro, ao deparar-se com o peixe gigantesco, já está há um bom tempo sem conseguir pescar nada. É como se exatamente nas épocas que nos são menos favoráveis, vêm as grandes experiências como que para nos arrastar de vez para o fundo do mar.
E exatamente como o protagonista do livro, travamos nossa longa batalha solitária contra o peixe-espada e depois de tanto sofrimento, uns tantos machucados que deixam sempre cicatrizes na alma, vamos arrastando a grande experiência pelo mar para mostrar aos outros que fomos capazes. No trajeto até a costa, os tubarões nos atacam para devorar o peixe que vai preso ao barco e após mais uma peleja, chegamos à praia somente com a cabeça dele como troféu. De toda a nossa terrível batalha sobra uma amostra bem pequena para que as outras pessoas saibam. Elas nos olham com um olhar espantado, mas nunca poderão conceber a exata dimensão de tudo que passamos em nosso íntimo, que é o lugar onde as grandes coisas da vida acontecem.
É por isso que não sou muito afeita a pessoas que fazem cena. Francamente, está cheio de gente por aí que diante de um mínimo acontecimento pessoal faz um teatro monumental. Comparando com o livro, seria montar um grande espetáculo por ter pescado uma sardinha.
Ninguém nunca vai saber das batalhas que travamos sozinhos.
Outro dia eu participava de uma conversa e realmente não lembro com quem. Sei que falavam de grandes perdas. Quando eu me arrisquei a dar uma opinião, alguém disse: Ah! Mas você está sempre sorrindo, não sabe o que é perder alguém na vida ou sofrer realmente.
Juro que fiquei chocada com aquela afirmação, pois já passei por experiências drásticas. Talvez na opinião dessa pessoa eu devesse viver reclamando e lamentando.
Foi exatamente nesta ocasião que o livro de Ernest Hemingway me veio à lembrança, pois contra o meu gigantesco peixe espada eu lutei sozinha, no mar aberto da minha alma, sem que ninguém visse, enquanto para as pessoas à minha volta eu sorria como se tudo fosse igual à sempre. Foi aí que percebi que as pescarias de certas sardinhas alheias são sempre gloriosas, pois vêm acompanhadas de grande alarde.
Concluí então que as pessoas deveriam guardar suas energias e deixar de fazer teatro por conta de problemas menores, pois o encontro de cada um de nós com o grande peixe-espada será longe dos olhos de todos e à deriva.
"Possa eu estar no barco do capitão que, contando com o navio da compaixão, retira todos os seres, vastos como o espaço, do mau oceano da existência" (Thubten Tülku).